segunda-feira, 12 de março de 2018

Crônica: Dia de Mulheres


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A Oficina de Escrita desta semana nos deixou como dever de casa uma poesia, um conto, um poema ou qualquer outra escrita, desde que falasse da Mulher. Fiquei com tal “dever” na cabeça. Eu não sei fazer poesias, apenas me atrevo. Assim como me atreverei a escrever este texto sobre o meu dia de hoje, que antecede o 8 de Março.

domingo, 4 de março de 2018

Crônica: “Three billboard (outside) / Ebbing (Missouri / EUA)


                      




Resultado de imagem para fotos filme tres anuncios para um crime


Embora eu goste muito de ir ao cinema, não sou uma cinéfila. Às vezes me envergonho por não conhecer diretores, produtores, atores e por ai afora. Certamente sempre fui assistir os filmes que me foram recomendados ou fui aleatoriamente e tive a sorte de ver bons filmes. E, nos últimos tempos tenho escolhido filmes dos diretores que aprendi a admirar como Tarantino, Martin Scorsese, Spielberg, Coppola, outros e nossos Walter Salles com seu belíssimo filme “Diários de Motocicleta” e Fernando Meirelles com “O Jardineiro Fiel”

E ontem fui ao cinema com uma amiga amante da sétima arte.

Desorientada como sou, entrei no recinto a deixar cair troco, documentos, óculos e sem saber o nome do filme. Mas logo que iniciou a cena nas montanhas do Missouri me senti em casa com o belo romance de Noah Gordon, “A escolha de Dra Cole”, e da minhas montanhas de Minas Gerais. A cena inicial com uma mulher num daqueles carros americanos enormes, sem quaisquer maquiagens rejuvenescedoras, dirigindo por uma estrada entre o verde das montanhas já nos deixa atentos com o que virá.

A trama logo se faz conhecida pelo desespero da mãe em encontrar o assassino da filha. Percebendo que a polícia não estava dando a devido atenção ao caso, ela decide entrar em ação e coloca uma pequena frase em cada um dos três outdoors encontrados na estrada por onde ela circulava.

O resultado de seu ato logo vai sendo sentindo pela população da pacata cidade e é exatamente esta “mexida” nas pessoas que torna o filme tão interessante. Um policial jovem, corpo sarado, autoritário e beligerante fica ainda mais cruel em suas atitudes quando a mãe procura a polícia exigindo apuração e punição devida para o criminoso que abusou do corpo da filha mesmo após estar sem vida e totalmente queimado.

O ex marido vai até a casa onde vivem sua ex esposa e o filho adolescente acompanhado da nova namorada, de vinte anos, e culpa a mãe pelo crime. De forma muito hostil faz-lhe lembrar a truculência com a qual tratava a filha. O filho, que sempre assistia tais agressões entre os pais e entre a mãe e a irmã, fica perplexo e se isola no seu quarto como sempre fez. É visível sua solidão e desamparo.

O responsável pelas investigações e diretor de polícia está com câncer e tenta, ainda, ser um policial respeitado e sensato.

A não desistência da mãe para encontrar e fazer justiça em nome da filha a coloca em situações perigosas. Ela arrisca sua própria vida para tentar salvar sua filha já morta.

A trama vai se desenrolando nesta procura incansável por aquele que matou e abusou da filha adolescente.

Em dado momento surgem atitudes inesperadas e surpreendentes. Cartas são enviadas e fazem as pessoas mudarem seus tons agressivos sem se darem conta do que está havendo.

O policial bonitinho, galã e hostil após ler a carta que lhe foi enviada percebe o lugar de onde viera e muda o rumo de suas destemperanças. Mas não sem muito sofrimento.

A mãe também recebe uma das cartas. Ela respira fundo e consegue esboçar um sorriso de alívio.

Angústia, culpa, tristeza, ódio, inibição, desespero e tantos outros, são os sentimentos que enlaçam os personagens durante quase duas horas de um belo filme. E estes são os sentimentos que o diretor conseguiu que atravessassem a tela e viesse até nós.

Agradeço a amiga que me arrebanhou a pé até o cinema.

Concluo relatando que apenas na saída fui conferir no cartaz o nome do filme que acabara de ver: “Três anúncios para um crime”.

E nesta noite de Oscar o referido filme concorre em sete categorias. Lamentando não ter visto outros concorrentes, votei neste. E fiquei conhecendo mais um diretor que acompanharei: Martin McDonagh.

Agora é só esperar.
 


04/03/2018








“Abaixe a bola”

Pôr Do Sol Navio Silhueta Sol Verão Mar Ho






Ela voltou. Nem pensou na reviravolta que faria em sua vida. Simplesmente empacotou suas louças, panelas e livros. Arrumou um caminhão e mudou. Nem ajeitou o coração. Faria o que lhe fosse necessário para acomodar os destemperos que por ventura aparecessem. 

A decisão viera depois de vários anos pensando nele. Um amor deixado num canto. Agora largou metade da sua vida na cidade distante e rumou de volta à sua rua. Filhos crescidos e desmamados. Sobrou apenas ela e suas lembranças.

Lá se foi a mulher madura com jeito de adolescente viver de novo sua infância. Não sabia se estava feliz ou infeliz. Mas sentiu uma tranquilidade escandalosa. Abriu sua casa aos vizinhos, aos parentes e aos novos amigos.
Esperou que ele aparecesse por ali. Outros vieram. Ela nem deu bola. Continuava esperando pelo homem que amou a cada dia de sua vida.  

Os meses passaram numa velocidade cruel. Ficou em roda de familiares, festas de Natal e réveillon. Logo o ano novo chegou. Então resolveu escrever uma carta como nos tempos antigos. Foi aos Correios e deixou lá um pedaço de si. Esperou. Na semana seguinte a resposta. Duas pequenas frases. Encantou-se com as palavras e nem percebeu que elas nada diziam. Palavras vazias.

Chegou final de janeiro com noites mal dormidas. O calor, os pensamentos, a desordem na casa eram as desculpas para aquilo que não conseguia ver. Apenas seu corpo falava por ela. Passou a bordar. Passou a pintar. Até foi para a cozinha e fez variadas gulodices. Começou a fazer longas caminhadas. Encontrou trabalho voluntário numa ONG, tarefa impensável até então. À noite muitos cafés. Na verdade não queria dormir. Achava que perderia o resto de vida que ainda tinha pela frente.

Mas, numa manhã, acordou mais inquieta que nos demais dias. Algo aconteceu na sua cabeça. De repente sentiu uma forte dor no peito. Olhou em torno e viu que tudo havia descolorido. Então certificou-se que não estava enfartando. Eram outras as suas fortes dores. Compreendeu que seu coração sentiu a pontada de realidade que sua razão negava mostrar-lhe. Tivera um sonho naquela noite. Agora tudo ficou claro como se um raio partisse ao meio sua vida já pela metade.

-“Abaixe a bola!” 

Estas foram as únicas palavras que ouviu no sonho.  

E, mais uma vez, Clara não sabia o que fazer para impedir que a bola caísse de vez.


03/02/2018