Nesta manhã ainda na cama, vejo enviada por nossa amiga de outros tempos, sua foto
estampada num convite onde você fará uma palestra neste Natal. Nada do assunto me trouxe
desejo de ouvir tal conferência. Entretanto a possibilidade de ver você me
deixou em dúvida. Neste momento em que, tão perto e tão distante, nos encontramos nós.
Como em todos os anos, a proximidade do natal, me traz uma
saudade imensa do tão pouco que vivemos e do tanto que deixamos de viver. Digo-lhe que, tanto
no amor quanto noutros sentimentos, nossas lembranças não situam num tempo
cronológico mas se dispõem no aqui e agora. E nossas escolhas foram tais que
nos deixaram à mercê de nós outros. Eu, tão só, infantilidade e desejo. Você, tão só, razão e
defesa. Um encontro impossível.
Não irei assistir a sua palestra. Irei ver você. Afugentar seu
espirito e afoguear sua carne. E, antes que terminem suas palavras, sairei “à
francesa”. Sei que minh'alma ficará estraçalhada e sei também que, embora fique impassível a minha presença, não deixará de me olhar. Pouparei você
disto? Ainda não sei. Sei que você buscou um deus misericordioso para abrigar
as angústias de suas contradições. Suas epifanias certamente são resultados
daquilo que não lhe convém.
Ah! Quanto amor guardado! Quantas palavras por dizer!
Quantos gestos por fazer!
E você estará na cidade ainda nesta semana.
Vou ou não vou?
Ah! Dúvida atroz!
Vou ou não vou?
Ah! Dúvida atroz!
Certamente você não virá para “destruir a lei”. Afinal você
vive ao abrigo desta lei para não se haver com seus quereres. Confortável sua
posição. Queria ver você sem a imposição de suas leis. Pois assim sempre eu estive.
Lafaiete,
19 de dezembro de 2017
Nenhum comentário:
Postar um comentário