segunda-feira, 27 de novembro de 2023

Crônica: Nossa viagem a Queenstown

                                


E chegou o dia da nossa viagem turística à bela cidade de Queenstown, na região de Otago, Ilha Sul da Nova Zelândia. Mochilas arrumadas, garrafinhas de água, blusas, luvas e cachecóis, caso fizessem frio e aquele vento cortante na carne, muita animação e ansiedade. Faltaram os deliciosos lanches, feitos por meu filho e minha nora, que comemos durante a primeira viagem e que foram nossos almoços.


Dani, minha nora, já tinha providenciado todas as diversões e comprado os bilhetes que incluiam nossos almoços no alto do penhasco. Tudo que, até então, eu não sabia do que se tratava. Havia filas para entrarmos na estação das gôndolas. Fiquei perplexa diante da altura da montanha bem na orla do Lake Whakatipu, no centro da cidade.

Na primeira vez que viemos já havia visto aquelas gaiolas pequenas subindo o penhasco junto à montanha. Fiquei reparando a inclinação dos cabos de aço que sustentam as mesmas e, na minha abstração da geometria espacial, pensei que deveriam estar a menos de 20 graus em relação à montanha, quase na vertical, perpendicular ao centro da Terra como me ensinou minha nora, arquiteta. Confesso que aquilo não chamou minha atenção. “Umas gaiolinhas subindo o penhasco” desdenhei eu. Mas eu não teria coragem de entrar dentro daquilo de jeito algum.

No trajeto, mais uma vez, fui namorando as ovelhas e brincando com meu neto: “Dudu, me ajuda a contar quantos carneirinhos tem na beira da estrada. Estou no número oito mil setecentos e quarenta e cinco”. Mas ele nem fez caso das minhas contas.

Deixei-me surpreender, como se fosse a primeira vez, ao depararmos na estrada com o encontro do lago e as montanhas à nossa frente. Lembrei-me do grande poeta Mário Quintana ao interrogar: “Que haverá com a lua que sempre que a gente olha é com o súbito espanto da primeira vez?”.

Fiquei imaginando quão pequeninos somos diante de toda a grandiosidade da natureza que aqui, na Nova Zelândia, sempre aparece escancarada sob nossos olhares.

Chegamos e, como meu filho já havia avisado, teríamos que andar um “tanto bom”, pois ele deixaria o carro numa área verde que permitia quatro horas de estacionamento pago.

Para começar meu desvario com toda aquela beleza, tivemos que atravessar um parque cheio de famílias passeando com suas crianças. E o sol, naquele dia, nos presenteou com seu brilho. Nada de chuvas nem ventos.

Chegamos às ruas da cidade em direção às gaiolas. E qual não foi mais uma surpresa ao chegar à estação das gôndolas, a Skyline Queenstown. Enormes gaiolas de vidro subindo os quatrocentos e cinquenta metros de altura até um gigantesco complexo de aventuras lá no alto da montanha. Lojas de souvenires, o “Stratos Fare”, restaurante com buffet internacional, pista de parapentes, pistas com curvas em “S” para carrinhos de rolimã descendo numa parte da montanha.

Um sobe e desce de centenas de pessoas vindas de vários lugares da ilha e do mundo. Muitas rampas, elevadores, escadas, caminhos na montanha e, lá embaixo, o majestoso lago encantava-nos a todos.

- “Eu não vou descer neste carrinho de jeito algum!” Fui logo avisandoEra eu e meu medo de perder o controle, escapulir numa curva e voar pelo penhasco até o fundo do lago. "E se lá do fundo emergisse o gigantesco dragão que estaria apenas dormindo?"

- “Vai, vó. Não tem perigo, eu também vou”, era meu neto me animando àquela extravagância.

Mas eu via todos os perigos do mundo. Nunca tive experiências em carrinhos de rolimã na minha infância e, agora com sessenta e seis anos, ia lá descer num carrinho de rolimã, de plástico, montanha abaixo?

Enfim na fila, depois de não ter volta, segui adiante!

Após as instruções dos jovens, em inglês, com sinais e demonstrações nos “volantes”, lá fui eu. Os carrinhos saíam em pares. Fui com meu filho e meu neto foi com a mãe dele.

Dirigi tal e qual o Lewis Hamilton.

-“Quero descer de novo!” Foi minha resposta à pergunta do meu filho sobre se eu havia gostado. Só não voltei porque não aguentei percorrer a pé a rampa até pegarmos cadeiras com cabos de aço que subiriam de volta ao início da pista com os carrinhos de rolimã pendurados atrás. Dudu e Dani voltaram para descer outras vezes. Ele se esbaldou nas curvas e nos freios depois da primeira descida.

A partir daquela hora voltei para descansar numa das salas do restaurante e, enquanto aguardava, fiquei fotografando os corajosos turistas saltando de parapentes, bem ao meu lado, por sobre o penhasco.

Fim de tarde. Extasiada por tantas aventuras, tantas caminhadas e por tantas exuberâncias, voltamos por entre os jardins, margeando o lago até onde deixamos o carro.

Fim de passeio e a volta para casa na rodovia margeando o Lago Whakatipu.

Eis que, de repente, meu filho pára o carro e volta na estrada. "Muito estranhos essa mão inglesa e o volante à direita no carro", pensava. Voltou uns cem metros e estacionou o carro num pequeno descampado à margem da rodovia.

Estávamos bem próximos ao lago. Descemos poucos metros e fomos conferir a temperatura da água. Então vimos um belo riacho descendo da montanha e desaguando ali no lago. Nesta hora, meus olhos de mineira nascida às margens do Rio Xopotó, também desaguaram.

Meu filho e meu neto brincaram de atirar pedras sobre a superfície do lago para verem o fenômeno delas repicando na água. Dudu não resistiu e colocou seus pés na água gelada.

Hora de retomarmos a estrada que nos aguardava cheia dos carneirinhos por todo o trajeto. Mas “acho que alguns deles já deveriam estar dormindo”.


Queenstown, Sua Majestade, a Vila da Rainha.

Fim de viagem.

22/10/2023


Observação: por favor, assinem os comentários para eu saber quem são vocês. Obrigada

Fotografias: arquivo pessoal


Nós  na beirada do riacho desaguando no lago




Dani, Dudu e Francisco brincando






                                                      Eu na varanda do restaurante


                                  Meu filho e Dudu
 



quarta-feira, 1 de novembro de 2023

Crônica: Viagem necessária e deslumbrante pela Ilha Sul de Nova Zelândia


Queenstown e o Lago Whakatipu

A primeira viagem àquela cidade se deu por outros motivos que não aqule desejado por meu filho e minha nora. Nem por isto foi menos impactante conhecer desde a rodovia até aquele pedaço de chão provavelmente desenhado pelos deuses do olimpo.

Os primeiros cem quilômetros foram semelhantes aos já conhecidos pelas campinas verdejantes com milhares de ovelhas espalhadas por eles. Mas, logo depois começaram a aparecer montanhas, suaves curvas, pequenas aclives e, não mais que de repente, após uma curva, meus olhos miraram num mundão de água e, bem ao alto, as montanhas nevadas. Meu filho, argumentando que seria melhor viajar no banco de trás devido às intensas dores lombálgicas, me colocou na banco dianteiro, então pude ter essa visão privilegiada bem à minha frente. Meus olhos, nesse instante, já umedecidos pela emoção, corriam das águas azuis à minha esquerda às montanhas nevadas por todos os lados.

Tratá-se do Lake Wakatipu, na língua Māori que, conforme contou minha nora, tem a forma de um "S" e, segundo uma lenda maori ele, teria sido um dragão que lutou e foi morto por um grande guerreiro Māori. O lago tem 81 quilômetros de comprimento, sendo o mais longo da Nova Zelândia e tem 289 Km² de extensão. Suas águas são de uma tonalidade azul incomparável. As neves descendo pelas montanhas foi outro espetáculo indescritível. Obviamente que fiquei estupefata com a beleza de toda a região. Por todo o restante do percurso a estrada vai margeando o lago e quase tocando nele em alguns pontos e curvas.

Meus olhos, que ainda não haviam se acostumado com tanta beleza, depararam mais adiante com a cidade de Queenstown que fica às margens do lago na Ilha Sul da Nova Zelândia com os alpes nevados ao fundo. Conhecida por seus esportes de aventura, seus vinhedos e suas belezas naturais, ela atrai turistas do mundo inteiro. Nunca havia imaginado uma cidade tão bela no país embora uma "sobrinha torta" que morou por aqui tivesse me dito que “Queenstown é a cidade que mais gosto de lá”, porém não me advertiu sobre suas belezas.

Mas, como nossa ida se deu por motivos outros, logo minha nora, a motorista, localizou a casa da doutora especialista em medicina oriental, com excelentes referências. A casa, um chalé azul claro encrustado na montanha, com muitas janelas de vidro, foi logo encontrada na avenida por onde se chegava à cidade.

Exames com meu filho de cueca, apalpações, perguntas e logo foi detectado o ponto de tantas dores. Acupuntura com as terríveis agulhas, massagens pesadas, infiltração de analgésicos (seria vitamina B12 com corticoídes?) e técnicas de relaxamento foram aplicadas. Ali eu era tão só a mãe do doente. Aproveitei e fiquei observando todo o espaço. A mim pareceu mais a casa de uma mulher velha, portadora de grande sabedoria e que teria vivido na idade média. Havia muitos livros em chinês, mapas de inervações em corpos humanos, utensílios da cultura chinesa, decorações orientais, tapetes, poltronas, incensos, e muito funcho plantado aos arredores da casa.

Prescreveu mastigação de funcho, medicamentos fitoterápicos com bulas em chinês, respondeu a todas as perguntas (em inglês) do meu netinho que estava angustiado com as dores do pai, autorizou que eu fotografasse alguns locais da casa, sendo extremamente simpática com todos nós. Mais tarde saberíamos que tal especialista havia sido também formada em medicina ocidental e fora cirurgiã ortopédica.

Meu filho, aliviado com o tratamento de urgência recebido, ainda quis passear um pouco pela cidade encantada. Modernos parques infantis na beirada do lago, flores por todos os lados, ventos frios soprando do lago, patos nadando e pescando seus jantares. Eu queria uma coxinha bem brasileira, disse brincando para meu filho. “Então vamos ali” disse ele e caminhamos por uma rua próxima quando deparei com uma portinha de vidro. Entramos e fizemos o pedido. Arriscamos sentar do lado de fora. Foi então que vi a decoração. Pregados na parede estavam Frida Kalo, Che Guevara, cantores e danças caribenhas, e tudo que se relaciona ao Caribe. Estava explicada a simpatia do atendimento. E eu nunca havia comido uma coxinha tão grande, crocante e deliciosa. A seguir passeamos pela orla do lago, entramos e saímos de áreas de jardim, árvores enormes e estruturas maoris.

Voltamos para casa no final da tarde. Eu extasiada com tanta beleza e com a promessa do meu filho e da minha nora de que voltaríamos para fazermos turismo.

Na próxima crônica contarei sobre a volta a Queenstown e nossas aventuras num carrinho de rolimã montanha abaixo.


Observação: por favor, assinem os comentários para eu saber quem são vocês. Obrigada

Fotografias: arquivo pessoal




                                                   Eu e a vista do lago da casa da doutora


                                                                  


                                                Dudu escalando uma árvore nas areisa da praia do lago






Bar caribenho





                                                 Primeira vista do lado e das montanhas




                                Visão de uma nuvem gigantesca quase encostando nas montanhas



                                         Escultura em madeira na casa da acupunturista





                                                    Escultura maori nos jardins da cidade