E chegou o dia da nossa viagem turística à bela cidade de Queenstown, na região de Otago, Ilha Sul da Nova Zelândia. Mochilas arrumadas, garrafinhas de água, blusas, luvas e cachecóis, caso fizessem frio e aquele vento cortante na carne, muita animação e ansiedade. Faltaram os deliciosos lanches, feitos por meu filho e minha nora, que comemos durante a primeira viagem e que foram nossos almoços.
Dani, minha nora, já tinha providenciado todas as diversões e comprado os bilhetes que incluiam nossos almoços no alto do penhasco. Tudo que, até então, eu não sabia do que se tratava. Havia filas para entrarmos na estação das gôndolas. Fiquei perplexa diante da altura da montanha bem na orla do Lake Whakatipu, no centro da cidade.
Na primeira vez que viemos já havia visto aquelas gaiolas pequenas subindo o penhasco junto à montanha. Fiquei reparando a inclinação dos cabos de aço que sustentam as mesmas e, na minha abstração da geometria espacial, pensei que deveriam estar a menos de 20 graus em relação à montanha, quase na vertical, perpendicular ao centro da Terra como me ensinou minha nora, arquiteta. Confesso que aquilo não chamou minha atenção. “Umas gaiolinhas subindo o penhasco” desdenhei eu. Mas eu não teria coragem de entrar dentro daquilo de jeito algum.
No trajeto, mais uma vez, fui namorando as ovelhas e brincando com meu neto: “Dudu, me ajuda a contar quantos carneirinhos tem na beira da estrada. Estou no número oito mil setecentos e quarenta e cinco”. Mas ele nem fez caso das minhas contas.
Deixei-me surpreender, como se fosse a primeira vez, ao depararmos na estrada com o encontro do lago e as montanhas à nossa frente. Lembrei-me do grande poeta Mário Quintana ao interrogar: “Que haverá com a lua que sempre que a gente olha é com o súbito espanto da primeira vez?”.
Fiquei imaginando quão pequeninos somos diante de toda a grandiosidade da natureza que aqui, na Nova Zelândia, sempre aparece escancarada sob nossos olhares.
Chegamos e, como meu filho já havia avisado, teríamos que andar um “tanto bom”, pois ele deixaria o carro numa área verde que permitia quatro horas de estacionamento pago.
Para começar meu desvario com toda aquela beleza, tivemos que atravessar um parque cheio de famílias passeando com suas crianças. E o sol, naquele dia, nos presenteou com seu brilho. Nada de chuvas nem ventos.
Chegamos às ruas da cidade em direção às gaiolas. E qual não foi mais uma surpresa ao chegar à estação das gôndolas, a Skyline Queenstown. Enormes gaiolas de vidro subindo os quatrocentos e cinquenta metros de altura até um gigantesco complexo de aventuras lá no alto da montanha. Lojas de souvenires, o “Stratos Fare”, restaurante com buffet internacional, pista de parapentes, pistas com curvas em “S” para carrinhos de rolimã descendo numa parte da montanha.
Um sobe e desce de centenas de pessoas vindas de vários lugares da ilha e do mundo. Muitas rampas, elevadores, escadas, caminhos na montanha e, lá embaixo, o majestoso lago encantava-nos a todos.
- “Eu não vou descer neste carrinho de jeito algum!” Fui logo avisando. Era eu e meu medo de perder o controle, escapulir numa curva e voar pelo penhasco até o fundo do lago. "E se lá do fundo emergisse o gigantesco dragão que estaria apenas dormindo?"
- “Vai, vó. Não tem perigo, eu também vou”, era meu neto me animando àquela extravagância.
Mas eu via todos os perigos do mundo. Nunca tive experiências em carrinhos de rolimã na minha infância e, agora com sessenta e seis anos, ia lá descer num carrinho de rolimã, de plástico, montanha abaixo?
Enfim na fila, depois de não ter volta, segui adiante!
Após as instruções dos jovens, em inglês, com sinais e demonstrações nos “volantes”, lá fui eu. Os carrinhos saíam em pares. Fui com meu filho e meu neto foi com a mãe dele.
Dirigi tal e qual o Lewis Hamilton.
-“Quero descer de novo!” Foi minha resposta à pergunta do meu filho sobre se eu havia gostado. Só não voltei porque não aguentei percorrer a pé a rampa até pegarmos cadeiras com cabos de aço que subiriam de volta ao início da pista com os carrinhos de rolimã pendurados atrás. Dudu e Dani voltaram para descer outras vezes. Ele se esbaldou nas curvas e nos freios depois da primeira descida.
A partir daquela hora voltei para descansar numa das salas do restaurante e, enquanto aguardava, fiquei fotografando os corajosos turistas saltando de parapentes, bem ao meu lado, por sobre o penhasco.
Fim de tarde. Extasiada por tantas aventuras, tantas caminhadas e por tantas exuberâncias, voltamos por entre os jardins, margeando o lago até onde deixamos o carro.
Fim de passeio e a volta para casa na rodovia margeando o Lago Whakatipu.
Eis que, de repente, meu filho pára o carro e volta na estrada. "Muito estranhos essa mão inglesa e o volante à direita no carro", pensava. Voltou uns cem metros e estacionou o carro num pequeno descampado à margem da rodovia.
Estávamos bem próximos ao lago. Descemos poucos metros e fomos conferir a temperatura da água. Então vimos um belo riacho descendo da montanha e desaguando ali no lago. Nesta hora, meus olhos de mineira nascida às margens do Rio Xopotó, também desaguaram.
Meu filho e meu neto brincaram de atirar pedras sobre a superfície do lago para verem o fenômeno delas repicando na água. Dudu não resistiu e colocou seus pés na água gelada.
Hora de retomarmos a estrada que nos aguardava cheia dos carneirinhos por todo o trajeto. Mas “acho que alguns deles já deveriam estar dormindo”.
Queenstown, Sua Majestade, a Vila da Rainha.
Fim de viagem.
22/10/2023
Observação: por favor, assinem os comentários para eu saber quem são vocês. Obrigada
Fotografias: arquivo pessoal
Dani, Dudu e Francisco brincando
Meu filho e Dudu