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quinta-feira, 21 de agosto de 2025

Crônica: Ilustres visitantes

                           



- Mãe, tem uns parentes seus lá fora...


Era manhãzinha de um dia de semana qualquer.

Logo soube que ela estaria brincando comigo. Não tenho parentes por essas bandas de cá. Mesmo assim caminhei em direção à porta de vidro. Lá estavam eles a nos perscrutar. Dois jacus. Tentei fotografá-los. Nestes tempos de seca tenho colocado água para os pássaros que aparecem por aqui e preocupado com a alimentação deles. Tudo muito seco e arrasado.

Ficamos quietas a admirá-los.

Logo a seguir, da mesa do café da manhã, vejo dois tucanos assanhando para o derradeiro cacho de banana dos demais que não vingaram.

-Ah não! Essa banana é para nós.

Acho que eles ouviram minha voz e voaram dali para perto do galinheiro onde, nesta semana, havia colocado duas franguinhas. “Vixemaria, eles vão arrebentar a tela e comer as franguinhas” foi o que pensei. Mas eles voaram para outras freguesias. E meu coração doeu pela fuga. Deviam estar com fome.

- Mãe, olha ali!

Dois pássaros bicudos que me fizeram lembrar o carcará. E do carcará fui lembrar o meu neto do outro lado do mundo.

- Vó, quando eu for aí vou ficar só dentro da piscina, viu!

Claro que ouvi. E ficarei com ele o tempo todo, mesmo que me escaldando dentro d’água.

Por algum tempo ainda fiquei à mesa do café. Pensava o tanto que gosto de morar aqui. Uma casa construída no depois. Em volta ipês, angicos, um mogno cuja muda me foi vendida como cedro. Eu queria ter um cedro no meu quintal. 

Quando criança, viajando para minha terra natal em seus noventa e dois quilômetros de estrada de terra, lembro-me do meu pai ou do nosso tio padre. Havia o temido trecho do cedro. Pavor dos motoristas. Ele ficava no alto de uma serra e, quando chovia, nenhum carro conseguia vencer aquela distância. Algumas vezes uma junta de bois dos fazendeiros próximos vinha puxar o carro do atoleiro no lamaçal. Lá embaixo havia uma casinha de tijolos. Minha irmã passou a chama-la de “a casa do pé-de-moleque”. Nem a casa pé-de-moleque, nem o cedro existem mais senão dentro das minhas lembranças. Reconstruíam a estrada, tiraram o morro acidentado e asfaltaram tudo. Hoje, quando raramente passo por ali, as batidas do meu coração ainda soam saudosas dos barulhos provocados pelos bois com suas cangas salvadoras.

Penso que somos construídos das lembranças de nós crianças. Sou construída de águas, de terras coloridas, das palavras ouvidas, de olhares atravessados, dos sabores das frutas e das quitandas, dos afetos dos familiares e de tantas outras vivências.

Mas, voltando para meu dia de visitas, já no final da tarde escuto sons estridentes. Um chamado. Outro chamado. Um casal de seriemas que passeiam pela estrada, fora do meu quintal. Posso sentir a paixão entre elas. Não se desgrudam. Danam a gritar se uma sai do campo da visão da outra.

Outro dia vi pequenas aves que pareciam pequeninas galinhas. Assim que me viram se esconderam às margens da estradinha do meu bairro. O piado não me era desconhecido, mas havia esquecido o nome delas. Saracuras. Minha vizinha me lembrou.

Se, por um lado alguns vizinhos e eu respeitamos esses pássaros que convivem conosco neste maravilhoso pedacinho de terra, por outro lado diariamente vejo, estarrecida, fumaças de folhas e ou lixos sendo queimados aos arredores por outros vizinhos.

Ontem, enquanto estava sentada à frente da tela do computador, senti que estava sendo observada. Olhei pela janela e lá estava ela, toda charmosa sobre o muro. Uma seriema. Por ali ficou acompanhando meus passos dentro de casa. Convidei-a me ajudar na cozinha. Ela caminhou sobre o muro mantendo sua elegância e, daí a pouco, começou a gritar. De algum lugar na vizinhança ouvimos a resposta ao seu chamado, certamente do seu amor.

Fiquei pensando no meu privilégio de morar bem junto à natureza e já, quase totalmente,  me integrada a ele.

Funil.

20/08/2025

                                               



                               Siriema

                                                         Outro jacu entre as folhas


                        Siriema desfilando e me acompanhando.


Observação: caso queriam fazer algum comentário, por favor, identifique-se após o mesmo.

terça-feira, 12 de agosto de 2025

Crônica: Meu Pai


"Aroeira de mato virgem não alisa" - João Guimarães Rosa


Meu pai

Resistente a ventos fortes, resiliente, saudável, elegante em sua presença marcante.

Assim foi meu pai: uma aroeira de sertão.

A sorte decidiu seu destino. Livrar -se do magistério na UFMG em BH ou a face da moeda, se Juiz de Fora ou Pirapora? Deu Pirapora!

Pra ser feliz basta ser bom, sua máxima, ao acolher refugiados do regime nazista em nossa pequena cidade.

O escritor francês George Bernanos com seu premiado filme "Sob o sol de Satã" (sobre a luta entre o bem e o mal).

Também o acadêmico alemão Hugo Vitor Hutter, meu primeiro professor de pintura, que nos impunha modelos de castelos e cenas da Alemanha.Até eu dizer basta e começar a pintar cenas bem brasileiras.

Na fazenda sempre o amor pela natureza. O canto da saracura, a orquestra dos sapos Martelo a coaxar como a batida de um tambor.

No pasto, os bois mansos com olhos de perdão recebiam nomes poéticos: Neblina, Diadorim, Tango, Cadeado e o garrote Figurão.

Éramos quatro filhas, suas Três Marias, estrelas da constelação de Órion, e a caçula, sua estrela Dalva.

Junto ao consultório de dentista, ele se trancava para revelar as radiografias num porãozinho escuro. Após seu toc toc eu então abria a portinha. Medo de faltar oxigênio e meu pai morrer... Era o único raio X da cidade, usado sem proteção.Teria isso silenciado sua voz sedutora de locutor da Rádio Mineira e os trechos de ópera que cantava lindamente?

Enérgico, você podava nossas asas, para mais tarde ampliar nossos vôos libertários.

Papai, como foi bom, e ainda é, ser sua filha.


Autoria: Maria Silvia Vargas Boaventura, minha colega da turma da Oficina de Escrita Criativa da OAP (Organizaçao dos Aposentados e Pensionistas  da UFMG) ministrada pelo poeta e escritor mineiro, Ronald Claver. Também não posso e não quero  deixar de dizer que tratá-se de uma  escritora muito sensível, artista plástica e por quem tenho grande admiração. 
A ela agradeço a gentileza de permitir que publicasse esse rico depoimento.

Palavras de Maria Silvia: "Sobre mim? Gosto de escrever, pintar e modelar a argila, tentando ser eu mesma. Sinto saudades do amor. Do Gerais de Pirapora para o asfalto de BH, aprendiz de outros ofícios."



            Desenho feito por Maria Silvia com pastel seco




                                                         

                                     Pais da Maria Silvia
 








                                                       Franz Marc (pintura)



                                                     Árvore aroeira




                                           Cartão Postal do Morro da Garça





Pinhas em cerâmica (trabalho de Maria Silvia)




                              


segunda-feira, 4 de agosto de 2025

Poema: Encantamento

 




Às vezes me pego, terrivelmente, fascinada

O sujeito desejado - do outro lado -

nada sabe dos meus atrevimentos



Às vezes me pego, terrivelmente, fora do ritmo

É nesse descompasso que me encontro agora,

- Deveras apaixonada -



Talvez seja por isso que nunca soube amar,

nem dançar

Sempre descompassada;

atrasada demais,

na frente demais.

Assim desritmada


Ainda hei de entrar no tempo certo

Sair dançando

Então seremos dois

- amando-nos -



03/08/2025






 






quinta-feira, 31 de julho de 2025

Crônica: A dona da casa




Nunca soube cuidar da minha casa. Hoje foi mais um dia de desatino. O frio me convidou para ficar debaixo dos cobertores. Fatos raros. Aqui não me lembro de ter usado tantos cobertores. Nem me lembro de ter ficado debaixo deles depois das seis horas da manhã. Mas hoje fiquei, e sob três deles. Que me espere o que tenho que fazer na casa.

Quando, na adolescência, minha mãe dividiu as tarefas da nossa casa, pude escolher a lavação das roupas. Nessa época já tínhamos, sobre o tanque de cimento, uma cobertura nos livrando do sol e das chuvas, mas nem tanto. Minha mãe me ensinava como lavar as roupas e fui adaptando com meus modos. Criei uma fórmula infalível para as roupas brancas que eu deixava de molho dentro de uma enorme bacia de cobre. Seria a mesma onde tomávamos banho anos atrás?

Mais tarde, nas repúblicas de estudantes em Juiz de Fora, também dividia os serviços entre nós, moradoras. Confesso que apaguei esse tempo da minha cabeça. Apenas resíduos na memória nada agradáveis de lembrar.

Na universidade enchia meu tempo na leitura de livros; muitos livros. Foi nessa época que conheci os tais livros-bolso e lia até dois ou três por dia. Acho que foi a maneira que encontrei para não ter que me haver com a minha solidão em meio a tantos estudantes e tantos livros técnicos. Penso que foi assim que fiquei perdida na imaginação. Eu só sonhava.

Depois veio outro tempo. Belo Horizonte me recebeu de braços abertos. Ainda posso sentir meu encantamento quando o ônibus saiu da Avenida Amazonas, entrou na Rua Tamoios e vi o prédio da Telemig logo à minha direita. Outra lembrança que me vem sempre foi a topada que dei defronte o prédio da Minas Caixa, nossa caixa econômica, na praça Afonso Arinos, de onde nascem as avenidas João Pinheiro e Augusto de Lima. Ainda posso me lembrar do enorme painel sobre a parede no gigantesco hall da Minas Caixa. (Só hoje fiquei sabendo tratar-se de uma obra do professor, pintor, ilustrador, “Álvaro Apocalypse” conforme me disse outra artista plástica, minha colega da poesia, Maria José Boaventura, ex-aluna dele.)

Minhas retinas fixaram aquelas imagens como se fossem  belas fotos de Sebastião Salgado. Era então o ano de 1980. Fui apanhada, sem piedade, pelo amor à cidade.

Em Belo Horizonte morei aqui e ali, com destino incerto. Era tão só eu, meus livros e minha história. Por conta disso, mais tarde um cunhado iria me chamar de cigana.

Um trabalho em Betim e o nascimento do primeiro filho me levaram de B.H. Ainda de costas para as tarefas da casa. Foi o tempo da maternidade e do início da minha profissão. Havia terminado minha residência em Psiquiatria no local onde desejei. Precisava trabalhar. Em Betim, mais uma vez, a casa foi ficando de lado. Gostava das roupas limpas e cheirosas, da cozinha e do banheiro cheirosos também. Então, chegou Marta, uma menina dos cabelos louros, da pele clara e dos olhos verdes enviesados. Veio do interior para morar comigo. Minha segunda filha havia nascido. Marta cuidou dela com extremo cuidado e dedicação. Mudamos novamente de casa. Agora uma casa ampla no centro da cidade. Foi só ali que me dediquei a deixar minha casa do meu gosto. Foi ali também que nasceu minha terceira filha.

Quem diria que eu construiria uma casa dos meus sonhos? Pois construí. Durou o tempo dos cinco anos da terceira filha. Marta havia se casado e outras auxiliares foram sendo necessárias. Algumas foram extremistas nos cuidados da casa e outras nos cuidados com meu filho e minhas filhas. Uma separação me levou para um apartamento no melhor local da cidade. Ali nos reconstruímos, eu e três filhos. Fiz um bazar para vender o que não cabia no apartamento. Arrecadei um pouco de dinheiro que ajudou nas despesas da mudança e desfiz de peças a mais.

Jamais esqueci o sentimento de liberdade quando percebi que todos os espaços do guarda-roupa eram meus. O sol invadia os quartos e nos trazia energias suficientes para enfrentar novos tempos. E novos tempos viriam. E novas casas viriam também.

Atualmente vivo entre montanhas de nossas Minas Gerais. Vivo na casa que construí no depois. Depois dos filhos. Depois da aposentadoria. Depois dos amores. Agora recebo visitas; faço deliciosos bolos; cuido das flores e contemplo o crescimento de novas árvores frutíferas. Lavo roupas. Leio bons livros e escrevo. E continuo bastante embaraçada nos cuidados da casa.

Com certeza jamais fui dona de casa. Com certeza tenho sido tão apenas dona da casa.

31/07/2025


Quadros, comprados numa feira, pintados por pessoas portadoras de doença mental


                                         Manacá da serra, muda florindo pela primeira vez.


Tamareira, plantada em julho de 2022. Dará frutos em depois de 40 anos.


                                                                          Minhas flores

                    "O luxo do lixo", pintado por um grande artista, também portador de doença mental.

Aqui, bacia em pedra sabão, os passarinhos bebem água e fazem fila para tomarem banho.


                   Cogumelo, feito de papel e cimento, entre mudas de podocarpo.


                                    Buganvilias alaranjadas, minha preferida.



Fotografias: arquivo pessoal

Observação: caso queira fazer algum comentário, por favor, coloque seu nome no final. 

sábado, 26 de julho de 2025

Poesia: Do palco à palavra





Que manhã de sábado linda, depois da chuva.

Folga na irrigação!

A dona do jardim fica com tempo livre pra mais um poema.

Ela se senta pra escrever e entende que o poema já está: 

é a vida.


Funil, manhã de 26/07/2025

Autoria: Anderson Aníbal (meu grande amigo)

                      


Fotografias: cedidas por Anderson Aníbal

terça-feira, 22 de julho de 2025

Agradecimento: Festa das letras

 



Ontem foi dia de festa.


Em dias assim meu coração dispara ainda mais. Sempre acabo perdendo o rumo e as palavras voam de mim. Mas ontem, aquelas que seriam minhas palavras, estavam soltas pelo salão. As palavras já não eram apenas minhas, eram "nossas palavras”. Nossas palavras que foram povoar nosso livro.

“te dou minha palavra” é nosso livro. Somos vinte e quatro alunas e alunos da Oficina de Escrita Criativa da OAP-UFMG que, com muitas palavras, agradecemos e homenageamos nosso mestre das palavras, Ronald Claver. Foi uma tarde como há muito não me via. Entre colegas, editor, organizadores e convidados, nossas palavras circularam e dançaram pelo refinado salão da AEA-MG (Associação dos Empregados Aposentados da Caixa Ecônomica Federal) que, gentilmente nos cedeu o espaço . Um café com pães de queijo e geleias de frutas de Barbacena só fez aumentar o paladar de nossas palavras. Roupas elegantes desfilaram carregando nossas palavras. Abraços calorosos acolheram nossas histórias. Sorrisos e fotos deram o tom do nosso livro desfolhando em letras.

Ronald Claver , “te dou minha palavra”: tudo tem valido a pena.

Muito obrigada.

22/07/2025


                                   Ronald, esposa e filho e comissão organizadora do livro

                                              
                                                   Dra Gislene Valadares e eu

                                           
                                       Luiz Claudio, lafaetenes, poeta e sambista

                                

                                Na mesa com outas escritoras
                             

domingo, 20 de julho de 2025

Poesia: Meu primeiro amor

                       



Foi assim

Nascido fortalecido

depois de um não

Ele chegou, 

olhos tímidos.

Com palavras raras me ganhou

Mãos dadas pelas estradas

Em noites de amor

suas mãos tateavam meu corpo

- pele de seda - dizia

Numa noite não voltou mais


Meu primeiro amor

Ainda vive dentro de mim

Fora de mim, por desvario,

Outros amores secundaram

...



Madrugada 17/07/2025

segunda-feira, 14 de julho de 2025

Crônica: Julho, uma avalanche de emoções

                                    


Mesmo antes de Julho começar vou me lembrando dos vários aniversariantes do mês, e eles são muitos, incluindo eu, é claro. Amo o inverno e ainda mais meu mês e signo.

No dia 10 é o dia do aniversário da minha tia e madrinha Teté, dona de mãos de fada com as rosquinhas trançadas feitas com leite e sal amoníaco, mãos de fada com as artes dos bordados e com as costuras finas (vestidos de noivas maravilhosos).

E neste dia 10 de julho meu coração apresentou o melhor desempenho dinâmico diante de tudo que ele viveu e sofreu:

- Pressão arterial, ECG, Holter, exame de esforços físicos (função cardiorrespiratória), tudo perfeito - meu cardiologista certamente ficará surpreso e orgulhoso diante de tais resultados.

Pois bem, não foi sem motivos para que isto se acontecesse. Na noite do dia 9, dormi estarrecida com a notícia acerca do documento enviado por aquele homem do topete louro esquisito, empossado presidente dos EUA. O “documento” enviado - postado em sua rede social? – ao presidente Lula desconcertou os sites progressistas e os jornalistas de esquerda que acompanho diariamente. O “tarifaço”, cobrança de 50% sobre os produtos brasileiros exportados àquele país, mexeu com os ânimos de todos nós que amamos nosso país e nossas riquezas.

As redes sociais inflamaram seus discursos de apoio ao nosso presidente e ao nosso país. Logo ficou claro que tal “tarifaço” não passava de uma afronta à soberania nacional, uma chantagem travestida de diplomacia dirigida aos nossos poderes instituídos. Bem assim, “ou o Brasil anistia o ex-presidente que não era coveiro nem nada juntamente com todo seu gado preso pelo ataque à nossa democracia no dia 8 de janeiro, ou pagarão 50% de suas exportações”.

A manifestação marcada para o dia 10 de julho em favor da taxação dos mais ricos fazendo justiça social e contra a jornada de trabalho 6x1, insuflou ainda mais. Um tiro no pé do clã Bolsonaro. O filho 01, Eduardo, vivendo lá naquele império decaído, lá nas trevas do Tio Sam, vem traindo sua pátria, fazendo fofoquinhas baratas contra nossa gente e nosso presidente. Vale lembrar que o dito filho ainda está deputado federal no congresso brasileiro.

“O presidente dos EUA que vai para os quintos dos infernos” bradou nosso combativo Ivan Valente.

Nossa gente de São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Salvador, Fortaleza e tantas outras cidades brasileiras deram o tom pela soberania nacional.

E muitas emoções tomaram conta do meu coração.

Não bastasse isso, logo cedo, uma foto enviada por um vizinho colocou meu coração à prova novamente. Era a foto do meu projeto de uma bibliotecazinha comunitária instalada em seu ponto comercial. Ali entre maravilhosos móveis rústicos criados e executados por suas mãos, e a de seus ajudantes, entre lindos objetos de decoração em madeira e entre um charmoso Café, as margens da MG 040, que a os livros foram colocados. São livros que venho buscando aqui e acolá para estarem à disposição de quem assim o desejar. Podem ser levados e trazidos de volta ou podem ser trocados por outros ou levados e ficarem com quem quiser.

Este projeto surgiu há dois anos, logo depois que voltei da minha viagem à Nova Zelândia, quando fiquei entusiasmada com a possibilidade de implantar pequenas bibliotecas comunitárias na cidade onde moro conforme vi espalhadas por lá. Aquela que não foi uma viagem turística senão a viagem de uma avó saudosa do netinho que mudou para lá.

Assim que voltei coloquei mãos a obra e busquei parceiros e doações de livros. Minha casa encheu-se de caixas de livros. Os amigos acolherem minha ideia. Enquanto procurava local para ser instalada, enchia meu carro de livros e saía distribuindo-os pelas praças, Unidades Básicas de Saúde, pontos de ônibus, etc, aqui em Mário Campos, com a ajuda do colega do Pilates.

E o local para receber minha casinha de livros estava bem perto de mim. Um vizinho, fazedor de belos móveis, cheio de ideias e cheio de ideais, bem a frente de seu tempo, acolheu a bibliotecazinha. A filha e o filho ajudando e desenhando flores nos entornos da casinha.

Ainda não consegui vê-la. Estou poupando meu coração. Daqui a pouco irei lá.

Alguém quer ir lá comigo? Alguém quer doar um ou mais livros para nossa biblioTequinha?

Precisamos botar nossos blocos na rua, distribuir nossos versos pelos ares, colocar nossos poetas e escritores nas mãos de nossa gente. Quem sabe assim aprendemos mais ainda sobre o fato de que nossa soberania não será leiloada, não será trocada por anistia a usurpadores das nossas leis, nem será ultrajada. Nosso Brasil é muito maior do que eles pensam.

E fui lá hoje. A casinha cheia de livros está bem defronte aos olhos dos fregueses e passantes. Espero que alguns deles abram suas portinhas e aventurem na leitura de um deles.

Finalizando, convido vocês a conhecerem a loja dos Móveis Rústicos, o Café Amanhecer na Roça II e a nossa pequenina casinha dos livros. Se quiser traga um livro para doar e leve outro e viaje com as histórias e faça muitos voos nas palavras.

Abraços contagiantes.

13/07/2025


Agradecimentos:

Denis que, com seu carro, circulava comigo pelas ruas da cidade distribuindo livros e sorrisos.

Luiz Claudio, escritor e poeta de Belo Horizonte, que nos doou mais de cem livros. (Há quase dois anos)

Luíz Antônio da Silva, grande pedreiro, marceneiro, eletricista, mecânico, artista das mãos. Foi ele quem fez a casinha da nossa biblioTequinha.

Neuza Lima, Rosângela, Leni da Matta, Raquel Perini, colegas e escritoras, junto comigo na Oficina de Escrita Criativa do OAP/UFMG, doadoras de livros.

Elias Mariano, moveleiro, proprietário do espaço cedido para colocação da casinha dos livros.

Luana e Leandro, filhos do Elias, que me ajudaram na pintura e arrumação da casinha.

Fabrício e Diana do gostoso espaço Amanhecer da Roça II onde está instalada a casinha de livros. 

Etc, etc.

A todos vocês nosso Muito obrigada.

13/07/2025

Observação: caso queiram fazer algum comentário, coloque seu nome no final do mesmo. Ok?



                                             

                                  








Ipê florido, Pça da Estação, B.H.

                                          Ato dia 10 de julho, Pça da estação, B.H.

                                             Colegas médicos, ato 10 de julho, B.H.

quarta-feira, 9 de julho de 2025

Microconto - Carretas

 

Carretas


Nos caminhos de casa

Elas são as maiorais, em número e tamanhos.

Carregam as montanhas de Minas

09/07/2025

Crônica: Não




Resolvendo problemas do seu cotidiano, nada tranquilo, ela se perde em pensamentos das decisões que precisam ser tomadas e que vem adiando nas últimas semanas. Tal atitude procrastinatória deixa-lhe aflita uma vez que sabe da importância em dar um fim no que permitiu começar. Reconhece também quantos dissabores teve na vida pelo fato de jamais ter aprendido ou conseguido dizer Não. Agora se encontra em mais uma cilada que a vida lhe apresenta ou que buscou para si. Precisa e quer dizer Não a um convite.

Ele, um antigo namorado, que ela considerava charmoso, inteligente, gentil, amante de Guimarães Rosa de quem declamava, com risadas contagiantes, longos trechos de seus “causos” e dono de tantos outras singularidades. Fora ele quem lhe trouxera de volta as canções de Xangai, de Vital Farias, de Elomar e outros cancioneiros raízes. Mais ainda, um contemplador da natureza e das estrelas.

Entretanto não foram apenas flores aqueles amores. Havia também sutis espinhos. Delicados espinhos que a feriram e deixaram com cicatrizes no corpo e na alma. A relação desgastou, agoniou e morreu devagarinho. De tudo sobrou o carinho e a admiração mútua.

Recentemente o destino pregou uma peça nos namorados de outrora. A doença de um reaproximou os dois. Ela deu asas para abriga-lo de suas dores. Nem percebeu que estava sendo enlaçada. Um dia um espinho rasgou sua pele. Assustou. Acordou. Dali em diante teve certeza de que era hora de aterrissar daquele voo, caso contrário cairia em queda livre.

E agora? Como desenlaçar de uma relação onde ela mesma jogara a corda?

Então se lembrou do caso de uma amiga, bem parecido com o seu. O enamorado, destemperado, percebendo que estava sendo descartado, fora até o trabalho da amiga e, bem em meio aos seus colegas, começou a dizer desaforos e a desfeiteá-la. Várias ofensas foram proferidas. Toda a equipe assistiu ao espetáculo. Ao relatar o acontecido, a amiga falou de sua dificuldade, ou seja, jamais conseguia terminar um relacionamento ou mesmo contrapor uma ideia desbaratada com suas próprias.

Dulce Maria precisava e queria por um fim nas expectativas do mocinho da terceira idade, mas sem perder o carinho e a admiração que um sentia pelo outro. Ou, pensava, seu medo seria apenas o enfrentamento? Por outro lado, jamais esqueceu o alívio sentido quando conseguiu botar fim num casamento cuja relação abusiva vinha se arrastando.

Nos últimos tempos embrenhou por uma viagem imaginária de volta aos relacionamentos afetivos. Descobriu que não foram poucos e que, de cada um deles, trouxe um tanto de belas recordações. Não lembra como passou ilesa nos finais. De uma coisa teve certeza: fora ela, sempre, quem escolheu seus parceiros. Agora uma dúvida tem surgido no avançar dos tempos: teria sido escolhida por algum deles? Avalia que não deve ter dado quaisquer chances para algum que, por ventura, tivesse se apaixonado por ela. Simplesmente não percebia o desejo do outro. Bastava o seu.

Dulce Maria continua se apaixonando e fazendo escolhas, apesar da eterna dificuldade em dizer Não.

07/07/2025

Fotografia: escultura de um tropeiro dos rincões das Minas Gerais (Casa da Cultura, Betim, M.G.). Arquivo pessoal

Observação: Por favor, caso queiram fazer algum comentário, coloquem seu nome após o mesmo.

sexta-feira, 20 de junho de 2025

Poesia: Leugim

                                       

Ele estava lá
Desolado
Solitário
Esfarrapado
Descabelado
Destoante dos demais

Parecia ter sete anos
Com certeza dez anos

Seu pequeno corpo
Parecia sustentar o mundo
Com pele acobreada
Sob roupas surradas

Mas ele estava lá
Talvez apenas para se fazer visto
E  gritar por socorro

10/06/2025


Desenhos: gentilmente produzidos, a meu pedido, pela artista Kathia Pimentel como uma releitura do quadro (abaixo) de Cândido Portinari - Meninos abraçados - com foco os rostos dos meninos.




                                                  Meninos abraçados - Cândido Portinari



                                                Desenho de Kathia Pimentel