Aprendi por circuntâncias de avó, já no avançar das minhas primaveras, sobre o termo inglês “jet leg” que, apesar do nosso rico português, não há uma tradução literal. Nem por isto ele deixa de existir e nos incomodar. Foi esta tal de “jet leg” que aconteceu comigo nesta última semana.
Nossa viagem havia sido programada há cerca de três meses. Após convidar minhas duas irmãs, também Marias, decidimos ir para o interior de São Paulo, na bela e histórica cidade de Itapetininga. Ali residem meu irmão e sua crescente família, de quem tanto gostamos. Passagens compradas, conversas pelo telefone, horários de saída de Belo Horizonte e Betim e de chegada em Sorocaba, lá fomos nós.
Tenho que contar que, no início deste ano, havia proposto a mim que, enquanto ainda com saúde, iria ver meus irmãos pelo menos uma vez ao ano, preferencialmente nos aniversários de cada um.
Dois irmãos nasceram em novembro com um ano de diferença entre eles. Luiz Paulo nasceu dia 2, mora em Lafaiete, onde estou sempre indo. Zé Eugênio nasceu dia 7, mora em Itapetininga e, atleticano feito ele só, aproveita suas rareadas vindas por Minas Gerais para ir à Arena MRV cuja construção acompanhou passo a passo. Passando por aqui fica sempre comigo por um ou dois dias. E eu amo recebe-los em minha casa.
Voltemos à nossa viagem. Nós, as três Marias, optamos pela viagem de “Cometa” porque gostamos das estradas sobre a terra. Nada de sairmos voando pelos ares. Com pequenos intervalos de sono e um frio gelado nas minhas orelhas, chegamos no horário marcado, sem antes os cafezinhos com leite nas paradas.
Zé Eugênio já estava lá, de pé, a nos esperar. As três meninas Marias. E a festa começou ali. Sorrisos e abraços e conversas até a sua cidade.
Por lá ficamos cinco dias, com muitos encontros, com muitas caminhadas em grandes regiões planas e conhecendo os novos membros da família, seus dois netinhos e sua duas netinhas gêmeas. Quatro crianças simpáticas e lindas. Não faltou o jogo de cartas. Jogamos buraco por todo este ano e pelo próximo também.
Os “Parabéns pra você” para meu irmão foi um encontro familiar feito com muito tempero e muito bom gosto pela minha cunhada, uma exímia farmacêutica cozinheira.
Promessa cumprida, hora de voltar.
É aqui que teria começado a tal da “jet leg”. Minhas pernas não encontravam posições confortáveis. Nenhum sono. Voltei trêbada (três vezes bêbada). Chegando próximo a Itaguara a BR Fernão Dias, sentido BH, estava fechada. Foram cinquenta minutos aguardando ser liberada. Eu ali, trançando minhas pernas de um lado para outro e de baixo para cima.
Minha filha me esperava em Betim. Chegamos em casa às sete horas da manhã. Um banho, um café forte com pão e queijo (jamais pode faltar) e “cama que te quero bem”. Acordei completamente destemperada. Onde estou? Quem sou eu? Pra onde vou? Só hoje meus juízos estão retornando, se é que ainda sobraram alguns. Acho que ficaram todos pelos caminhos.
Então “jet leg” é esta descompensação horária ou esta fadiga de viagem. A sensação é que nosso corpo se desencontrou da nossa alma. Um fica vagando sem a outra.
Só enquanto escrevo é que, parece-me, meu corpo e minha alma estão se reencontrando.
Que assim seja.
E um girassol despontou ao acaso no meu jardim.
Funil, 14/11/2025