Ela comeu um pedaço de broa na casa do irmão quando de sua
última viagem a tão distante cidade. Ficou só pensando no tanto que gostou da mesma.
Morada Nova de Minas é uma linda cidadezinha
na região central de Minas, às margens da Represa de Três Marias, no nosso querido Rio São Francisco. Sempre achou
estranho o nome da padroeira do lugar, Nossa Senhora do Loreto. Foi procurar sua
origem. Descobriu que a santa é protetora dos aviadores e com muitas histórias e lendas envolvendo
a cidade de Loreto, na Itália.
Mas não é disto que Maria Luísa quer falar
embora não queira deixar de salientar os dotes culinários da cunhada. Nem da broa
que a esperava para o café da tarde. Embora quisesse logo anotar a
receita. Estava há muito tempo sem conseguir fazer uma broa assim. Apenas
aquela de farinha de milho, sua preferida. Não se esqueceu das palavras da cunhada: “tem
que colocar muito queijo. Queijo curado e dos bons”.
Pois bem, ela havia feito, numa primeira vez, para receber seus familiares e foi um sucesso. Agora teria convidados para o café da tarde e, enquanto almoçava,
a broa assava. E o aroma já invadia toda a casa.
Entretanto outra situação não saía de sua cabeça. Ontem, ao acaso, cruzou
na rua com uma mulher que lhe deixou entre risos e lembranças. Não acreditou no
que viu.
Suas lembranças voltaram para mais de quatro décadas quando via algumas amigas tentando
esticar os cabelos. Eram afrodescendentes e passavam um pente de ferro
aquecido na brasa. Havia um tal de “henê”. Colocavam rolinhos e outras tantas maneiras. Era um
sofrimento danado para cuidar dos cabelos. Aquelas que tinham cabelos corridos
tentavam encaracolá-los com papelotes, principalmente nas vésperas das
coroações a Nossa Senhora.
Maria Luíza tinha os cabelos compridos, brilhantes, castanhos
claros e ondulados. Sem os shampoos de hoje, lavava-os com o que tinha às
mãos. Cada dia passava o que lhe dava na cabeça. Abacate, sabão de coco, sabão
caseiro. Quase vomitou quando passou babosa. O cheiro lhe deixou nauseada.
Aprenderia muitos anos depois porque não gostava dos shampoos de Aloe vera. Tratava-se
da sua babosa babona e fedorenta. Até que um dia resolveu, literalmente, passar
seus cabelos com o ferro elétrico debaixo do papel de pão. Eles brilharam e arrepiaram. Ficaram totalmente
eletrizados. Enquanto a mãe ria, ela chorava de raiva. Nunca mais quis fazer isto.
Mas a mulher com quem cruzou na rua trazia seus cabelos
enrolados e cheios de grampos. A isso, antigamente, chamávamos de “tôca”. Um processo para alisar os cabelos que ficavam parecendo uma touca, peça do
vestuário em tempos de frio.
Maria Luísa lembrou que, nas raras vezes que tentou enrolar
e grampear seus cabelos com uma “tôca” quase morreu de dor no couro cabeludo. A
sensação era de que os cabelos, que deveriam ser enrolados por algum tempo para
um lado e depois para outro lado, levavam junto todo o couro cabeludo que
obedecia àquela manobra e ficava todo espichado. Ainda podia sentir a dor que
aquela “tôca de grampos” lhe causava. Até que resolveu deixar seus cabelos
serem eles mesmos. Ficaram lindos e felizes para sempre.
Agora ela fica pensando naquela mulher:
"Será que a mulher dormiu de 'tôca' e não viu o tempo passar?
Não tenho nada com isto. Ela que faça o que quiser com seus
cabelos."
A broa assou e ficou muito saborosa.
18/07/2019
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