"Aroeira de mato virgem não alisa" - João Guimarães Rosa
Meu pai
Resistente a ventos fortes, resiliente, saudável, elegante em sua presença marcante.
Assim foi meu pai: uma aroeira de sertão.
A sorte decidiu seu destino. Livrar -se do magistério na UFMG em BH ou a face da moeda, se Juiz de Fora ou Pirapora? Deu Pirapora!
Pra ser feliz basta ser bom, sua máxima, ao acolher refugiados do regime nazista em nossa pequena cidade.
O escritor francês George Bernanos com seu premiado filme "Sob o sol de Satã" (sobre a luta entre o bem e o mal).
Também o acadêmico alemão Hugo Vitor Hutter, meu primeiro professor de pintura, que nos impunha modelos de castelos e cenas da Alemanha.Até eu dizer basta e começar a pintar cenas bem brasileiras.
Na fazenda sempre o amor pela natureza. O canto da saracura, a orquestra dos sapos Martelo a coaxar como a batida de um tambor.
No pasto, os bois mansos com olhos de perdão recebiam nomes poéticos: Neblina, Diadorim, Tango, Cadeado e o garrote Figurão.
Éramos quatro filhas, suas Três Marias, estrelas da constelação de Órion, e a caçula, sua estrela Dalva.
Junto ao consultório de dentista, ele se trancava para revelar as radiografias num porãozinho escuro. Após seu toc toc eu então abria a portinha. Medo de faltar oxigênio e meu pai morrer... Era o único raio X da cidade, usado sem proteção.Teria isso silenciado sua voz sedutora de locutor da Rádio Mineira e os trechos de ópera que cantava lindamente?
Enérgico, você podava nossas asas, para mais tarde ampliar nossos vôos libertários.
Papai, como foi bom, e ainda é, ser sua filha.
Autoria: Maria Silvia Vargas Boaventura, minha colega da turma da Oficina de Escrita Criativa da OAP (Organizaçao dos Aposentados e Pensionistas da UFMG) ministrada pelo poeta e escritor mineiro, Ronald Claver. Também não posso e não quero deixar de dizer que tratá-se de uma escritora muito sensível, artista plástica e por quem tenho grande admiração.
A ela agradeço a gentileza de permitir que publicasse esse rico depoimento.
A ela agradeço a gentileza de permitir que publicasse esse rico depoimento.
Palavras de Maria Silvia: "Sobre mim? Gosto de escrever, pintar e modelar a argila, tentando ser eu mesma. Sinto saudades do amor. Do Gerais de Pirapora para o asfalto de BH, aprendiz de outros ofícios."
Pais da Maria Silvia
Pinhas em cerâmica (trabalho de Maria Silvia)

Que lindo! A artista teve uma base sólida, uma aroeira, por isso molda a argila, comanda os pincéis e cria...
ResponderExcluirE você, Leni, expressou muito bem seu comentário. Obrigada
ExcluirObrigada,Leni.Que sensibilidade a sua!
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