Mais uma viagem surpresa.
Lá fui eu acompanhada do meu filho, da minha nora, que ora foi a motorista, e do meu neto.
Logo que saímos da linda Invercargill, cidade mais ao sul, no litoral da Ilha Sul de Nova Zelândia, entramos por uma estrada estreita que me fez lembrar nossas estradinhas mineiras. De um lado e de outro, inúmeras campinas verdes com dezenas de rebanhos de ovelhas. (Serão quantas as cabeças de ovelhas nessa região? Será que o governo sabe qual é a proporção de cabeças de ovelhas por habitante?) Era eu e meus pensamentos.
Para mim todos aqueles carneirinhos saltitantes, próximas às suas mães, eram os carneirinhos de gesso que enfeitavam o presépio da minha infância. Acho que, todos aqueles que desapareciam do presépio ano após ano, vieram povoar esse país tão gelado. E hoje, para mim, eles são tantos que é impossível saber quantos são.
Todos nós calados no interior do carro. Eu viajava para dentro de mim.
Paramos numa bela construção, no meio do nada, para nosso primeiro café. A Fortrose estava fechada. Como médica, pensei cá comigo rindo sozinha, “Quatro (four) com artrose”. FortRose, disse minha nora.
Logo começou outro tipo de vegetação. As campinas com os rebanhos de ovelhas deram lugar a grandes árvores tombadas pela força dos ventos marítimos.
Continuamos nosso caminho até Curio Bay, uma charmosa enseada rodeada de pequenas trilhas. Tomamos nosso café no restaurante ao lado e embrenhamos pelas trilhas, a pé. A massa asfáltica que cobria trechos das trilhas, no entorno do restaurante, eram tão suaves que me lembravam massa de pão de ló. Logo adiante uma placa avisava aos desavisados que ali é uma área sujeita a tsunamis e, portanto, não deveriam ter acampamentos. Meu coração começou a bater mais forte diante de tal informação. Então avistei uma fazenda do outro lado de onde estávamos, e ela me parecia muito próxima ao penhasco. Neste instante uma verdadeira enxurrada de pensamentos invadiu minha cabeça, (foto abaixo). Volta e meia eu olhava para aquela casa linda lá em cima, bem defronte ao oceano Pacífico que apresentava risco de tsunami.
As placas também informavam sobre a existência de algumas espécies de aves em extinção, incluindo o pinguim dos olhos amarelos, naquela região. Aqui na Nova Zelândia existe um departamento do governo com vários especialistas, estudiosos e voluntários cuidando dessas aves e desses lugares fantásticos
Andamos por mais uma pequena distância e eis que de repente damos de cara com o penhasco, lá embaixo as ondas e os ventos batendo forte sobre aquilo que eu pensava serem pedras enegrecidas. Descemos por uma escada íngreme e segura, beirando o penhasco e já estávamos na praia. As ondas vinham fortes e batiam próximas a nós. Foi então que meu filho me mostrou um tronco de árvore caído na areia preta e eles me desvendaram o segredo do nosso passeio. Estávamos numa floresta fossilizada de 178 milhões de anos, do período Jurássico. Toda a área vem sendo protegida e visitada por vários estudiosos interessados nessa era do nosso planeta Terra. Eu, com medo das ondas que cada vez chegavam mais perto de nós, não me contive e coloquei meu pé numa raiz fossilizada de 178 milhões de anos. (foto baixo).
Subimos rápido pelas escadarias e já as ondas cobriam a raiz e o tronco de pedra. Voltamos para o carro mas, minha nora queria ver mais. Então nos dirigimos para outro ponto do penhasco.
Por todos os pontos o vento forte nos empurrava em direção ao mar. Agarrei meu neto que se esbaldava com tudo aquilo.
Depois fui ver o mapa e constatei exatamente o que eu pensava. Um pequeno pedaço de terra alta ainda teimava em enfrentar a violência das ondas e dos ventos.
Hora de voltarmos para casa. Eis que, quando o carro desacelera para pegar a estrada, Dudu, fala: “volta aí mamãe, tem um bicho alí”.
Ao dar a ré deparamos com um enorme bicho deitado sob a sombra de uma moita de planta que me lembrou a piteira das Minas Gerais. Seria uma escultura? Seria um bicho morto? Meu filho desceu do carro e lhe dei o celular para fotografá-lo. “É um leão marinho”, disse meu neto. E cada um de nós queria entender sobre o bicho tranquilo a dormir. Seria uma morsa, uma foca, um leão marinho?
Deixamos o bicho marinho na sua soneca e voltamos para casa com muita história para contar sobre nossa viagem à região de Catlins, no extremo sudeste da ilha sul de Nova Zelândia.
Nota: a escolha do título foi do meu neto, Dudu.
09/10/2023
Observação: por favor, assinem os comentários para eu saber quem são vocês. Certo?
Raiz de uma árvoe fossilizada
Tronco de árvore fossilizado
Floresta fossilizada
Fazenda no alto do penhasco