Ela precisava de alguém para ajudar nas tarefas de casa com três filhos menores um marido que nada ajudava em casa e dois empregos públicos era prá lá de desesperadora sua rotina então veio a mocinha do interior com referência de mais de vinte anos trabalhando numa única família em São Paulo e Joana respirou aliviada no dia vinte de abril data da chegada da prometida o irmão a trouxe para evitar quaisquer transtornos na viagem do interior para a cidade grande a moça muito risonha e caladinha logo aproximou das crianças e por ali ficou como mais uma delas no dia seguinte ela não se encontrava no seu quarto e não atendeu aos chamados as crianças foram encontra-la chorando deitado no chão no terreiro abriu um sorriso lindo e disse que aquele era o dia do seu aniversário fizeram bolo compraram guaraná saíram para lhe comprar um presente e cantaram “Parabéns para você” para ela que continuava num sorriso puro de criança feliz dai para frente todos observaram que ali estava uma moça feito criança corpo de mulher cheio de pureza e sorrisos a dona resolveu investigar como era seu trabalho em São Paulo aproximou com delicadeza da menina-moça estranha e ela disse que fazia de tudo até aparecer um mar de sangue no seu quarto que foi se enchendo até não poder mais ficar dentro dele daí começou a ouvir vozes de pessoas desconhecidas que vinham lhe cochichar nos ouvidos e lhe dar ordens como sair de casa andar pelas ruas e não acreditar na sua patroa que estava roubando seu dinheiro juntado nos últimos vinte anos guardou todo o dinheiro dentro de uma fronha amarrou bem amarrado e enfiou dentro do colchão foi levada num centro espírita e o médium falou que ela estava com demônio no corpo que era preciso muita reza muita luz de vela muito banho de alecrim com capim cheiroso mas de nada adiantou mandaram ela de volta para sua cidade natal no interior das Minas Gerais e a moça voltou feliz para casa de seus pais foi quando recebeu a nova possibilidade de trabalhar na cidade grande a nova patroa preocupada com toda aquela história levou-a no psiquiatra que diagnosticou psicose e deu um monte de remédios os familiares consideraram perigoso ela cuidar de três crianças mas a patroa cuidadosa feito ela só contratou outra empregada com o objetivo de cuidar das quatro crianças agora procurou os direitos da moça-menina-doida procurou o médico que deu relatório para benefício e foram guardar o dinheiro na poupança quando abriram a fronha na frente do moço da caixa pois era assim que a patroa lidava com a menina-moça-risonha para não trazer desconfianças todo o dinheiro guardado já havia perdido seu valor o cruzeiro agora era real
Funil, 21/02/2022
Comentário: "Rivelli, escrever é sempre revelador, documental. Escrever é também registro. A prosa para quem lidar com ela é sempre reveladora. Está história a partir de suas Palavras ganha contornos eternos. Muito bem, muito bom, bjs" (do poeta Ronald Claver)