
Cadê nossa água?
Desde “tresontante” sábado, dia, dia 18, estamos sem escutar o barulho gostoso da água caindo em nossas caixas d’água. Não foi sem razão que os integrantes do grupo do WhasApp do bairro começaram a se preocupar.. Exatamente num final de semana de janeiro, verão, férias, quando recebemos familiares e amigos para nossos encontros e colocar nossas conversas em dia.
Com orientações para que anotássemos números de protocolos das reclamações feitas à COPASA, vários moradores fizeram as ditas aguardando algum sinal do maravilhoso líquido chegar às nossas casas. Nada. Nenhum sinal. Nenhum barulhinho nas caixas d’água. Alguns moradores, altruístas, ofereceram para pegarem “água da mina” em suas casas para a urgência do beber, afinal somos feitos de água e sem ela, vamos sucumbir.
Uma moradora informou que, ao ligar para a COPASA, foi informada de que “a terceirizada” fez um serviço de reparo mal feito na região e que então teria acarretado tal “falta d’água”.
Este fato me trouxe algumas lembranças da minha infância e outras bem atuais.
Morava numa rua de terra e, por debaixo da vermelhidão daquela terra, passavam canos de ferro por onde nem sempre passava o precioso liquido cristalino. Às vezes chegava um líquido enferrujado, outras vezes barreado, outras vezes nem chegava. Então minha mãe dizia assim: “pode falar tudo numa casa, mas não pode faltar água”. Nós sete crianças buscávamos água numa fontezinha a quase um quilômetro de distância depois de uma enorme ribanceira. Ali, num lajedo, as lavadeiras cantavam enquanto esfregavam as roupas de seus clientes. Eu olhava tudo aquilo com olhos de criança.
Outros fatos, bem mais recentes, foram as várias faltas da energia elétrica, da rede móvel de telefonia e da internet que tem acontecido na nossa região tão bem abençoada por Deus na sua abundância de beleza e de água. Temos aqui nosso Córrego do Vinho que desce suave pelas remanescentes matas nos fundos dos sítios e, às vezes, margeando nossos caminhos. Temos ainda minas d’água que servem a alguns moradores.
Mas não sem motivos escusos que tais faltas tem acontecido no nosso Funil e por tantas outras bandas das nossas e de outras cidades. Sabemos da gigantesca dívida de nosso estado com a união, acumulada desde não sei quando e acrescida de muitos milhões de reais neste atual governo estadual. (Lembro que outros estados também estão nesta situação como o Espírito Santo, Goiás, Pará, São Paulo, etc). No ano passado esses estados foram chamados para discutirem sobre a renegociação destas dívidas com a união quando Minas Gerais acordou como pagaria sua dívida. Entretanto o governador do nosso estado, alheio ao acordo, vem propondo a venda de nossas estatais entre elas a CEMIG, COPASA, CODEMIG, e outras. E assim ele vem fazendo, vendendo e terceirizando serviços essenciais dessas empresas, o que está precarizando os serviços dessas empresas. Por outro lado o que se sabe é que o dinheiro arrecadado dessas vendas não tem sido utilizado para pagar a dívida conforme o acordo com a união. Leiamos abaixo uma proposta do presidente do senado Rodrigo Pacheco:
“A federalização de estatais é um dos mecanismos propostos pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, no projeto de lei apresentado como alternativa ao Regime de Recuperação Fiscal para renegociar a dívida de Minas e de outros estados com a União”.
Sabemos que água, energia e minerais são bens não renováveis, ou seja, tem tempo de duração e irão acabar. Ainda não conseguimos produzir água doce e nossa energia vem de nossos rios que secam a cada dia.
Sabemos também que países europeus que privatizaram suas águas e energia estão renegociando para tê-las de volta.
Um desabado: viajo com certa frequência pela BR 040 em direção ao Rio e o que vejo pelas margens me deixam estarrecida. Devastação de nossas montanhas dentro do que "quadrilátero ferrífero" e a gigantesca “The Coca-Cola Company”, empresa multinacional estadunidense, consumindo quase toda a água da população de Brumadinho.
Chega, porque as águas dos meus olhos também vem secando pela tristeza de tanto que tenho visto pela vida afora.
Segunda-feira, 20 de janeiro de 2025