(Delicadezas em tempos de Coronavírus - LX)
Sábado pela manhã.
- “Que é isso?” Perguntei já antevendo que era meu neto querendo brincar comigo através do celular.
- “Seria um gato?”
- “É o Igui, vovó!” ele logo responde mas sem se mostrar. Dudu nunca gostou de aparecer no vídeo para conversar. Sempre cria brincadeiras como maneiras de estar do outro lado a falar comigo. Debaixo de lençóis ele carrega o enorme gato preto Igui. Uma cabana para seu gato preferido. A seguir cria um percurso de obstáculos para o gato pular. Agora o Igui é o meu neto. Saltando de um lado para outro sobre os terríveis obstáculos. Vejo apenas pedaços de pernas e braços focalizados pelo celular. Ele exige aplausos para suas façanhas. Eu do lado de cá, bato palmas, grito como uma torcida bem inflamada com seu ídolo.
- “Vovó, agora vou dar saltos olímpicos na piscina! Olha!” Esta foi uma das nossas últimas brincadeiras quando o estive visitando. E Dudu, sobe em cima de uma cama e pula sobre o colchão no chão, sua grande piscina imaginária. Aplaudo o salto olímpico. Dou notas e faço comentários esportivos.
- “Sensacional! Dudu, nosso atleta brasileiro das piscinas olímpicas, dá show de saltos ornamentais e é o melhor da competição. Medalha de ouro para o Brasil. Parabéns Dudu!”
Imagino o celular devidamente encostado em alguma parede assistindo meu neto e suas conquistas em piscinas mundiais.
- “Vovó! Vou te contar uma piada”. Lá vem ele já mudando para outra brincadeira.
- “Então conta. Estou ouvindo” respondo logo para não perder o entusiasmo dele.
- “O que acontece com um pintinho que não tem ‘fiofor’ quando ele peida?”
- “Que é isso menino?!!” Nem imagino. E acrescento: “que dó!”
- “Vovó, ele explode uai” e logo escuto sua risada, mas ainda sem vê-lo.
Nesse momento escuto o pai dele, meu filho, lhe falando: “chama ela de ‘Bufufuda’”.
-” Vovó, você é uma bufufuda” fala ele entre risos, só para ouvir minha resposta que vem a seguir:
- “Eu não! Bufufada é a sua avó, menino.” Respondo com voz lenta e impostada.
_ “Bufufuda é você, vovó”
Então me deixa no vácuo do celular, como diz os jovens de hoje, e vai para outro espaço da casa.
Nesta hora meu filho pega o celular do chão e, numa cara de cansaço, me responde quando pergunto como está:
- “Tô bem não, mãe.”
Devo lembrar que meu filho é um grande idealista, ativista social, estudioso, doutorando em filosofia, graduado em RI (Relações Internacionais), graduado e mestre em filosofia. Atualmente selecionado como professor de filosofia num Instituto Federal. Descobriu-se como professor e tem dedicado muito no ensinamento do pensar aos adolescentes. E esses adolescentes tem dado suas contrapartidas de modos especiais.
Mas meu filho tem sentido na pele o desastre das políticas estadual e federal atuais. Parece que ele tem carregado nas costas toda a fome e miséria que o povo brasileiro tem enfrentado.
- “Mãe, vivemos numa democracia e veja onde ela nos levou...” Continuou discorrendo sobre nosso momento de “desgovernança” com muita propriedade e discernimento.
Teria dito ele, não exatamente assim, mas falou com muita tristeza e desesperança sobre suas opiniões acerca dos rumos que nossa jovem democracia tem tomado.
Tenho um enorme orgulho dos meus filhos, das suas opiniões, dos seus estudos e de nossas discussões. Tenho certeza que, não sei como, consegui transmitir para eles as posições político-sociais que sempre defendi.
- “Escreva sobre tudo isto que você está me dizendo. Não sofra tanto”, disse a ele.
Espero que ele consiga “sublimar” tudo isto através das palavras também escritas e através das suas aulas aos jovens mineiros.
Finalizo plagiando nosso maravilhoso Gonzaguinha:
“Eu fico com a pureza das respostas das crianças” e peço ao meu filho, tão desiludido, que “Não tenha a vergonha de ser feliz e que sempre cante a beleza de ser um eterno aprendiz”
Maria do Rosário Nogueira Rivelli
- “Seria um gato?”
- “É o Igui, vovó!” ele logo responde mas sem se mostrar. Dudu nunca gostou de aparecer no vídeo para conversar. Sempre cria brincadeiras como maneiras de estar do outro lado a falar comigo. Debaixo de lençóis ele carrega o enorme gato preto Igui. Uma cabana para seu gato preferido. A seguir cria um percurso de obstáculos para o gato pular. Agora o Igui é o meu neto. Saltando de um lado para outro sobre os terríveis obstáculos. Vejo apenas pedaços de pernas e braços focalizados pelo celular. Ele exige aplausos para suas façanhas. Eu do lado de cá, bato palmas, grito como uma torcida bem inflamada com seu ídolo.
- “Vovó, agora vou dar saltos olímpicos na piscina! Olha!” Esta foi uma das nossas últimas brincadeiras quando o estive visitando. E Dudu, sobe em cima de uma cama e pula sobre o colchão no chão, sua grande piscina imaginária. Aplaudo o salto olímpico. Dou notas e faço comentários esportivos.
- “Sensacional! Dudu, nosso atleta brasileiro das piscinas olímpicas, dá show de saltos ornamentais e é o melhor da competição. Medalha de ouro para o Brasil. Parabéns Dudu!”
Imagino o celular devidamente encostado em alguma parede assistindo meu neto e suas conquistas em piscinas mundiais.
- “Vovó! Vou te contar uma piada”. Lá vem ele já mudando para outra brincadeira.
- “Então conta. Estou ouvindo” respondo logo para não perder o entusiasmo dele.
- “O que acontece com um pintinho que não tem ‘fiofor’ quando ele peida?”
- “Que é isso menino?!!” Nem imagino. E acrescento: “que dó!”
- “Vovó, ele explode uai” e logo escuto sua risada, mas ainda sem vê-lo.
Nesse momento escuto o pai dele, meu filho, lhe falando: “chama ela de ‘Bufufuda’”.
-” Vovó, você é uma bufufuda” fala ele entre risos, só para ouvir minha resposta que vem a seguir:
- “Eu não! Bufufada é a sua avó, menino.” Respondo com voz lenta e impostada.
_ “Bufufuda é você, vovó”
Então me deixa no vácuo do celular, como diz os jovens de hoje, e vai para outro espaço da casa.
Nesta hora meu filho pega o celular do chão e, numa cara de cansaço, me responde quando pergunto como está:
- “Tô bem não, mãe.”
Devo lembrar que meu filho é um grande idealista, ativista social, estudioso, doutorando em filosofia, graduado em RI (Relações Internacionais), graduado e mestre em filosofia. Atualmente selecionado como professor de filosofia num Instituto Federal. Descobriu-se como professor e tem dedicado muito no ensinamento do pensar aos adolescentes. E esses adolescentes tem dado suas contrapartidas de modos especiais.
Mas meu filho tem sentido na pele o desastre das políticas estadual e federal atuais. Parece que ele tem carregado nas costas toda a fome e miséria que o povo brasileiro tem enfrentado.
- “Mãe, vivemos numa democracia e veja onde ela nos levou...” Continuou discorrendo sobre nosso momento de “desgovernança” com muita propriedade e discernimento.
Teria dito ele, não exatamente assim, mas falou com muita tristeza e desesperança sobre suas opiniões acerca dos rumos que nossa jovem democracia tem tomado.
Tenho um enorme orgulho dos meus filhos, das suas opiniões, dos seus estudos e de nossas discussões. Tenho certeza que, não sei como, consegui transmitir para eles as posições político-sociais que sempre defendi.
- “Escreva sobre tudo isto que você está me dizendo. Não sofra tanto”, disse a ele.
Espero que ele consiga “sublimar” tudo isto através das palavras também escritas e através das suas aulas aos jovens mineiros.
Finalizo plagiando nosso maravilhoso Gonzaguinha:
“Eu fico com a pureza das respostas das crianças” e peço ao meu filho, tão desiludido, que “Não tenha a vergonha de ser feliz e que sempre cante a beleza de ser um eterno aprendiz”
Maria do Rosário Nogueira Rivelli
Fotografia: "As cores dos entardeceres no Funil -1" (arquivo pessoal)
24/10/2021