(Delicadezas em tempos de Coronavírus - XXV)
Na semana passada, em visita ao meu neto, este me pediu para que eu construísse uma nave e viajasse com ele pelos espaços siderais. Assim disse ele com todos as letras e muitos detalhes para que se dessem nossoas viagens. Obviamente que não recusei o pedido que, naquele momento se fazia como uma ordem. Ele já estava em grandes empreendimentos pelo espaço com suas duas naves, a X-Wing e a Tie-fighter, construídas pela ajuda dos pais, com as peças do fantástico brinquedo LEGO.
Eu fiquei com o que sobrou das peças. Uma metade de uma capsula transparente flexível sobre duas rodas que ele chamava de Barrigudinha. E esta ficou sendo a minha nada potente nave espacial.
- Vovó repete comigo: SU – PLAI – ERRE.
- De novo vovó: SU – PLAI - ERRE.
- Entendeu vovó? Você está de aparelho?
- Agora o nome do outro robô. Repete comigo: BORN – I.
- Entendeu?
Não! A vovó não entendia aqueles nomes ingleses que não fazem parte do seu vocabulário. Então pediu ao neto que escrevesse pra que ela pudesse ler. Assim ela iria ler e não precisava ouvir aqueles nomes. Ele a levou até o muro onde a sua mãe já havia escrito os nomes dos tais robôs. De qualquer forma, a vovó teve que aprender na marra.
Dado o meu cansaço, não tive dúvidas. Enquanto Dudu viajava com suas potentes naves, fazendo reparos com os ultra inteligentes robôs, Supply-R e Burn-E, nas avarias causas por pedaços de gelos, a Barrigudinha abria-se ao sol para capturar energia e ganhar forças extras para alcançar as naves do neto.
Dudu ficava rindo das atrapalhadas da Barrigudinha que não conseguia nem acompanhar o palavreado técnico, em inglês, usado por ele. Por isso ela acabou virando um Jeep e ficar passeando pelas crateras da Lua enquanto Dudu dava várias voltas pelos anéis de Saturno ou encontrando com seus tantos amigos espaciais imaginários.
Apesar do cansaço com as viagens espaciais, dos trabalhos de reparos com técnicas robóticas em pleno espaço, dos cuidados para não cair nos buracos negros, foi uma tarde de grandes emoções e de muitos aprendizados sobre naves espaciais, robôs e os sons e escritas de outra língua.
A Barrigudinha serviu para a vovó se deliciar com as risadas do neto vendo os desarranjos de uma nave espacial gorda, velha e surda.
Ouro Branco, 31 de agosto de 2020