Da MG -040 o que se vê às margens são belos empórios de móveis rústicos. Este trabalho vem sendo levado a vários lugares do estado, quiçá do país. São trabalhos artísticos feitos pelos moradores daqui e que passam de pai para filho.
A kombi com o milho verde, sendo cozido dentro de um caldeirão num fogão improvisado, já se tornou patrimônio e referência da entrada do bairro.
Dobrem a esquerda, saiam da rodovia e logo chegará numa bucólica pracinha rodeada por espécies de mata Atlântica. A Igreja é de Santo Antônio, o santo casamenteiro com seu dia celebrado pela comunidade que aproveita para fazer novos pedidos e agradecer aqueles alcançados. Uma escola pública com arquitetura local, algumas casas e um ponto de ônibus. É daqui que partem e voltam os moradores para seus muitos afazeres.
Seguindo em frente deparem-se com o recém calçamento de pedras pé-de-moleque, ladeado por grandes árvores que tornam o clima ameno e fresco. Parem para escutar o som das águas do Córrego do Vinho que desce pela montanha. Deixe-se embriagar com suas curvas. Agradeça o milagre de suas quedas tocando moinhos d’água para transformar o milho em fubá. O Córrego do Vinho desce solitário dividindo terras e trazendo delicadezas cristalinas.
Agora comecem a subir o morro e deslumbrem-se com as casas da comunidade – como será que deveria chamar o gentio do Funil? – Floristas talvez seria um nome adequado já que, em todas as casas, o que se vê são flores de vários coloridos durante todo o ano.
Continuem subindo mais um pouco e, no cruzamento do antigo orelhão, virem à esquerda. Mais alguns passos e verão o Cruzeiro, local de orações, de rezas no dia 3 de maio, dia da Santa Cruz e de pedidos de chuvas em tempos de seca. Aqui deem uma pausa para seu descanso. Não se envergonhem se lágrimas brotarem dos seus olhos. Elas irão aliviar seus pesares. Aproveitem e chorem pelos filhos, pais e amigos que já se foram. Respire fundo e continuem se encantando com a região.
Dizem que o Funil teria sido formado por uma única família e seus descendentes. Aqui seria o berço do município de Mário Campos com os primeiros moradores chegando ainda no final do século XIX e início do século XX.
Sagrado berço para uma cidade.
Aos pés de montanhas e matas onde podem ser vistas galinhas d’Ângola, saracuras, seriemas, as ferozes corujas, tucanos, jacus comedores de grãos de café, bem-te-vis, canários da terra, tico-tico -reis, anus, carcarás, rolinhas, micos, lontras, tiús, comedores de ovos, as terríveis cascavéis, algumas raposas atrevidas já passeiam por aqui e até uma jaguatirica teria aterrorizado alguns moradores.
Não assustem se ouvirem uma gritaria por perto. Certamente assustaram um bando das escandalosas jandaias saboreando as amoras nos quintais.
Os ipês amarelos predominam por toda a região e, quando chega o inverno, eles enchem as matas de amarelo ouro. Há também os ipês cor de rosa e roxos. Canelas, angicos, aroeiras, salgueiros e tantas outras nobrezas olhando para o céu.
Ou seja, no Funil, a grande biodiversidade mantém-se em harmonia com seus moradores.
E há mulheres por aqui que ainda fazem a farinha de mandioca com técnicas primitivas como foi ensinado pelos africanos escravizados. Uma imagem para ser vista e lembrada por toda a vida quando elas se reúnem e transformam a mandioca na farinha mais saborosa de toda a região. Outras vezes elas se reúnem para assar biscoitos do padre, roscas de cenouras. É a tradição dos fornos e fornalhas a lenha se perpetuando através de sábias mãos femininas.
Do alto do Funil pode-se ouvir o xique-xique do trem correndo pelos trilhos margeando o Rio Paraopeba. Aqui uma pausa para duas tristezas. São nesses trens que as montanhas de Minas se vão para o outro lado do planeta. E foi no rio Paraopeba que a lama de Brumadinho foi derramada e acabou com sua vida de rio.
Considerando como referência o centro de Mário Campos, tem-se mais próximo o Capão, região de mata preservada, de fazendas produtoras de verduras, e de muita água brotando do chão e formando veios sobre a terra.
Mais distante tem-se a Vila das Amoreiras, há quase meio século recebendo moradores. A Vila está bem aos pés da última formação da Serra do Espinhaço que desce desde o nordeste de Minas Gerais. Do outro lado do Rio Paraopeba tem-se o início da Serra da Mantiqueira que continuará pelo sudoeste até o estado de São Paulo. Eis aqui a formação geológica chamada Funil.
Entretanto, muito mais que uma formação geológica, tem-se aqui um povo originário cuja identidade passa pela religiosidade com as festas da folia de Reis, pelas festas de Santo Antônio e São João, pela culinária local, pelo amor ao meio ambiente, pelas relações humanas respeitosas e acolhedoras.
Salvem o Funil!
(orquídeas da Helena)
Dobrem a esquerda, saiam da rodovia e logo chegará numa bucólica pracinha rodeada por espécies de mata Atlântica. A Igreja é de Santo Antônio, o santo casamenteiro com seu dia celebrado pela comunidade que aproveita para fazer novos pedidos e agradecer aqueles alcançados. Uma escola pública com arquitetura local, algumas casas e um ponto de ônibus. É daqui que partem e voltam os moradores para seus muitos afazeres.
Seguindo em frente deparem-se com o recém calçamento de pedras pé-de-moleque, ladeado por grandes árvores que tornam o clima ameno e fresco. Parem para escutar o som das águas do Córrego do Vinho que desce pela montanha. Deixe-se embriagar com suas curvas. Agradeça o milagre de suas quedas tocando moinhos d’água para transformar o milho em fubá. O Córrego do Vinho desce solitário dividindo terras e trazendo delicadezas cristalinas.
Agora comecem a subir o morro e deslumbrem-se com as casas da comunidade – como será que deveria chamar o gentio do Funil? – Floristas talvez seria um nome adequado já que, em todas as casas, o que se vê são flores de vários coloridos durante todo o ano.
Continuem subindo mais um pouco e, no cruzamento do antigo orelhão, virem à esquerda. Mais alguns passos e verão o Cruzeiro, local de orações, de rezas no dia 3 de maio, dia da Santa Cruz e de pedidos de chuvas em tempos de seca. Aqui deem uma pausa para seu descanso. Não se envergonhem se lágrimas brotarem dos seus olhos. Elas irão aliviar seus pesares. Aproveitem e chorem pelos filhos, pais e amigos que já se foram. Respire fundo e continuem se encantando com a região.
Dizem que o Funil teria sido formado por uma única família e seus descendentes. Aqui seria o berço do município de Mário Campos com os primeiros moradores chegando ainda no final do século XIX e início do século XX.
Sagrado berço para uma cidade.
Aos pés de montanhas e matas onde podem ser vistas galinhas d’Ângola, saracuras, seriemas, as ferozes corujas, tucanos, jacus comedores de grãos de café, bem-te-vis, canários da terra, tico-tico -reis, anus, carcarás, rolinhas, micos, lontras, tiús, comedores de ovos, as terríveis cascavéis, algumas raposas atrevidas já passeiam por aqui e até uma jaguatirica teria aterrorizado alguns moradores.
Não assustem se ouvirem uma gritaria por perto. Certamente assustaram um bando das escandalosas jandaias saboreando as amoras nos quintais.
Os ipês amarelos predominam por toda a região e, quando chega o inverno, eles enchem as matas de amarelo ouro. Há também os ipês cor de rosa e roxos. Canelas, angicos, aroeiras, salgueiros e tantas outras nobrezas olhando para o céu.
Ou seja, no Funil, a grande biodiversidade mantém-se em harmonia com seus moradores.
E há mulheres por aqui que ainda fazem a farinha de mandioca com técnicas primitivas como foi ensinado pelos africanos escravizados. Uma imagem para ser vista e lembrada por toda a vida quando elas se reúnem e transformam a mandioca na farinha mais saborosa de toda a região. Outras vezes elas se reúnem para assar biscoitos do padre, roscas de cenouras. É a tradição dos fornos e fornalhas a lenha se perpetuando através de sábias mãos femininas.
Do alto do Funil pode-se ouvir o xique-xique do trem correndo pelos trilhos margeando o Rio Paraopeba. Aqui uma pausa para duas tristezas. São nesses trens que as montanhas de Minas se vão para o outro lado do planeta. E foi no rio Paraopeba que a lama de Brumadinho foi derramada e acabou com sua vida de rio.
Considerando como referência o centro de Mário Campos, tem-se mais próximo o Capão, região de mata preservada, de fazendas produtoras de verduras, e de muita água brotando do chão e formando veios sobre a terra.
Mais distante tem-se a Vila das Amoreiras, há quase meio século recebendo moradores. A Vila está bem aos pés da última formação da Serra do Espinhaço que desce desde o nordeste de Minas Gerais. Do outro lado do Rio Paraopeba tem-se o início da Serra da Mantiqueira que continuará pelo sudoeste até o estado de São Paulo. Eis aqui a formação geológica chamada Funil.
Entretanto, muito mais que uma formação geológica, tem-se aqui um povo originário cuja identidade passa pela religiosidade com as festas da folia de Reis, pelas festas de Santo Antônio e São João, pela culinária local, pelo amor ao meio ambiente, pelas relações humanas respeitosas e acolhedoras.
Salvem o Funil!
(orquídeas da Helena)
Abóbora d'agua ou marinda
(quintal da casa de Helena e João Jiló)
(quintal da casa de Helena e João Jiló)
Agradecimentos aos moradores que, gentilmente, tem nos contado suas histórias de vida aqui no Funil e permitido as fotografias. Eles sabem que unidos somos mais fortes.
13/04/2022