"Vivia uma planta carnívora
num campo verdinho
quando um rato subiu nela
e ela o engoliu."
Autor: meu neto aos seis de idade. Seu primeiro miniconto. (2022)
"Vivia uma planta carnívora
num campo verdinho
quando um rato subiu nela
e ela o engoliu."
Autor: meu neto aos seis de idade. Seu primeiro miniconto. (2022)
Terça-feira: Vênus em seu signo significa fantasia e fortuna. Com a entrada de Mercúrio em Libra, os astros iluminam seus planos, mas as pessoas não suportam as pessoas quando ameaçadas com um sorriso, ou quando se aponta um revólver cabo madrepérola ,45, colt. As pessoas se sentem frágeis quando a vida, a curva da vida começa a declinar e não reagem àquele sorriso solto, alto na mesa do bar e quando estiver só, vocês e seus duendes na solidão enfeitiçada dos anéis de saturno e o cigarro acabar, procure nas ilhas de seu mapa particular as viagens de muito adiar.
Seu corpo
magro dá vida ao vestido surrado
Seu caminhar é lento
Já fez de
tudo pra ganhar um trocado
Agora só
ganhar tempo
Sem pressa
As rugas
adornam seu sorriso
Uma voz
cavernosa trai o ar viciado
A fala solta
enriquece seu saber
Saber que a
luta nada lhe rendeu
Ah, os
netos!
Seus
tesouros na maturidade
Os filhos se
perderam
Herdaram da
mãe o desatino
Ninguém vê suas artes
espalhadas
ao redor
Dos cacos
sobrados fez jardins
As flores
colorem seu pedaço de chão
e perfumam sua inspiração.
Abril de 2023
(Inspirada numa mulher, artista da região, que soube fazer da sua arte sua insistência de vida)
Levantamos ainda com um sol avermelhado despontando sobre as
águas da praia de Camburi, bem defronte a nós. O reflexo do sol no vidro da
janela ao lado era um sol a parte. Dois sois me chamando para a caminhada com
meus pés beijando o frio da água salgada.
Lá fomos nós saciadas pelo ostensivo café da manhã do hotel.
O mar estava desconvidativo para meu mergulho. As areias
estavam pesadas demais para a caminhada proposta.
"Ontem aqui parecia uma piscina. Hoje o mar está
puxando muito." Disse um pescador solitário embora houvessem alguns
deles e muitos molinetes armados.
O calçadão estava tranquilo, com pistas bem demarcadas para
caminhantes, ciclistas, skatistas e pessoas com patins.
Caminhamos até quando nossas panturrilhas nos fizeram
parar.
Fizemos alguns alongamentos para as pernas e, exaustas,
sentamos.
Já havíamos programado nosso passeio turístico para aquela manhã, o Convento da Penha em Vila Velha. E fomos para lá. O tal GPS ligado e, em alguns momentos, nos colocando em maus lençóis, ou melhor, em ruas sem saídas ou na contramão. Mas, enfim chegamos na portaria. Optei por subir de van depois que nos falaram sobre a distância e altitude da construção medieval.
Olhando ao redor lembrei-me do majestoso museu Mariano Procópio, em Juiz de Fora.
Ainda dentro da van pude
ver uma imagem de São Francisco de Assis, solitário entre as árvores, numa
curva da estradinha estreita, calçada com pedras pé- de-moleque. Descemos numa
pracinha repleta de turistas, romeiros, procissão de religiosos - afinal estávamos na quaresma. E nos esbaldamos com as paisagens do mar lá embaixo circundando a ilha de Vitória. A partir dali
teríamos que subir uns cem, ou mais degraus íngremes, estreitos e escorregadios para o grande
número de pessoas. Fui devagar. Queria ver cada ângulo oferecido ao redor do convento. A história do
convento da Penha tem início a partir de 1558 e ele é considerado o monumento religioso mais
importante da arquitetura capixaba. Adorei conhecer as ruas e pracinhas ao
redor do penhasco. Lamentei não ter conseguido entrar na Igreja de N. Sra do
Rosário. Por ali todas as ruas tem os nomes dos colonizadores portugueses.
A fome chegou e a vontade de comer chegou junto. Aí começou nosso desespero que aumentava à medida que não encontrávamos restaurantes abertos na cidade. Minha fome traduz-se por irritabilidade. E eu estava muito nervosa. Depois de muito andar a pé ou de carro no sol do meio-dia, encontramos uma simpática padaria com lanchonete. Entramos e vimos que também serviam almoço. Sentamos numa mesa na varanda. Pedidos feitos. Pedidos servidos.
Então chegaram dois meninos com caixinhas nas mãos oferecendo
não sei o quê. Diante de nossa negativa, pediu-nos um refrigerante. Minha filha
levantou e foi com eles até a geladeira para pegar o que eles queriam. Ela
observou que eles não pediram o litro. Escolheram o sabor e pegaram uma garrafa
de tamanho médio. Ao saírem, passaram por mim e ofereceram uma paçoca. A vida já me ensinou que cada um dá o que tem e, portanto, eu não deveria recusar o
presente oferecido com um belo sorriso infantil na face morena. O menino enfiou a
mão na caixinha, que eu pensava estar vazia, tirou outra paçoca e falou “Essa
é para a filha da senhora”.
Posso garantir que o sabor da dita paçoquinha foi o melhor
que já comi em toda minha vida.
Voltamos para nosso quarto no hotel. Deitei para descansar o
olhei pela janela. Lá estava o Convento da Penha que até então não tinha visto
dali.