sexta-feira, 28 de abril de 2023

Miniconto: Planta carnívora


 

           "Vivia uma planta carnívora 

            num campo verdinho 

            quando um rato subiu nela 

            e ela o engoliu."


Autor: meu neto aos seis de idade. Seu primeiro miniconto. (2022)

segunda-feira, 24 de abril de 2023

ROTEIRO TRAGICÔMICO EM 7 DIAS DE AMOR -

               

Terça-feira: Vênus em seu signo significa fantasia e fortuna. Com a entrada de Mercúrio em Libra, os astros iluminam seus planos, mas as pessoas não suportam as pessoas quando ameaçadas com um sorriso, ou quando se aponta um revólver cabo madrepérola ,45, colt. As pessoas se sentem frágeis quando a vida, a curva da vida começa a declinar e não reagem àquele sorriso solto, alto na mesa do bar e quando estiver só, vocês e seus duendes na solidão enfeitiçada dos anéis de saturno e o cigarro acabar, procure nas ilhas de seu mapa particular as viagens de muito adiar.


Domingo: Netuno é sinal de desvario. Assim como Alice, você se encontra em terra estranha e estrangeira. Várias veredas se abrem aos olhos, mas no domingo, as pessoas não atravessam o sinal fechado. Sabem que não há carros nem sinais. A vida se torna verde na perspectiva do macarrão e do frango ao molho pardo. A alucinação de Netuno é delírio. As pessoas compram até jornal para atenuar a digestão matinal.

Quinta-feira: Marte vibra em harmonia com Júpiter. Já Urano flerta com Plutão. A lua enciumada foge do Sol. Não deixe o coração à deriva. Não escreva bilhetes de amor. Nem revele os sentimentos. As pessoas reagem ao menor impulso lírico. É perigoso deixar a letra impressa ou a impressão digital. A pele é sensível e o amor pode transbordar nos poros. Beba o mel da noite, noturne em alguém este cansado e dolorido corpo.

Quarta-feira: Com a entrada de Mercúrio em Libra, os astros obscurecem seus sonhos. Não deixe a porta aberta, as pessoas te espreitam. Não se mate ainda. Escreva bilhetes de amor nas mesas dos bares. Planeje uma conjugação de Marte com Selene e sua fuga impossível. Não viaje.

As pessoas sabem de seu rastro povoando as paredes. As pessoas sabem de sua sombra contornando os muros. As pessoas sabem de seus dias no percurso da semana: - na segunda elas te abrem os olhos, na terça vasculham as gavetas, na quarta pisam na grama, na quinta quebram os vidros, na sexta reviram a casa, no sábado fazem a mudança no domingo você é papel passado.

Segunda-feira: A lua está à sua disposição. Vênus está a 18 graus de Escorpião. Você pode começar a semana sem medo de viajar para dentro. As pessoas abrem o jornal à espera da sexta que não aconteceu e do sábado que se diluiu no domingo. As pessoas te odeiam por isso. O bolso vazio. A gaveta vazia. Os olhos vazios. As pessoas te culpam por isso Você é uma pessoa girando, girando, girando sozinha no vazio do planeta.

Sábado: não procure no espelho seus astros ou sua imagem invertida, as pessoas conhecem sua transparência e avesso. Não procure nos olhos seu brilho aceso, seu opaco.

Sexta-feira: as pessoas esperam que você cumpra a promessa. As pessoas esperam que você acenda o fogo. As pessoas esperam que você compre a bebida. As pessoas sabem de suas festas. As pessoas sabem de suas frestas. As pessoas sabem de suas fendas. As pessoas sabem do colt, cabo madrepérola, 45 na gaveta, atire.


Autor: Ronald Claver é meu mestre em escrita. Professor aposentado pela UFMG. Tem vários livros publicados

quarta-feira, 19 de abril de 2023

Poema: Uma mulher

 

Seu corpo magro dá vida ao vestido surrado

Seu caminhar é lento

Já fez de tudo pra ganhar um trocado

Agora só ganhar tempo

Sem pressa


As rugas adornam seu sorriso

Uma voz cavernosa trai o ar viciado

A fala solta enriquece seu saber

Saber que a luta nada lhe rendeu


Ah, os netos!

Seus tesouros na maturidade

Os filhos se perderam

Herdaram da mãe o desatino


Ninguém vê suas artes

espalhadas ao redor

Dos cacos sobrados fez jardins

As flores colorem seu pedaço de chão

e perfumam sua inspiração.


Abril de 2023

(Inspirada numa mulher, artista da região, que soube fazer da sua arte sua insistência de vida)

sábado, 15 de abril de 2023

Postagem do Facebook dia 15/04/2023 / Amanheci em flor

 

(Enquanto trabalho na revisão do meu próximo livro, a ser lançado em breve, poetar é preciso.)


Amanheci em flor



Vaguei pelas orquídeas
Encantei-me com os maracujás

Minha casa acordou
com o perfume dos camarás

Um tucano olhou-me desconfiado
saboreava um abacate no chão

Uma água no corpo
distrai meu coração

(manhã de 15/04/2023)
Fotografia: Flores de camará
T

quarta-feira, 12 de abril de 2023

Declaração às onze horas

 

                          

                  

                  

Com faces em rubor

a menina dentro de mim

declara o seu amor

e, se esgota, enfim.



Fotografia: Flor onze-horas  (arquivo pessoal)

Mário Campos, 12/04/2023


segunda-feira, 10 de abril de 2023

Postagem do Facebook de 10/04/2023 Crônica: A paçoca mais gostosa


Levantamos ainda com um sol avermelhado despontando sobre as águas da praia de Camburi, bem defronte a nós. O reflexo do sol no vidro da janela ao lado era um sol a parte. Dois sois me chamando para a caminhada com meus pés beijando o frio da água salgada.

Lá fomos nós saciadas pelo ostensivo café da manhã do hotel.

O mar estava desconvidativo para meu mergulho. As areias estavam pesadas demais para a caminhada proposta.

"Ontem aqui parecia uma piscina. Hoje o mar está puxando muito", disse um pescador solitário embora houvessem alguns deles e muitos molinetes armados.

O calçadão estava tranquilo, com pistas bem demarcadas para caminhantes, ciclistas, skatistas e pessoas com patins.

Caminhamos até quando nossas panturrilhas nos fizeram parar.

Fizemos alguns alongamentos para as pernas e, exaustas, sentamos.

Já havíamos programado nosso passeio turístico para aquela manhã, o Convento da Penha em Vila Velha. E fomos para lá. O tal GPS ligado e, em alguns momentos, nos colocando em maus lençóis, ou melhor, em ruas sem saídas ou na contramão. Mas, enfim chegamos na portaria. Optei por subir de van depois que nos falaram sobre a distância e altitude da construção medieval. 

Olhando ao redor lembrei-me do majestoso museu Mariano Procópio, em Juiz de Fora. 

Ainda dentro da van pude ver uma imagem de São Francisco de Assis, solitário entre as árvores, numa curva da estradinha estreita, calçada com pedras pé- de-moleque. Descemos numa pracinha repleta de turistas, romeiros, procissão de religiosos - afinal estávamos na quaresma. Alí nos esbaldamos com as paisagens do mar lá embaixo circundando a ilha de Vitória. A partir dali teríamos que subir uns cem, ou mais degraus íngremes, estreitos e escorregadios para o grande número de pessoas. Fui devagar. Queria ver cada ângulo oferecido ao redor do convento.  A história do convento da Penha tem início a partir de 1558 e ele é considerado o monumento religioso mais importante da arquitetura capixaba. Adorei conhecer as ruas e pracinhas ao redor do penhasco. Lamentei não ter conseguido entrar na Igreja de N. Sra do Rosário. Por ali todas as ruas tem os nomes dos colonizadores portugueses.

A fome chegou e a vontade de comer chegou junto. Aí começou nosso desespero que aumentava à medida que não encontrávamos restaurantes abertos na cidade. Minha fome traduz-se por irritabilidade. E eu estava muito nervosa. Depois de muito andar a pé ou de carro no sol do meio-dia, encontramos uma simpática padaria com lanchonete. Entramos e vimos que também serviam almoço. Sentamos numa mesa na varanda.  Pedidos feitos. Pedidos servidos. 

Então chegaram dois meninos com caixinhas nas mãos oferecendo não sei o quê. Diante de nossa negativa, pediu-nos um refrigerante. Minha filha levantou e foi com eles até a geladeira para pegar o que eles queriam. Ela observou que eles não pediram o litro. Escolheram o sabor e pegaram uma garrafa de tamanho médio. Ao saírem, passaram por mim e ofereceram uma paçoca. A vida já me ensinou que cada um dá o que tem e, portanto, eu não deveria recusar o presente oferecido com um belo sorriso infantil na face morena. O menino enfiou a mão na caixinha, que eu pensava estar vazia, tirou outra paçoca e falou “Essa é para a filha da senhora”.

Posso garantir que o sabor da dita paçoquinha foi o melhor que já comi em toda minha vida.

Voltamos para nosso quarto no hotel. Deitei para descansar o olhei pela janela. Lá estava o Convento da Penha que até então não tinha visto dali.





Chegada do avião ao aeroporto de Vitória









                                               Ponte ligando Vila Velha a Vitória