segunda-feira, 10 de abril de 2023

Postagem do Facebook de 10/04/2023 Crônica: A paçoca mais gostosa


Levantamos ainda com um sol avermelhado despontando sobre as águas da praia de Camburi, bem defronte a nós. O reflexo do sol no vidro da janela ao lado era um sol a parte. Dois sois me chamando para a caminhada com meus pés beijando o frio da água salgada.

Lá fomos nós saciadas pelo ostensivo café da manhã do hotel.

O mar estava desconvidativo para meu mergulho. As areias estavam pesadas demais para a caminhada proposta.

"Ontem aqui parecia uma piscina. Hoje o mar está puxando muito", disse um pescador solitário embora houvessem alguns deles e muitos molinetes armados.

O calçadão estava tranquilo, com pistas bem demarcadas para caminhantes, ciclistas, skatistas e pessoas com patins.

Caminhamos até quando nossas panturrilhas nos fizeram parar.

Fizemos alguns alongamentos para as pernas e, exaustas, sentamos.

Já havíamos programado nosso passeio turístico para aquela manhã, o Convento da Penha em Vila Velha. E fomos para lá. O tal GPS ligado e, em alguns momentos, nos colocando em maus lençóis, ou melhor, em ruas sem saídas ou na contramão. Mas, enfim chegamos na portaria. Optei por subir de van depois que nos falaram sobre a distância e altitude da construção medieval. 

Olhando ao redor lembrei-me do majestoso museu Mariano Procópio, em Juiz de Fora. 

Ainda dentro da van pude ver uma imagem de São Francisco de Assis, solitário entre as árvores, numa curva da estradinha estreita, calçada com pedras pé- de-moleque. Descemos numa pracinha repleta de turistas, romeiros, procissão de religiosos - afinal estávamos na quaresma. Alí nos esbaldamos com as paisagens do mar lá embaixo circundando a ilha de Vitória. A partir dali teríamos que subir uns cem, ou mais degraus íngremes, estreitos e escorregadios para o grande número de pessoas. Fui devagar. Queria ver cada ângulo oferecido ao redor do convento.  A história do convento da Penha tem início a partir de 1558 e ele é considerado o monumento religioso mais importante da arquitetura capixaba. Adorei conhecer as ruas e pracinhas ao redor do penhasco. Lamentei não ter conseguido entrar na Igreja de N. Sra do Rosário. Por ali todas as ruas tem os nomes dos colonizadores portugueses.

A fome chegou e a vontade de comer chegou junto. Aí começou nosso desespero que aumentava à medida que não encontrávamos restaurantes abertos na cidade. Minha fome traduz-se por irritabilidade. E eu estava muito nervosa. Depois de muito andar a pé ou de carro no sol do meio-dia, encontramos uma simpática padaria com lanchonete. Entramos e vimos que também serviam almoço. Sentamos numa mesa na varanda.  Pedidos feitos. Pedidos servidos. 

Então chegaram dois meninos com caixinhas nas mãos oferecendo não sei o quê. Diante de nossa negativa, pediu-nos um refrigerante. Minha filha levantou e foi com eles até a geladeira para pegar o que eles queriam. Ela observou que eles não pediram o litro. Escolheram o sabor e pegaram uma garrafa de tamanho médio. Ao saírem, passaram por mim e ofereceram uma paçoca. A vida já me ensinou que cada um dá o que tem e, portanto, eu não deveria recusar o presente oferecido com um belo sorriso infantil na face morena. O menino enfiou a mão na caixinha, que eu pensava estar vazia, tirou outra paçoca e falou “Essa é para a filha da senhora”.

Posso garantir que o sabor da dita paçoquinha foi o melhor que já comi em toda minha vida.

Voltamos para nosso quarto no hotel. Deitei para descansar o olhei pela janela. Lá estava o Convento da Penha que até então não tinha visto dali.





Chegada do avião ao aeroporto de Vitória









                                               Ponte ligando Vila Velha a Vitória

3 comentários:

  1. Muito legal, Rivelli! Muito humano. Saudades!

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  2. O Convento da Penha é lindo, eu já estive lá em 1995. O menino deu a paçoca em troca do refrigerante, lindo, era a moeda que ele tinha.

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  3. Que lindo, mãe! Muito bom ler esse aprendizado da vida. Obrigado!

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