quinta-feira, 27 de agosto de 2015
CERTEZAS E DÚVIDAS
Esta semana ouvi na Band News FM um comentário da Cris Guerra (Comentarista e Blogueira de Modas) que marcou bem meu dia. Então gostaria de deixar registrado aqui sua última frase acrescida da expressão mágica "Por favor".
Então vamos lá:
"Por favor, saia da frente com suas certezas porque quero passar com minhas dúvidas"
Abraços a todo(a)s aquele(a)s que tem suas certezas e suas dúvidas.
Maria do Rosário Rivelli
quinta-feira, 13 de agosto de 2015
Crônica: A ODISSEIA DAS MENINAS

Todas estudavam na mesma escola. Viviam como internas no Colégio Sagrado Coração de Jesus e Maria. Eram cinco irmãs, mais três primas e uma amiga do peito. Filhas de famílias importantes da cidade, netas de grandes fazendeiros, e uma delas era sobrinha do Padre da localidade.
Deveriam receber, além da formação ginasial e normalista, educação religiosa rigorosa com severa disciplina daquela famosa instituição para moças. Pois bem, se havia um esforço financeiro dos pais para mantê-las tão bem instaladas, havia também a distancia e isto era o desespero das meninas. Estavam muito distantes de casa.
A rotina no educandário era cheia de regras diárias que deveriam ser cumpridas sob pena de castigos. Rezar muitas Ave Marias, rezar em voz alta as mais difíceis orações católicas como a Salve Rainha e o Credo e tantas outras correções. Às vezes deveriam ser rezadas em latim e em voz alta. Era assim ou ficavam sem algumas regalias nos finais de semana. As penitências eram proporcionais à desobediência das regras em suas importâncias
Margarete era a mais aventureira delas, sempre se safava de suas penitências fazendo crerem que foi Bernadete ou Valmira a cantar aquela música proibida ou a colocar um rato debaixo dos cobertores da arrumadíssima cama da madre superiora. Durante muitas noites a danada da menina não dormia e, sorrateiramente, entrava nas despensas e roubava quitandas do café da manhã ou assustava as menores.
Laura era a mais velha e cabia a ela a ordem no quarto e a responsabilidade pelos deveres e pelo silêncio durante as várias horas do dia em que deviam se calar para referenciar os Santos. A mocinha nunca conseguia fazer-se obedecida e acabava rindo das artimanhas da irmã.
Cássia era a mais nova delas. Tinha uma voz rouca mas era facilmente imitada por Margarete quando esta se fazia passar por aquela inventado sonho aterrorizador nas frias madrugadas daquela escola. As freiras, em suas clausuras, escutavam a confusão e levantavam assustadas. Iam direto à cama da pobre irmã mais nova que nem sequer sabia o que estava se passando. Ela apenas sonhava com seu príncipe encantado.
Eliza sempre era a mais rezadeira e obediente e pagava alto preço por tal diante das outras. Uma vez a Tia lhe mandara roscas, tarecos e broas por um portador daquela cidade. Dizia que nunca sentiu o sabor das mesmas pois Margarete foi quem recebeu a encomenda e disse que havia sido enviada por sua mãe.
Devo dizer que a cidade era a fria Barbacena, ali mesmo onde o Rubião de Machado de Assis foi professor e onde conheceu Quincas Borba.
Raramente essas meninas poderiam ir até suas casas, além da distancia e da falta de estradas, não havia ônibus por aquelas bandas.
Houve um ano que a saudade dos pais e a espera pela chegada do período de férias despertaram nelas o desejo de saírem daquele presídio-orfanato-igreja-escola. Mas elas só podiam sair sob autorização prévia dos pais. E o telefone preto pesado nunca dava linha ou não se escutava o que se dizia do outro lado.
Pois bem, Margarete inventou um telefonema e disse à madre superiora que a mãe da Dete estava muito doente e que gostaria de ver a filha ainda naquela semana. A madre superiora, preocupada com situação da mãe da aluna, tratou logo todos os detalhes para a viagem de Dete. A menina deveria ser levada por Laura e Helena, as mais velhas e responsáveis, até a casa de um tio paterno. À noite o pai viria buscá-la. Laura e Helena dormiriam por lá e voltariam na manhã seguinte.
De madrugada, já com suas sacolas de roupas prontas, Valmira, Bernadete e Cássia, sob a ordenança de Margarte fugiram enquanto as irmãs faziam as orações noturnas em suas selas isoladas. Lá se foram elas, às escondidas, pelas ruas de Barbacena. Eliza ficou rezando. Desencorajou daquela falta gravíssima.
Tudo combinado. Pegariam o primeiro ônibus até Alto do Rio Doce passando por Desterro do Melo. Um percurso, em estrada de terra de setenta e seis quilômetros, que seria feito em quase três horas. De lá tentariam uma condução de tração animal, ou seja, uma charrete ou carro de boi, até Cipotânea que, naquela época, ainda se chamava São Caetano. De lá iriam a pé até Brás Pires, cidade de todas elas e de seus muitos familiares. Seriam apenas uns trinta quilômetros
As meninas fugitivas não calcularam bem o tempo que seria gasto. Pneus furados, motores fundidos, crianças passando mal, mulheres desesperadas, galinhas assustadas, cachorros latindo. E todo o inesperado aconteceu dentro do tal ônibus que nada mais era do que uma velha jardineira...
Chegaram em Alto do Rio Doce lá pelas duas horas da tarde.
"Eu bem que avisei que não daria certo." Era Dete, a mais quietinha, que já chorava com o estômago lá nas costas.
"E agora como vamos para São Caetano?" Era Cássia com sua vozinha rouca e aguda de menina pequena.
"Êta moçada frouxa! Vamos a pé uai..." Era Margarete diante de sua liderança ameaçada pelo atraso da viagem.
Ao lado, caladas, estavam Bernadete, sempre a sombra da irmã valentona, e Laura, a mais velha, que não apitava em nada. Mais à frente iam Helena a mais elegante, parceira das arrumações erradas, e Valmira, a princesa da corte. Seguiram, ainda mais caladas, o caminho já tantas vezes percorrido pelos Jeeps dos pais, dos tios e do Padre.
Pararam numa sombra próximo a uma bica d'água, depois de quase uma légua percorrida. A fome era maior que os passos. Comeram as quitandas deixando um outro tanto delas para mais um descanso.
Eis que surgiu uma poeirada no alto da serra. Só podia ser um carro. E lá apontou uma caminhonete, 1957, novinha em folha e o chofer ordenou: "as meninas podem subir na carroceria".
Agora todas felizes, rindo e olhando aquela beleza de se ver. Afinal ali era um pedaço da Serra da Mantiqueira e elas puderam avistar os vários veios d'água descendo pelos despenhadeiros.
"Agora ocês podem descer. É aqui que eu fico." Disse o salvador daquele desespero.
O sol começou a se por. Logo seria noite.
"Vamos apressar os passos. Se Jesus Cristo aguentou a andar, aguentou o jejum, a coroa de espinhos, nós vamos aguentar chegar em casa." Sempre Margarete, a manda- chuva.
E por falar em chuva, lá vem uma escuridão que não é a da noite. É muita chuva que vem por lá . Começaram os trovões e os relâmpagos a riscarem o céu.
"Tenho medo de trovão. Menino Jesus tá nos castigando". Era Cássia, a menor delas.
As roupas colaram nos corpos molhados, as quitandas encharcaram, as alpercatas de lona costuradas com corda de bacalhau ficaram pesadas de barro e grudavam na lama. E as meninas já não sabiam o que fazer.
Um milagre! Luzes na estrada. Chegou um Jeep conhecido. No volante estava o pai da Dete, que nesta hora tremia de frio, de medo dos relâmpagos e, agora, também de medo do pai.
"A madre superiora ligou para saber notícias da sua mãe." Disse o pai
Um caixeiro viajante daquelas bandas, havia passado por elas e reconheceu a filha do compadre Nilton. O pai ajuntou as peças do quebra cabeça e veio ao encalço de sua filha e das primas.
Foi um Deus nos acuda a chegada delas na cidadezinha que já sabia do acontecido e o comentário era só esse.
Os pais das cinco irmãs, entre elas a mentora de tudo aquilo, deram como castigo dezenas de Padre-Nossos, Ave -Marias, Salve-Rainhas, além de terem de ir até o confessionário e ajuntar os castigos que viriam dos céus por intermédio do Santo Padre. O pai de Valmira incluiu sua filha neste rezatório.
Por muito anos seguidos, todos aqueles pais e mães lembraram e contaram, cheios de orgulho, a odisseia das suas meninas.
03/07/2015
PS. Meio século depois, exceto uma, todas se casaram e algumas já viraram avós. Margarete está em Moçambique numa missão religiosa de ajuda humanitária mas, na minha opinião, ainda deve estar cumprindo suas penitências por tudo que fêz aqui no Brasil e deve estar fazendo por lá. Bernadete foi atrás. Obvio.
Um grande abraço a todas estas maravilhosas e destemidas primas (inclusive minhas primas também) cuja história inspirou-me a escrever este conto.
13/08/2015
sexta-feira, 7 de agosto de 2015
DONA MERCEDES E SEU JARDIM DE ROSAS
Eu morava naquela rua de terra batida com canos de ferro por debaixo mas que, raramente, conduzia a tão esperada água para nossas casas. Ainda bem que tinha a fontinha onde buscávamos os baldes do precioso líquido para o filtro de barro e para a comida.
Pela manhã íamos para a escola e a tarde era só brincadeiras depois de fazer os deveres de casa para o dia seguinte.
Nessa época, defronte a minha casa morava um casal que viera do Rio de Janeiro e eu adorava conversar com a Dona Elba só para ouvir aqueles inúmeros xis em todas as palavras, até mesmo naquelas que não estavam no plural mas que tinham os "esses" no meio delas. Eles tinham um casal de filhos. O rapaz era o mais velho e ficara na cidade dele, dizia que ele estava estudando. A mais nova era uma mocinha de um nome tão diferente dos nossos quanto seu jeito de mocinha carioca. Ela andava muito bem vestida. Eu achava muito esquisito eram seus sutiãs. Pareciam dois coadores de café. Eles eram rendados e sempre cor de rosa. Aquilo, me disseram, chamavam-se bojos, mas, para mim seriam sempre coadores de café.
O marido era de uma elegância e educação que parecia até mesmo um artista a desfilar pela nossa rua de terra. Mas esquisita mesmo era a Dona Mercedes, a mãe de Dona Elba. ao contrário da neta, ela não usava sutiãs e deixava os peitos soltos sob um vestido reto e de tecido fino. Aqueles peitos caídos balançavam tanto que fora apelidada de mamão de corda. Ainda bem que ela era surda e, mesmo que ouvisse, jamais daria atenção aos moleques daquela rua de pobres. Ela estava sempre limpinha e cheirosa. Parecia que saía do banho a toda hora. Com que água eu não sei, mas parecia.
Aos poucos Dona Mercedes fora construindo um pequeno jardim na frente de sua casa que era a única da rua que possibilitava tal beleza. O jardim coloriu de rosas e tantas outras flores aquele espaço cuja dona ficava o dia todo a tomar conta dele para que não roubassem suas plantas. Bem antes deles se mudarem para aquela casa, já eram costumes da meninada as várias brincadeiras de vólei, barra bandeira, piques e tantas outras, bem ali entre a tal casa e a minha casa. Ali se davam os encontros para o começar de tantas brincadeiras.
Eu e meus muitos irmãos, de vez em quando, atraíamos nossos vizinhos para ouvir os sons dos instrumentos musicais do nosso pai, para encenarmos peças teatrais, para as preparações das festas juninas e os aniversários. Tínhamos grandes pretensões artísticas culturais e, certamente, fizemos histórias naquela rua.
Mas, voltando para dona Mercedes, devo dizer que ela era muito brava e furava nossas bolas que, por ventura, escapasse dos espinhos das roseiras quando caíam nos seus jardins suspensos da Babilônia. Minha mãe sempre dizia que deveríamos brincar mais para cima, assim evitaríamos tantas bolas rasgadas e perdidas. Mas não. O melhor de tudo era exatamente provocá-la com nossas teimosias e depois lamentar mais uma bola perdida.
Eu nunca havia conhecido ninguém que fosse de outro estado, só conhecia mineiros. E minha rua era só de mineiros das Minas Gerais e mineiros que trabalhavam no Morro da Mina de onde se extraía o manganês. Dona Mercedes era gaúcha e ouvia dizer que gaúchos eram muito bravos e mandões. Mas sua braveza contrastava com a doçura de sua filha, Dona Elba.
Um dia, minha vizinha tão brava quanto aquela velha senhora resolveu enfrentá-la. Foi um Deus nos acuda. Fatinha era magrela, corajosa e sem papas na língua. Assim que soube que mais uma bola tinha sido rasgada fora tirar satisfações com a rasgadeira de bolas. As duas falavam e xingavam ao mesmo tempo e nenhuma escutava o que a outra dizia. Minha amiga esbravejava chamando-a de mamão de cordas e bolas. E Dona Mercedes a chamava de moleque de rua e dizia que em sua cidade colocava-se pimentas na boca de gurias assim. Minha mãe escutou a pendenga e foi lá separar as duas ferozes mulheres. Pediu a Fatinha que deixasse Dona Mercedes para lá, que respeitasse suas manias e sua idade. Assim se fez em "respeito a senhora Dona Mariinha", minha mãe, como afirmou a guria já mais calma.
Dona Mercedes tinha geladeira em sua casa e fazia os chup-chup para vender. E eles eram de todas as cores e nos encantava a todos. Meu irmão, Zé "o Gênio", roubava as pratinhas de centavos de réis da caixinha de moedas antigas do meu pai e comprava os tais chup-chup. E depois ria de suas travessuras. Além de surda ela também enxergava pouco.
Quando meu pai comprou nossa primeira televisão, preta e branca, foi um alvoroço na rua. À noite iam todos para nossa pequenina sala assistir a novela "Antonio Maria" na TV Tupi e dona Mercedes apaixonou pelo bigode do seu protagonista português. Será que ele, o bigode, lhe fazia lembrar outros bigodes? E eu não perdia um só capítulo da novela "Legião dos Esquecidos" na TV Excelsior com cenas às margens do rio Araguaia, na ilha do Pantanal. E tudo era no mais alto volume para que D Mercedes pudesse escutá-las.
Certamente foram muitos anos de vizinhança e implicança. E Dona Mercedes, lá no céu deve estar cuidando das rosas dos jardins de São Pedro. Mas aqui na terra ela continuará, eternamente, fazendo parte da história daquela rua de moleques pobres.
22/05/2015
terça-feira, 4 de agosto de 2015
AOS MEUS LEITORES NA RÚSSIA E LESTE EUROPEU
AOS MEUS LEITORES NA RÚSSIA,
NO NORDESTE E LESTE EUROPEU
Esta semana fui surpreendida com vários acessos de internautas da Rússia. No conto "NO MEU QUARTO UMA ASSOMBRAÇÃO", publicado em Junho de 2014, cito o meu amor pela Rússia desde criança.
Um dia ainda conhecerei Moscou com sua belíssima Pça Vermelha, suas riquezas arquitetônicas e naturais.
Um grande abraço a esses desconhecidos e amados leitores, sejam russos, ucranianos, estônios ou brasileiros na Rússia, na Ucrânia, na Estônia, respectivamente.
Aproveito para abraçar também brasileiros ou nativos que leem meus contos nos cinco continentes.
Gostaria muito de ler comentários de vocês.
Maria do Rosário Rivelli
04/08/2015
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