segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

Poema da idade - Artralgias


divido o valor 

em prestações 

- sem juros -

vou de ônibus leito

deito do lado esquerdo

dói a bursite trocantérica 

deito do lado direito

dói todo o quadril

deito de barriga prá cima

queima a região sacral,

flexiono os joelhos 

a "pata de ganso"

do joelho direito

me dá uma fisgada


Do lado de fora 

a lua compadece comigo

brinca de esconde-esconde

e leva minhas dores embora.

Durmo e sonho 

com minha infância

sem dores.

30/01/2023


Fotografia: Cidade de Angatuba, em São Paulo. Aqui comemos pastéis e tomamos uma Tubaína. E pude conhecer o extenso e belíssimo vale da região de Boa Vista.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2023

poema da idade - Ansiedade


Inquieta 

busco o ar

não o encontro


Inspiro lentamente

o ar não entra 

agora tento expirar

o ar não sai


Devagar. 

Vamos lá,

enchendo o peito de ar

Cadê o ar?


Abre a boca -

(assim ensinou a fisioterapeuta)


Agora 

busque o ar

De novo


A noite adentra


Acordo na madrugada 

cheia de calor

O CPAP  ressecou minha boca.


Ou é a lama da Vale, 

em Brumadinho,

matando meus sonhos. 


26/01/2023




segunda-feira, 23 de janeiro de 2023

Facebook dia 23/01/2023 Extermínio anunciado

            

Se não falar daquilo que tem atravessado a minha garganta não suportarei a angústia e o sufocamento. 

Preciso falar para não sucumbir. 

Nos últimos seis anos temos convivido com o avesso das condições humanizantes no Brasil e em tantos outros lugares do planeta. Guerras, miséria, fome, concentração de renda pela minoria, descaso dos governantes, políticas que  acobertam e promovem crimes de suas minorias, um verdadeiro holocausto a céu aberto patrocinado pela extrema direita do mundo. O capital. Ah, o capital!

Acompanhamos os terrores infligidos à nação brasileira iniciados logo após o golpe de 2016 e durante os quatro anos do último governo. - Obviamente que uma mulher presidenta era demais para cabeças criadas num sistema patriarcal - 

"Aqui no Brasil não!", teriam gritados os machões sem culhões para o exercício republicano. Sentimos ódio quando da descabida defesa do medicamento "ivermectina" para uma doença - Covid 19 - cujos efeitos terapêuticos não foram comprovados, ao contrário dos efeitos adversos conhecidamente descritos e comprovados. O mundo assistiu estarrecido as mortes por falta de Oxigênio das pessoas contaminadas pelo Coronavírus em Manaus enquanto aquele que deveria cuidar e amparar os doentes e seus familiares fazia bocas e caretas num deboche aos sinais angustiantes diante da morte pela falta de ar. 

Não quero relembrar as atrocidades cometidas por todo o clã Bolsonaro e seus adeptos nestes últimos quatro anos. - Aqui, lamento profundamente que alguns colegas médicos apoiaram e ainda defendem tal governo com as mais estapafúrdias argumentações - Nós médicos e demais profissionais de saúde jamais poderíamos estar do lado daqueles que promovem a morte. Estudamos, uma grande maioria, em universidades públicas pagas com dinheiro da população e nosso dever, além do compromisso hipocrático em defender a vida, seria devolver os recursos ao povo em forma de reconhecimento e gratidão. Não é o que temos visto.

Não quero remoer todos os sentimentos vividos nestes tempos de governo necrófilo, entretanto, as cenas dos índios Yanomamis morrendo por doenças que foram planejadas e plantadas por todos os mecanismos possíveis de perversidade, são cruéis por demais. A história recente e os documentários estadunidenses nos mostram como o governo exterminou a população indígena originária no oeste daquele imenso país. "Nossos governantes" copiaram direitinho a lição e executaram a tarefa.  

Pois bem, exigimos que todos os culpados pelo extermínio dos povos YANOMAMIS sejam severamente punidos conforme ditam as leis para genocidas.

E tenho dito. 

23/01/2023 


sábado, 7 de janeiro de 2023

Carta para meu neto - 2

 

Funil, 07 de janeiro de 2023

Dudu

Boa noite

Acabei de levantar aqui na minha casa. Seu pai me contou que você não quer conversar pelo celular nem ver nossos vídeos ou ouvir nossos áudios. E que você disse que só quer conversar com pessoas de carne e osso. Então vou te contar um segredo meu. Eu também, quando tinha a sua idade, não gostava de falar com ninguém. Fugia quando chegava visitas à minha casa. Tinha medo das pessoas. Ficava vendo tudo pelas frestas das portas – frestas eram os espaços ao longo das portas e os portais pois não havia um perfeito encaixe entre as madeiras. Eu adorava ouvir as palavras saindo como cachoeiras das bocas das pessoas. Aprendi a ler tão cedo quanto você para escrever o que eu queria falar. Acho que sentia preguiça de falar.

Mas quero lhe dizer que voltei a estudar inglês, assim como seu pai me orientou, para ir ver você “de carne e osso”. Quero lhe abraçar e continuar nossas viagens pelo universo nas suas potentes naves espaciais.

Enquanto isso vou continuar lhe escrevendo para matar um pouquinho as saudades que tenho de você. Ok?

Como estão seus novos amigos, e o chinesinho que não fala inglês e que brinca com você através de mímicas? Dê um abraço neles por mim e diz que foi sua vovó muito linda quem mandou. Ok?

Eu gosto muuuiiittto de você.

Até breve ou até quando eu conseguir dizer “Hello”.

Abrace seus pais para mim.

                         Sua vovó aqui do Brasil