Adiando iniciar a releitura deste clássico, presente de uma grande amiga, deparo com o prefácio brilhante de Thomas Mann. E qual não foi minha surpresa ao constatá-lo tão contemporâneo. Em conversa com meu filho, do outro lado do planeta, sobre tal constatação, simplesmente ele me disse “mãe, a luta de classes é desde sempre e assim será sempre”.
Pois bem, nesta semana em que ouvi “narrativas” de deputados federai s da direita e senadores da república nas CPMIs de “8 de janeiro” e do MST e, nesta semana em que ouvi pedaços de entrevistas de um “tVal” senador, não pude deixar de me indignar com tudo que temos ouvido desses senhores e senhoras. Não somos idiotas. Sabemos bem do que se trata a aversão à verdade dos fatos. Sabemos bem a quem servem as “narrativas”, as “fake news” e toda espécie de “conservas fiadas” engendradas para engambelar os eleitores. O povo brasileiro, muitas vezes, não teve acesso ao lado verdadeiro da história do Brasil e do mundo, entretanto, o povo brasileiro é sábio e saberá distinguir o “joio do trigo”.
Por issol, aqui transcrevo trechos do prefácio em que Thomas Mann nos escreve majestosamente, sobre a “luta de classes”, ao se referir a um dos personagens principais do grande clássico russo que estaria contra os avanços científicos do século XIX.
Leiamos;
“Ele está a um passo à frente, e não posso deixar de chama-lo de um passo muito perigoso, que, se não for acompanhado pelo mais profundo amor à verdade e simpatia humana, pode conduzir ao obscurantismo e à barbárie.”
Noutro trecho ele diz:
“Hoje, não é de forma alguma um sinal de coragem individual descartar o cultivo científico do século XIX para retornar ao “mito”, à “fé”, ou seja, uma vulgaridade condenável e assassina da cultura. Isso tem ocorrido massivamente, embora não seja um passo à frente, mas cem quilômetros para trás.”
E Thomas Mann termina o prefácio com esta belíssima afirmação:
“A arte é o símbolo mais belo, mais rigoroso, mais alegre e piedoso de toda suprarracional aspiração humana pelo bem, pela verdade e pela perfeição; e o sopro do mar rolante da época não expandiria tão vivamente nosso peito se não trouxesse consigo o forte e refrescante aroma do espiritual e do divino” (Noordwijk ann Zee, julho de 1939)
Creio que, agora, poderei começar a leitura de Anna Kariênina do grande escritor russo, Lev Tolstói.
Mário Campos, 17/06/2023