sábado, 17 de junho de 2023

Crônica do mal estar da semana

 


Adiando iniciar a releitura deste clássico, presente de uma grande amiga, deparo com o prefácio brilhante de Thomas Mann. E qual não foi minha surpresa ao constatá-lo tão contemporâneo. Em conversa com meu filho, do outro lado do planeta, sobre tal constatação, simplesmente ele me disse “mãe, a luta de classes é desde sempre e assim será sempre”.

Pois bem, nesta semana em que ouvi “narrativas” de deputados federai s da direita e senadores da república nas CPMIs de “8 de janeiro” e do MST e, nesta semana em que ouvi pedaços de entrevistas de um “tVal” senador, não pude deixar de me indignar com tudo que temos ouvido desses senhores e senhoras. Não somos idiotas. Sabemos bem do que se trata a aversão à verdade dos fatos. Sabemos bem a quem servem as “narrativas”, as “fake news” e toda espécie de “conservas fiadas” engendradas para engambelar os eleitores. O povo brasileiro, muitas vezes, não teve acesso ao lado verdadeiro da história do Brasil e do mundo, entretanto, o povo brasileiro é sábio e saberá distinguir o “joio do trigo”.

Por issol, aqui transcrevo trechos do prefácio em que Thomas Mann nos escreve majestosamente, sobre a “luta de classes”, ao se referir a um dos personagens principais do grande clássico russo que estaria contra os avanços científicos do século XIX.

Leiamos;

“Ele está a um passo à frente, e não posso deixar de chama-lo de um passo muito perigoso, que, se não for acompanhado pelo mais profundo amor à verdade e simpatia humana, pode conduzir ao obscurantismo e à barbárie.”

Noutro trecho ele diz:
“Hoje, não é de forma alguma um sinal de coragem individual descartar o cultivo científico do século XIX para retornar ao “mito”, à “fé”, ou seja, uma vulgaridade condenável e assassina da cultura. Isso tem ocorrido massivamente, embora não seja um passo à frente, mas cem quilômetros para trás.”

E Thomas Mann termina o prefácio com esta belíssima afirmação:

“A arte é o símbolo mais belo, mais rigoroso, mais alegre e piedoso de toda suprarracional aspiração humana pelo bem, pela verdade e pela perfeição; e o sopro do mar rolante da época não expandiria tão vivamente nosso peito se não trouxesse consigo o forte e refrescante aroma do espiritual e do divino” (Noordwijk ann Zee, julho de 1939)

Creio que, agora, poderei começar a leitura de Anna Kariênina do grande escritor russo, Lev Tolstói.

Mário Campos, 17/06/2023

sexta-feira, 16 de junho de 2023

Entrevista à Rádio UFMG Educativa/ Ridículas cartas de amor





Olá leitores,

é com muito alegria que deixo abaixo o link da entrevista que dei à Rádio UFMG Educativa, no programa Universo Literário, sobre meu novo livro "Ridículas cartas de amor". Foi uma conversa muito agradável com a jornalista Michelle Bruck no dia 12 de junho, Dia do Namorados.

Informo que os livros estão à venda comigo através do email contosderivelli@gmail.com ou pela página "Contos de Rivelli" no Facebook, através do Messenger.

O valor  é de R$50,00 com frete incluso.

Espero que gostem das minhas cartas que, realmente são muito ridículas, "não fossem ridículas não seriam cartas de amor" como bem nos disse o grande poeta Fernando Pessoa.

Abraços literários afetuosos.

16/06/2023
Funil, Mário Campos (M.G.)


quinta-feira, 8 de junho de 2023

Poema: Manhã divertida

 

                                         


Hoje cedo fui no meu quintal

Peguei maracujás

Reguei as plantas

Dei ração para as galinhas 

Coloquei alpiste com fubá 

para os pássaros virem comer

Fotografei flores e frutas

Botei roupas para lavar

E lavei meu coração


08/06/2023

Autoria: Pérola Liz (seis anos) dedicando este poema para Ana Luísa (sua mamãe), para Rosilene (sua vovó), para suas titias (Maria Clara e Cecília), para Gustavo (seu papai), para sua professora , Vera e para mim, Rivelli

Fotografias: feitas nesta manhã no meu quintal

















quinta-feira, 1 de junho de 2023

Carta para meu neto

 


Meu querido menino

Sabe, meu neto, na última hora decidi passar pela serra. Você sabe do tanto que gosto das estradinhas no meio da serra. Não é? Mas não me pergunte por quê. Seu pai preferiria sempre as rodovias dizendo que elas são mais rápidas. Só que eu nunca tenho pressa. Já havia feito, na minha cabeça, todo o trajeto passando por Betim, Contagem (por Figusgu*, lembra?) e por Belo Horizonte. Era aniversário da Tia Dadaça, em Lafaiete, e eu queria dar um abraço nela.

A estradinha estava mais linda ainda, pois estava com asfalto novo. Olhei no marcador da quilometragem, seriam 43 km até a BR 040, bem ali na Lagoa dos Ingleses. Desta vez não prestei atenção na beleza no entorno de todo o trecho. Meu nariz, este sim, foi invadido pelo cheiro da poeira nas árvores. Outono é assim mesmo. Folhas secas e empoeiradas. Lembra-se da neblina na serra bem atrás da sua casa?

Mas quero te contar o que houve quando cheguei ao trevo para Ouro Branco. O carro deu uma rabanada pra esquerda e quase saiu da BR. Segurei firme no volante. Acho que o carro também estava com saudades das feirinhas naquela avenida bonita perto da sua casa. Lembra que íamos lá pra comer mingau de milho verde com muita canela? Você ainda bebia aqueles sucos deliciosos feitos na hora para você. Lembra?

Mas menino, você nem imagina o que aconteceu logo depois! O carro começou a andar sozinho. Entrou num caminho quando viu uma placa onde estava escrito assim: “N.Z. Kiwi logo à frente”. E logo à frente tinha uma nave espacial. Lá de dentro saiu um homenzinho muito esquisito e me chamou para entrar na nave. E eu fui. Ele ligou os botões, acelerou as turbinas e viajamos pelos espaços. Parece que dormi. Quando acordei a nave estava parada no ar, o homenzinho me chamou e me apontou com seu dedo vermelho reluzente lá embaixo.

E lá embaixo estava você brincando com seus novos amiguinhos. Dava cada gargalhada que eu, mesmo bem surda, ouvia de dentro daquela coisa cheia de barafundas piscando. Fiquei muito feliz de ver você sorrindo. E como chamam seus novos amigos? Seu pai me contou que você tem um amigo chines que ouviu a música do carcará e saiu gritando "carcará!". Diz para ele sobre esse nosso pássaro das campinas chamado carcará. Esqueci que ele não sabe falar ingles.


Então decidi que irei ver você nesta ilha famosa. E me aguarde porque em breve chegarei montado nas asas de algum avião. Ou, quem sabe, meu carro velho resolve ir também. Assim iremos voando entre as estrelas. A saudade é tanta que irei de qualquer jeito até montada num camelo.

Abraços da vovó Zarinha.

*Figusgu é o nome de uma cidade imaginária de gatos criada por meu neto. Ela fica próxima a Contagem.

Fotografia: Casa do marinheiro, Lavras Novas, Ouro Preto, Minas Gerais