sábado, 26 de outubro de 2019

Crônica: Os flamboyants das Retas 1 e 2 da cidade de Mário Campos (MG)









Numa manhã desta semana, enquanto ainda tomava meu café, meus olhos foram coloridos pelas flores rosas do ipê à entrada da minha casa/chalé. É a primeira florada de um dos três pés de ipê que plantei na terrinha logo que cheguei aqui há pouco mais de dez anos. Já havia pés de ipê amarelos cascudos, como aqueles do cerrado mineiro. (Numa tarde de intensa ventania, o "pai de todos" voou pelos ares. O tronco principal foi partido ao meio, mas manteve fixo à terra. Hoje ele está coberto pelas raízes aéreas da pitaia.) 

Plantei também um ipê branco, outro roxo e um cedro. Ainda não floriram embora caminhem para uma primeira floração. Fico esperando.

Na época vários fatores me levaram a morar nesta região. Alguns  deles foram o relevo da região, o Rio Paraopeba e as flores margeando a estrada. 

Mas não foi para falar da floração do meu ipê rosa que estou cá a escrever. Quero falar de outras flores que colorem meus olhos na estrada que liga Mário Campos a Brumadinho. 

Quem transita por aqui não pode deixar de admirar os coloridos escandalosos dos vários flamboyants, à direita em sentido a Brumadinho/Inhotim, das Retas 1 e 2, nomes que os máriocampenses carinhosamente deram a esses dois trechos da estrada, ainda dentro do município. Nesta época do ano suas flores misturam o amarelo ouro ao vermelho vigoroso e alaranjado formando imensos cachos densos contrastando com o verde vivo brilhante de suas folhas.  Sem falar que toda a cidade, na primavera, é um canteiro de flores. E tem árvores florindo em todas as estações do ano.

Convoco os olhos dos motoristas e demais viajantes a se extasiarem com os coloridos destas flores ao transitarem por aqui. E convoco os moradores de Mário Campos e órgãos públicos competentes a transformarem estes majestosos flamboyants em Patrimônio Material de Mário Campos.

Aproveito para agradecer ao município que tão bem me acolheu em suas terras.

                    
    26 de outubro, manhã de sábado/Funil/ Mário Campos


(*) O flamboyant é uma árvore de copa abundante e irregular que costuma exibir suas exuberantes flores de forma vigorosa na época do verão. Não tem como passar por essa árvore sem admirá-la, pois, além de bela é radiante com suas flores vermelhas levantando qualquer astral! Esta árvore é considerada uma das mais belas do mundo, devido ao colorido intenso de suas flores. É muito frondosa, possui tronco forte e um pouco retorcido e sua copa é muito ampla, cuja largura pode ser maior do que a própria altura da árvore.
(https://www,greenme.com.br/comoplantar/6939-arvore-flamboyant)

quinta-feira, 24 de outubro de 2019

Palavras do meu neto

Há uma semana tive que fazer uma viagem a Juiz de Fora. 

Aproveitei e passei em Ouro Branco para ver Dudu, meu neto de quase quatro anos. 

Fui, com os pais, buscá-lo à saída da escola. 

Assim que me viu, abriu um sorriso e perguntou:

- Você está morrendo de saudades de mim? 

Respondi que sim. Então ele emendou:

- Ainda bem que me encontrou!

24/10/2019

segunda-feira, 14 de outubro de 2019

Lançamento do livro "Olhares Clínicos" - Juiz de Fora



Após mais de trinta anos de formados um grupo de colegas médicos afins aproximou para relembrar os tempos de faculdade. 

Ávidos pelas histórias, pelos causos, pelos contos e poemas, estes jovens doutores se encantaram. Dai nasceu a ideia da coletânea dos nossos escritos. Então nosso livro, que fora gestado bem antes, nasceu nesta primavera. 

Para o primeiro lançamento escolhemos homenagear a cidade de Juiz de Fora que, ainda nos anos setenta, acolheu estes jovens para o curso de medicina na UFJF.

"Olhares Clínicos" traz aquilo que, de cada um, transborda da alma.

Convidamos você, seus familiares e amigos para esta noite tão especial. Venham comemorar conosco este transbordamento de felicidade.

Data: 18 de Outubro, sexta-feira.

Horário: 19:30h 

Local: Associação Cultural Brasil- Estados Unidos

          Rua Braz Bernardino, 73 - Centro - Juiz de Fora









quinta-feira, 3 de outubro de 2019

JALAPÃO III: MULHERES DOURADAS E CAPIM JALAPOEIRO



Já me perdi nas estreitas e longas trilhas arenosas em meio às veredas que circundam o Jalapão. Mas não quero esquecer das serras que constituem as fronteiras agrícolas do MATOPIBA OU DO MAPITOBA* embora não tenha conseguido guardar qual serra faz fronteira com qual estado.

Entretanto meus olhos guardaram a exuberância das formações rochosas de arenitos coloridos e seus platôs retilíneos, certamente provocados pela ação dos ventos nos milhões de anos passados.

Durantes as quatro noites e cinco dias que ali passamos numa convivência festiva e próxima tudo em mim era sentido. Era pura emoção. A razão ficaria para depois. Sempre é assim em minhas viagens. Fico tomada pelos sentidos e só “a posteriori” vou colocando as coisas nos seus devidos lugares e entender o que se passou.

Pois bem, agora quero falar do que senti ao vivenciar e observar algumas cenas da nossa expedição pelo cerrado.  

Onde estava o capim dourado tão encantado? Enquanto não havia arriscado na pergunta pensei que todo aquele capinzal cor de ouro envelhecido na beira das estradas fosse ele. Não era.

Fui procurar informações e descobri que o capim dourado é uma espécie da sempre-viva de cor dourada. Ele vem sendo usado para confecção de bijuterias e peças de decoração desde o início do século XX. A técnica foi trazida pelos índios Xerente à região do quilombola da Mumbuca, no município de Mateiros, em Tocantins.

- “É proibido entrar na área dele.” Informou o guia. A resposta me decepcionou. Mas logo depois, durante a travessia de uma longa passarela até um dos vários rios da região, o guia me apresentou ao capim dourado. Uma pequenina moita de capim cujos filetes brilhavam ao sol. Pareciam fios de ouro.

Mais tarde fui entender algumas questões que envolvem o cuidado com o capim dourado. Naqueles dias de nossa expedição estava chegando a época da colheita para a confecção dos artesanatos e existem regulamentos de proteção evitando assim a pirataria e sua extinção no cerrado. E a delicadeza de sua floração agradece aos órgãos de defesa de tão rara espécie.

Entre mergulhos em rios e banhos em cachoeiras parávamos para nossas refeições. É aqui que as mulheres entram em minha história. Elas estavam por todos os lugares. Ora nos servindo almoço. Ora nos oferecendo doces regionais, um pedaço de queijo, um suco. Sempre num sorriso que saía da alma e entrava em nós. Eram elas as protagonistas do cerrado.

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No caminho das Dunas, local de estonteante beleza e difícil acesso, encontramos uma delas. Vendia a famosa cachaça com jalapa. Recebia a todos com as mesmas palavras: “jalapa é uma batata do cerrado e que deu origem ao nome. Ela é medicinal, é depurativa do sangue, bom para o intestino, levanta o astral e rejuvenesce. E venha você conhecer o Jalapão e beber a jalapa”. 

E claro que, depois de tantas propriedades, todas nós provamos da cachaça com jalapa. Uma delícia ...

Mas, enquanto ouvia a repetição da mulher para outros turistas, meus olhos clínicos viram um jovem solitário, de pé, com "facies” tristonha e face edematosa, certamente cheia de cachaça. A cena me doeu o coração. Calado ele estava. E calado continuou. Pegou carona na carroceria de uma das Toyotas. Era filho da vendedora da jalapa que pediu a carona. Ali no Jalapão, conforme fui ler no depois, pode-se viajar por até cinco dias sem ver uma única pessoa. O sol queimando as areias inviabiliza o caminhar e existem apenas as comunidades quilombolas remanescentes de escravos que fugiam das fazendas na Bahia e alguns índios.  Por isto apenas carros grandes, com trações nas quatro rodas, conseguem trafegar pelos bancos de areia.

E a  solidariedade dos guias, em várias ocasiões, não me passou em branco.

Numa outra localidade encontramos as bijuterias, bolsas e algumas peças de decoração numa minúscula choupana de palha. A mulher, jovem, inibida e envergonhada, tentava atender a todas nós e nossas ansiedades pelas compras confeccionadas com o famoso capim dourado. Era ela e o marido alternando entre a confecção e a venda. “Cada peça que vocês compraram é um tijolo para a casinha deles” iria nos dizer, mais tarde, um dos guia, muito emocionado e agradecido por nossas compras.

Chegamos à comunidade do Prata. Outro quilombola. Este pertencente à cidade de São Félix. Obras públicas por todo o entorno. Uma mulher com sua filha pequena veio nos atender no espaço comunitário de venda dos produtos locais. Doces, rapaduras, bijuterias, canetas com envoltório do capim dourado e outras pequenas peças. Perguntei se havia uma unidade de saúde na comunidade dadas a dimensão da localidade e sua provável elevada densidade demográfica em relação às demais. “Havia a doutora Maria que o governo mandou embora prometendo mandar outro médico para nós.” Respondeu a artesã. Era uma médica cubana que atendia a todos naquele distante Brasil.

E, na noite do aniversário da minha filha no meio do Jalapão, elas fizeram um delicioso bolo com direito a recheio e cobertura. Ajudaram a cantar os parabéns e agradeceram a nossa presença.

Num dos almoços que aconteciam com mesas fartas de pratos regionais uma das cozinheiras nos fêz um delicioso estrogonofe de legumes e nos apresentou outras tantas iguarias que elas fizeram mesmo sem ter energia elétrica no local. "O gerador é pequeno e não conseguimos gelo para os sucos mas o patrão foi buscar e logo chega." Era ela a se desculpar. Logo o gelo chegou e ela nos serviu deliciosos refrescos de frutas.

Sempre lá estavam elas a nos servir nos restaurantes e pousadas. Havia eficiência, dedicação e prazer naquilo que faziam. Procuravam fazer o melhor para atender as “turistas do sul” como se fôssemos superiores a elas.
Mal sabiam que todas nós ali nos tornamos pequenas demais diante da grandeza de todas elas.

Comprei rapaduras, doces, cachaça, blusinha para meu neto, brincos e pulseiras. Com estes presentes trouxe um pedaço da fortaleza das mulheres jalapoeiras e a beleza do capim dourado.







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Fotos:
11)    Mandalas de Capim dourado
( 2)    Mandalas de Capim dourado
( 3)    Exposição de peças de capim dourado
( 4)    Floração de sucupira
( 5)    Cachoeira da Velha
( 6)    Cachoeira da Velha
( 7)    Trilhas arenosas e, ao fundo, Serra do Espírito Santo.
( 8)    Passarela a um os Fervedouros


(*) MATOPIBA ou MAPITOBA são as iniciais dos nomes dos quatro estados brasileiros que compõem a fronteira agrícola. Maranhão - Tocantins - Piauí – Bahia.

OBSERVAÇÃO: Agradeço às jovens turistas que estiveram junto comigo nesta expedição e que, prontamente, me enviaram fotos e vídeos para que pudesse ilustrar e lembrar de alguns fatos.