Decidi que desta vez eu iria lá. Já houve um encontro da turma no mesmo local e outros tantos convites. Recusei a todos. Agora foi diferente. Eu queria ir; precisava ir e fui. A principio estava decidida ir de carro, mas pensando bem, comprei passagens e viajei por mais de seis horas até Viçosa. Ali visitei uma velha colega da pediatria e revi primos. De lá fomos de carro para nosso destino final: Muriaé. Meu amigo mandou um motorista nos buscar. Chegamos depois das vinte e uma horas. Valeu!
Muitos abraços. Muitos sorrisos. Uma mesa posta para o jantar. E uma casa saída dos filmes de faroeste. Em estilo rústico, com muitas histórias sobre sua construção. Acho que voltarei para ouvir essas histórias. E a noite foi pequena para tantos assuntos.
Na manhã seguinte, após um café com frutas e coalhada libanesa, o anfitrião nos levou por entre seus jardins. Flores, árvores, arbustos, caminhos tortuosos, talude de antúrios, espaços de descanso debaixo de pérgolas coloridas, redes, bancos. Uma capela da Sagrada Família com telhado em escama de peixe, projeto contemporâneo de iluminação e pedras nas paredes do barranco escarpado.
Meus passos, algumas vezes, se perderam entre tanta exuberância da natureza. A flor da vitória-régia convocou nossos olhares para um dos lagos. O jardim japonês até que tentou colocar ordem no nosso caminhar. Mas já estávamos perdidas e perdidos no emaranhado de tanta beleza.
Nosso anfitrião, calmamente, ia respondendo nossas inúmeras perguntas. "Aquela é uma árvore africana e seu nome é 'para soleil'", "aquele é um baobá", "vejam aquela com tronco cor de cobre". Além de espécies raras há também o cultivo de árvores frutíferas para atrair pássaros. O jambeiro está na sua época de frutos e pensei que eram maçãs. Muitos jambos avermelhados pontilhando o chão. Meu colega sabe os nomes científicos de todas aquelas plantas. E tem cada nome!
Quis conhecer o galinheiro e a história da raposa que visita a casa e dorme numa toca bem ali pertinho.
Chegou a hora do nosso almoço em Pirapanema, distrito de Muriaé, na Serra do Brigadeiro. Observar as montanhas lá do alto foi um momento único naquela viagem.
Para o jantar mudamos de casa. Agora nossa anfitriã é uma mulher de outras artes. A música. E ouvimos músicas que encantaram nossos ouvidos. Conversamos. Lemos poemas. E rimos por quaisquer lembranças. Variados e deliciosos pratos nos foram servidos. Naquela hora ao som de uma música cubana.
Na manhã de domingo um café bem mineiro. Despedidas e a volta para casa.
Agora fiquei aqui pensando no meu colega anfitrião que, em tempos de faculdade, não conseguia parar tamanha ansiedade. Tinha suores por todo o corpo, risos nervosos e passos apressados. Hoje seus suores brotaram em flores, seu corpo exala as fragrâncias de suas plantas e seu andar tem a firmeza dos troncos de suas árvores. Penso que foi recriado num sopro especial. Não foi por acaso que se tornou um grande Pneumologista.
Temos outro colega na cidade que, em tempos da faculdade, andava desvairado pelas ruas da cidade. Entretanto mais tarde, ficaria embriagado pelos acordes da musicista e se encontraria na perdição do amor.
Concluo que Gênesis e seu sopro da vida andaram soltos por Muriaé.