E foi em Inhotim, naquele belo canto do planeta Terra, que os amigos bichos resolveram se encontrar. Depois de muitas discussões para escolha da data, do local e quais bichos viriam para o referido encontro, acertaram que tal deveria acontecer no último final de semana de maio e no centro de arte contemporânea, na cidade de Brumadinho.
terça-feira, 30 de maio de 2017
segunda-feira, 22 de maio de 2017
Poesia concreta: Viagens
Viagens
esperadas
Estradas
esburacadas
Montanhas
degradadas
tom sobre tom
Marrons
vermelhas
alaranjadas
Ilusão?
Não:
Mineração
02/11/2016
quinta-feira, 18 de maio de 2017
Ele e Eu
Eu em preto
e branco,
ele colorido
Ele cheio de palavras
eu emudecida
Ele razão,
eu coração
Eu curvilínea,
ele vetores
Ele ensolarado,
eu sombra
Eu jasmim,
ele tronco
Eu paixão,
ele mansidão
Ele completo,
eu pedaços
Ele ponto final,
eu reticências
...
Betim, 15/05/2017
OBS: Este poema foi escrito para o tema proposto acerca da reinvenção de Adão e Eva. Obviamente sob minha ótica.
quinta-feira, 11 de maio de 2017
Sou fases
Nasci sob o signo de câncer
com ascendência em câncer
Regida pela lua
Logo sou filha da lua
Não se assuste
se adormeço pedra
e acordo água
Posso agora estar livre
para no instante seguinte
me aprisionar
Sou assim
cheia
minguante
novamente nova
em crescente
e cheia de novo
Feliz de mim
que sou assim
05/05/2017
sexta-feira, 5 de maio de 2017
Leite
Diziam alguns que ele viera da vizinha cidade de Calambau (*). Outros que ele aparecera numa manhã gelada do mês de maio pedindo um cobertor e uma branquinha; que logo fora se acocorando aqui e acolá até fazer parte dos moradores dali. Entretanto todos fossem unânimes em negar seu nascimento naquela terra tão cheia de católicos e homens de bem. Mas o dito homem, também filho de Deus, contava uma história de sua vida muito da desventurada. Talvez toda a conversa tivesse um único motivo, qual seja: ser aceito com seu vício, a danada da cachaça.
Contou ele que certa feita estava na missa e sentiu uns olhares furtivos em cima dele. "E que olhos danados de negros e belos!", contou ele. Não abaixou a cabeça pois vergonha alguma tinha o nosso moço. Reteve seus olhos furta-cor e encarou a cabrocha. Sentiu uma fisgada no peito e logo entendeu a bendita. Era a flecha de um cupido que acabara de penetrar no seu coração. Aqueles olhos foram certeiros assim com certeira fora a flechada do menino dos cabelos encaracolados. Se fosse doutor logo entenderia a taquicardia no peito. Era o fogo do amor.
"De quem seria aquele par de olhos a botar disparate no seu peito?" Pensou ele.
Comungou e pecou ao mesmo tempo. Saiu da igreja e fora logo perguntar quem era a moça.
"É a esposa do novo cabo! Sabia não!? Dizem que tem fogo no rabo e que, quem se intromete com ela, vai preso e toma uma surra dos soldados. Daquelas bem dadas"
Tarde demais para saber daqueles saberes. Ao voltar para casa deu com um bilhete debaixo da porta de sua casa. A mãe ainda não havia chegado da reza. Milagre. Um encontro marcado com a ditosa moça que por nome assinara "Tidinha". Ele não era de recusar pedidos de donzelas pois sabia que dava azar deixar uma mulher desejosa de homem escolhido.
Passou o resto do dia a desejar o encontro. Imaginava aqueles olhos negros a pedir sexo. E lá foi ele dar sexo à pedinte.
Eis que o marido chegou justo quando ele mordiscava os peitos deliciosos da sua deusa. Foi um Deus nos acuda. O cabo levou nosso moço para ver o sol nascer quadrado. Depois fez sexo com a sua esposa na radiosa noite. Era só assim que aquele homem da lei chegava no finalmente dos amores impudicos com sua digníssima esposa.
Na manhã seguinte o rapaz foi solto e rumou direto para casa. Ainda podia sentir o sabor daqueles mamilos tão perfumados. Queria e desejava mais.
Passados alguns dias vamos encontrá-lo saboreando uma branquinha e dizendo que aquilo tinha o mesmo gosto do leite dos peitos da mulher do cabo. E quem ouviu aquelas indecências não deixou de passar para frente a comparação. Logo todos queriam ouvi-lo afirmar e reafirmar o que dissera.
O rapaz, que já não tinha lá tanta vergonha na cara, passou a embriagar-se por puro deleite de ver os amigos, quiçá amigos da onça, gargalharem e lhe pagarem mais uma dose. Isto só para vê-lo contar outra vez sua história de peitos, mamilos e leite. Então todos começaram a lhe chamar de leite. E o apelido pegou de vez.
E foi assim que Leite adentrou naquela manhã de maio na cidade de Brás Pires. A partir de então uns lhe davam almoço, outros lhe davam pão e todos lhe davam cachaça. Pois era bêbado que ele contava suas lorotas. Descobriram também que havia uma segunda palavra associada ao seu apelido que o deixava ainda mais desabusado. Para vê-lo esbravejar e gritar os mais pecaminosos palavrões alguns gritavam: "Ei! O leite coalhou!" ou "Lá vai o Leite Azedo".
E coalhado, azedo, estragado e entornado o homem ficava. Endemoniado lhe caía melhor.
As moças da cidade, logo que souberam das façanhas eróticas do homem, fugiam dele como se fosse o próprio diabo. E ele não lhes poupava xingamentos, desaforos, impropérios tantos, correrias atrás delas como se todas fossem aquela dos olhos negros. Cada uma teria que pagar sua parte por ser mulher.
E é aqui que entro nesta história. Pois numa manhã de domingo, eu ainda bem jovem, descendo a rua em direção à ponte vejo o solitário personagem vindo em sentido oposto e ouço, lá da praça, alguém gritar "lá vem o Leite Azedo". Meu coração disparou, minhas pernas bambearam e não sabia o que fazer. Da minha posição de jovem moça mulher continuei meu trajeto e, sendo o caminho de terra tão estreito, me seria impossível afastar-se dele mais do que já havia feito.
Não me perguntem como cheguei do outro lado. Talvez, adivinhando meu medo, tivesse ele um lampejo de benevolência e, como bom mineiro que era, se transformasse num doce de Leite.
Fim
(*) Calambau era o nome da atual cidade de Presidente Bernardes, localizada no vale do Rio Piranga, Zona da Mata Mineira)
Funil, 30/04/2017
Maria do Rosário Rivelli
"De quem seria aquele par de olhos a botar disparate no seu peito?" Pensou ele.
Comungou e pecou ao mesmo tempo. Saiu da igreja e fora logo perguntar quem era a moça.
"É a esposa do novo cabo! Sabia não!? Dizem que tem fogo no rabo e que, quem se intromete com ela, vai preso e toma uma surra dos soldados. Daquelas bem dadas"
Tarde demais para saber daqueles saberes. Ao voltar para casa deu com um bilhete debaixo da porta de sua casa. A mãe ainda não havia chegado da reza. Milagre. Um encontro marcado com a ditosa moça que por nome assinara "Tidinha". Ele não era de recusar pedidos de donzelas pois sabia que dava azar deixar uma mulher desejosa de homem escolhido.
Passou o resto do dia a desejar o encontro. Imaginava aqueles olhos negros a pedir sexo. E lá foi ele dar sexo à pedinte.
Eis que o marido chegou justo quando ele mordiscava os peitos deliciosos da sua deusa. Foi um Deus nos acuda. O cabo levou nosso moço para ver o sol nascer quadrado. Depois fez sexo com a sua esposa na radiosa noite. Era só assim que aquele homem da lei chegava no finalmente dos amores impudicos com sua digníssima esposa.
Na manhã seguinte o rapaz foi solto e rumou direto para casa. Ainda podia sentir o sabor daqueles mamilos tão perfumados. Queria e desejava mais.
Passados alguns dias vamos encontrá-lo saboreando uma branquinha e dizendo que aquilo tinha o mesmo gosto do leite dos peitos da mulher do cabo. E quem ouviu aquelas indecências não deixou de passar para frente a comparação. Logo todos queriam ouvi-lo afirmar e reafirmar o que dissera.
O rapaz, que já não tinha lá tanta vergonha na cara, passou a embriagar-se por puro deleite de ver os amigos, quiçá amigos da onça, gargalharem e lhe pagarem mais uma dose. Isto só para vê-lo contar outra vez sua história de peitos, mamilos e leite. Então todos começaram a lhe chamar de leite. E o apelido pegou de vez.
E foi assim que Leite adentrou naquela manhã de maio na cidade de Brás Pires. A partir de então uns lhe davam almoço, outros lhe davam pão e todos lhe davam cachaça. Pois era bêbado que ele contava suas lorotas. Descobriram também que havia uma segunda palavra associada ao seu apelido que o deixava ainda mais desabusado. Para vê-lo esbravejar e gritar os mais pecaminosos palavrões alguns gritavam: "Ei! O leite coalhou!" ou "Lá vai o Leite Azedo".
E coalhado, azedo, estragado e entornado o homem ficava. Endemoniado lhe caía melhor.
As moças da cidade, logo que souberam das façanhas eróticas do homem, fugiam dele como se fosse o próprio diabo. E ele não lhes poupava xingamentos, desaforos, impropérios tantos, correrias atrás delas como se todas fossem aquela dos olhos negros. Cada uma teria que pagar sua parte por ser mulher.
E é aqui que entro nesta história. Pois numa manhã de domingo, eu ainda bem jovem, descendo a rua em direção à ponte vejo o solitário personagem vindo em sentido oposto e ouço, lá da praça, alguém gritar "lá vem o Leite Azedo". Meu coração disparou, minhas pernas bambearam e não sabia o que fazer. Da minha posição de jovem moça mulher continuei meu trajeto e, sendo o caminho de terra tão estreito, me seria impossível afastar-se dele mais do que já havia feito.
Não me perguntem como cheguei do outro lado. Talvez, adivinhando meu medo, tivesse ele um lampejo de benevolência e, como bom mineiro que era, se transformasse num doce de Leite.
Fim
(*) Calambau era o nome da atual cidade de Presidente Bernardes, localizada no vale do Rio Piranga, Zona da Mata Mineira)
Funil, 30/04/2017
Maria do Rosário Rivelli
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