Acordei antes do despertar desse aparelhinho “fofoqueiro” que tem ficado na minha mesinha de cabeceira. Havia me preparado psicologicamente para um tal procedimento odontológico de três horas de duração. Confesso que nada me animava a ir até Betim, ficar de boca aberta e sentindo dores. Mas trato é trato e me aprontei para ir. Galinhas alimentadas, plantas regadas e eu prontinha para o devido dever de saúde.
Manobrei meu Sandero com perícia e lá fomos nós. Carretas de minério, muitas carretas de minério trafegando nesta hora no mesmo sentido meu, qual seja, Mário Campos e Betim. Não me estressei. Saí de casa com tempo previsto para esses imprevistos.
Quando viajo meus pensamentos viajam junto. E, nos últimos dias tenho pensado muito acerca de como teria se formado esta cidade, quais teriam sido seus primeiros moradores, qual teria sido a influência da RFFSA , a nossa saudosa Central do Brasil - para a formação da cidade e por ai afora. É notório que a cidade cresceu ao longo da estrada de ferro, do Rio Paraopeba e às margens da rodovia. Portanto o povoado cresceu como um local de passagem. Certamente quem passa por Mário Campos nem imagina as histórias de pessoas desbravadoras, de famílias originárias, dos trabalhadores das hortas que souberam aproveitar a mãe natureza farturenta de água, de terras boas e de tantas outras histórias nascidas e contadas por aqui.
E são apenas como passageiros que todos passam por aqui, um local de passagem. E meus pensamentos continuam a me colocar interrogações.
Hoje eu vi mais do que não queria ver por essas estradas. Na ida, atrás de mim uma caminhonete 4x4, desembestada, queria ultrapassar meu carro, na minha frente caminhões de minério em câmera lenta. E, no ponto mais movimentado da avenida principal, bem sobre a faixa protegida para pedestre, defronte ao supermercado Luna, a danada me ultrapassou. Ainda pude ver o olhar assustado de uma senhora que ia atravessar, sobre a faixa, em direção ao supermercado. Ela escapou por alguns segundos e alguns poucos centímetros de ter sido atropelada. Ela olhou para a dita caminhonete que nem abanou o rabo. Posso afirmar que nossa jovem senhora nasceu de novo. E nós duas ficamos deveras indignadas com tal fato. Queria ter fotografado o veículo infrator e ter feito um B.O. Entretanto, caso tenham câmeras no entorno, as imagens estarão lá.
Depois desse fato fui ainda mais atenta e mais calma. E cheguei para a minha penosa cirurgia odontológica. Esperei e o cirurgião não apareceu. Ufa! Que maravilha! Desci do prédio, atravessei a rua e fui tomar um café coado com um pão de queijo.
E logo voltei saltitante para Mário Campos. Foi então que meus olhos viram um fenômeno a colocar no lugar tudo de ruim que acontecera na ida. Brumas deitadas sobre as montanhas desde a Serra do Curral em Belo Horizonte, continuando pelo Pico dos Três Irmãos, Capão, Brumadinho, Serra da Pedra Grande em Igarapé. Acho que elas estavam dormindo e sonhavam em fecundar a Terra. Eu estava atrás de vários caminhões de minério que, nesta hora, foram parceiros do meu olhar.
Mais uma vez queria fotografar, mas sabia que nenhuma imagem iria se comparar àquela que eu via dentro de mim. Eu queria ver mais e me indagava sobre tal fenômeno metereológico. O que é isto? Como se formaram tais brumas? Seria tão só uma imensa nuvem? Será que outras pessoas estão vendo isto? Queria dividir aquela beleza com outros olhares.
Chegando próximo a Mário Campos as brumas já se dissipavam e escorriam pelas montanhas como véus a cobrirem as virgens matas.
Cheguei a minha casa. Muitos ipês dourados pelos caminhos.
Só não conto pra vocês que vi a tal caminhonete nas redondezas.