sábado, 25 de novembro de 2017

Fábula: Encontro dos bichos II




Conforme havia sido acordado na última assembleia dos bichos, na terras do Sinhô Tim em Brumadinho, aconteceu o encontro dos amigos bichos, desta vez nas terras do Macaco e sua digníssima companheira, a macaca Mari. O convite havia sido estendido a todos os bichos, colegas de formatura do ano de 1981 nas práticas da medicina, da UFJF, uma vez que este encontro era puramente festivo. Nada de discussões políticas; apenas falas e saudosismos.


segunda-feira, 20 de novembro de 2017

eu e ele, de tempos


                                               
















(*)

Às vezes,
no meio da rua,
te esperei.
Outras vezes,
atrás da janela,
te vi passar.
Tantas vezes,
debaixo dos lençóis,
te dei prazer.
Vez alguma,
por todos os lugares,
me soube amar.

20/11/2017

(*) O Beijo. Auguste Rodin, 1889


terça-feira, 14 de novembro de 2017

OS JARDINS DA BABILÔNIA ESTÃO AQUI.



 “Meus passos caminham passos antigos de antigas geografias” e encontram os jardins da minha infância retratados nos jardins que ainda hoje encontramos nas pequenas cidades do interior de Minas. Estão lá, se vestem com roupagem nova e vigor na primavera, agradecendo as primeiras chuvas que adubam e fermentam a beleza que desabrocha em flor, e são um regalo para as borboletas e os beija-flores.

Vejo Dálias, os cachos de Rosas brancas, os Lampiões, as Alamandas amarelas, as Margaridas brancas, as Marias sem vergonha, as Açucenas, as Tertúlias, os Antúrios, as Violetas, as Damas da noite, as Trepadeiras, ou será as Bougainvílleas, um nome já afrancesado para que fique mais bonito.





Prestem atenção como são diferentes esses jardins e os jardins elaborados, que existem nas grandes cidades. Se ainda não o fizeram, façam-no na sua próxima viagem, observem a beleza ali presente. Emolduram uma paisagem que vai se perdendo no tempo. Resistem, antes de serem substituídos, pelo duro cimento, ou por outro tipo de jardim, mais moderno.

São jardins onde crescem flores diversas, a se aconchegarem, dividindo o mesmo espaço, embelezando uma modesta casa, sem se preocuparem se essa flor combina com aquela que está ao seu lado, mesmo quando já tenha existido um desentendimento entre elas, como a briga do cravo com a rosa debaixo de uma sacada.

São construídos por anos, feitos nas pequenas trocas do viver: a muda de flor dada pela vizinha, ou aquela que trouxeram quando de uma visita a um parente distante. Contam uma história daquele lugar, daquela casa e de seus encontros. São jardins de muitas flores e muitas cores, feitos numa estética do afeto, de relações também construídas no tempo e devagar, onde, eles estão a me lembrar de um tempo e espaço também construídos em mim.





E assim vão sendo sustentados na beleza simples do afeto compartilhado, que encanta os olhos e não numa estética submetida à avaliação de especialistas em paisagismo ou jardinagem.

Estou com saudade dos jardins da minha infância. Não tem a beleza deslumbrante e reconhecida dos jardins de Burle Marx e nem a dos jardins suspensos da Babilônia, mas debruçam sobre mim, sem provocar dor, e sem pesar meus ombros ou meu coração. Estão lá, ocupando um espaço visitado e revisitado, a cada encontro real e concreto, numa viagem, ou em meus devaneios.

São cores e odores ainda a colorir e perfumar minha alma. É primavera.




Maria José Birro Costa*

*Maria José é minha colega na Oficina de Escritas em Belo Horizonte. Uma grande escritora.
Imagens exclusivas cedidas por Nalzira Santos, uma amiga virtual da cidade de Dores do Indaiá - MG.
Agradeço às duas a possibilidade dessa publicação.

JCR




Jamais esqueci da minha colega de faculdade. Joana da Conceição Resende. Era a pessoa mais esquisita que eu já havia visto. Estatura baixa, cabelos negros, encaracolados e grudados na cabeça, pele facial coberta de acne, óculos fundo de garrafa, gestos manuais lentos e despropositados. Nunca soube porque me aproximei dela. Ou fora ela quem se aproximou de mim? Tornamos grandes companheiras além da faculdade. De um dia para outro ela já frequentava a república onde eu morava ainda no início dos longos anos do nosso curso.

Ela ia às aulas, apenas. Ouvia os professores e voltava para casa. Sem livros ou cadernos de anotações.

Depois descubro seu fascínio pelos livros de bolso e passamos a ler até três deles por dia. Eu amava os mocinhos do faroeste e ela li todos. Ainda hoje lembro de um deles: “O Homem que só falava Por Quê”. Romances, ficção, policiais, detetives. Enfim todos. Acho que era nosso jeito de sobreviver a tudo que passávamos naquela época. Assim vivíamos em outro mundo. E cheias de fantasias.

Minha colega sempre andava sozinha ou atrás de algum grupo da nossa turma da sala. Então soube que ela não enxergava quase nada e, indo atrás, ela sentia os tatos e ouvia os sons dos nossos passos.

Joana então já era nossa amiga. Mas continuava com seu estranho jeito de ser. Era de uma cidade do interior bem próximo à cidade onde eu havia nascido. 


Depois de uns tempos começou a abusar da bebida alcoólica. Soubemos então que o pai assassinara o vizinho que vinha molestando as filhas menores com atos libidinosos da janela de sua casa, ao lado. Nunca perguntei o que realmente havia acontecido. Em respeito à sua dor. Acompanhei-a no julgamento indo para o interior com ela. Acho que ele fora absolvido em primeira instância. Mas não lembro. Lá se foram quatro décadas.

Toda a imensa turma de cem estudantes logo reconhecera o jeito estranho e a genialidade da colega. E junto com o reconhecimento viera a admiração e o respeito. “Ela nem abre um livro e tira as melhores notas”, diziam uns. “Pergunte para a Joana, ela sabe tudo isto”, diziam outros.

Até que a colega fora morar conosco embora eu continuasse achando seu jeito muito estranho. Parecia de outro planeta. Não agradava os professores aquela falta de jeito.

De um dia para outro resolvera trancar o curso. Fizera concurso para o Banco do Brasil. Aprovada fora trabalhar no sertão da Bahia, longe de escolas de medicina.

Um tempo depois ficamos sabendo que Joana conseguira transferência para Salvador, que voltara a fazer o curso e que casara com uma atriz de teatro. Tudo muito claro.

Perdi o contato com minha amiga, entretanto jamais esqueci do dia do seu aniversário e, em todos os dias 4 de dezembro, agradeço a ela a oportunidade do convívio.

Depois disto botei na minha cabeça duas coisas: sagitariano é pura intelectualidade e nobreza, e a eterna gratidão por tudo que aprendi através de JCR.

Novembro de 2017

Observação: esta escrita fora feita a partir da sugestão do "dever de casa" da Oficina de Literatura para que escrevêssemos acerca de uma pessoa do signo de sagitário.


quinta-feira, 2 de novembro de 2017

Clara


    *

Dorme
minha menina
Sonhe
os sonhos adolescentes
O amanhã
será todo seu.
Levante suavemente
Abra a janela
Deixe
que entre o sol
Permita
que brote a vida
nesta escuridão





Madrugada de 20/10/2017

*As Grandes Banhistas é uma pintura a óleo sobre tela da autoria do pintor impressionista francês Pierre-Auguste Renoir, realizada entre 1884 e 1887.