sábado, 25 de novembro de 2017

Fábula: Encontro dos bichos II




Conforme havia sido acordado na última assembleia dos bichos, na terras do Sinhô Tim em Brumadinho, aconteceu o encontro dos amigos bichos, desta vez nas terras do Macaco e sua digníssima companheira, a macaca Mari. O convite havia sido estendido a todos os bichos, colegas de formatura do ano de 1981 nas práticas da medicina, da UFJF, uma vez que este encontro era puramente festivo. Nada de discussões políticas; apenas falas e saudosismos.


A senhora Preguiça, logo após o convite, confirmara sua presença e assim também a Marmotta e seu marido canadense, o senhor Castor. O Avestruz e sua Mika, a macaca-de-cheiro, bela espécie da Amazônia, com seus delicados dedos de pianista e sua higiene impecável, jamais deixariam de ir; amigos inseparáveis dos donos daquela festa. E, para surpresa de todos, o senhor Canis lúpus italicus, para nós simplesmente Lobo, inteligente feito ele só, e sua esposa dos cabelos louros, compridos e brilhantes, a senhora Loba também confirmaram suas presenças. A Suricato que, a princípio, lamentava sua ausência pois teria mais cursos na grande São Paulo, acabou não resistindo aos chamados e decidiu fazer uma longa viagem para estar com os amigos. O senhor Coelho estava com pedras na vesícula e, naqueles dias, seria operado. Confessou que sentia muito medo do tal ato cirúrgico.Lamentamos sua ausência assim como de sua jovem esposa, também chamada Mari.

Doutor Coruja até que namorou a possibilidade de estar presente entretanto, na última hora, só conseguiu ir até a rodoviária da capital para encontrar com a Suricato que trazia sua Felicidade a bordo. Conversaram muito nos entremeios das conexões rodoviárias. Mas ainda não foi desta vez que o poeta conseguiu atravessar as florestas de asfalto da grande cidade e ir entreter-se com os amigos.

Ônibus e caronas foram os transportes da bicharada. A Preguiça, muito preguiçosa, aceitou a carona do senhor Castor e da senhora Marmotta e viajou nas curvas daquela estrada desconhecida sob os protestos da amiga devido as altas velocidades praticadas pelo marido. Mas, no final, tudo sempre acabava com um gesto de carinho entre o casal que, segundo segredaram, nunca deitam com sentimentos de raiva um do outro. 




E todos os bichos começaram a chegar nas terras cheias das águas ainda na quarta-feira à tarde.

Mika, a bela macaca-de-cheiro, trouxera goiabada cascão para todos os bichos. Uma delicadeza de sua cidade. O Avestruz, grande e inseparável amigo do Macaco, estava deveras feliz. E, como sempre, de olho em todos os sanitários da floresta.

Ficara definido que alguns ficariam na casa dos anfitriões, nos pontos mais altos da floresta e outros ficariam no hotel próximo ao tal Parque das Águas Minerais. Vale dizer que a casa do amigo Macaco e sua digníssima esposa, Mari, era muito bela. Uma verdadeira jóia no meio da mata.

Nosso grande amigo e anfitrião do encontro apresentava-se com olhar distante e os ouvidos nas músicas de seu tempo. Seu pai, o Macaco Mor das leis, estava doente e trazia grandes preocupações aos familiares.

Entretanto nosso amigo dos pensamentos não amolecera. Tudo fora muito bem arranjado e, já na primeira noite, deu-se o primeiro parlatório, obviamente, no bar de um conterrâneo que havia convidado tocadores e cantores para animar o encontro de tão importantes visitantes.

Foi quando a senhora Preguiça, embora de costas para o conjunto musical, não pode deixar de observar os movimentos extraordinários da boca do cantor oficial. A cada nota musical cantada, sua boca entortava tanto e com tantas caretas e mímicas que ela o sentiu incorporar cada palavra desdita de suas cantigas de fossa. Foi um grande prazer para ela assistir aquele espetáculo. Após cada música uma cervejinha porque ninguém é de ferro.

O senhor Canis lúpus italicus explicava minuciosamente suas origens dos Montes Apeninos na Itália e, com muito orgulho, dissera que sua família havia sido responsável pela formação da cidade eterna, Roma, uma vez que sua antepassada, a Loba, amamentara Rômulo e Remo. E todos os bichos presentes não tiveram dúvidas que o colega havia sido domado por sua esposa, a Loba Loura, que o havia domesticado. E riam em silêncio daquele fato surpreendente.

Naquela primeira madrugada chegaria Suricato que viria da mais distante cidade. E ela chegou com sua costumeira habilidade dos diálogos e das alegrias.

E, no dia seguinte, todos acordaram com o aroma do café da manhã feito pela habilidosa macaca Mari, dona de casa e dona da casa. E o dia prometia com a visita nas montanhas e cachoeiras da floresta Mantiqueira.

E assim saíram os dez bichos pelas trilhas morro acima, sacolejando os corpos, dentro dos carros dos bichos homens. Muitas surpresas pelos caminhos e muita exuberância da natureza.


Lá em cima uma grande cachoeira no meio da mata e um restaurante de nome Casal Garcia, o mesmo do nosso antigo Portugal. E ali a bicharada deitou e rolou no aconchego das lembranças, no entusiasmo do encontro e nas delícias oferecidas.

Mas não poderíamos deixar de dizer do desabafo do Lobo, morador do estado do Rio de Janeiro, grande estudioso das práticas médicas, que fez um desabafo com todo seu corpo falando junto, como legítimo descendente italiano, acerca do que se tornou aquele estado e a cidade maravilhosa diante da corrupção de seus governantes e da violência que se instaurou ali.

Neste momento todos os bichos declararam o #FORA TEMER

E amanhã os bichos terão os reflexos do que fora o dia de hoje e ainda ansiosos com a possibilidade do doutor fazendeiro, o Touro Deitado, aparecer para abrilhantar ainda mais nosso encontro. 

Então até breve com as próximas notícias deste que tem sido um grande encontro. Serão quatro dias e noites de muitas aventuras nas cidades.


Caxambu, novembro de 2017.

Observação:peço aos leitores que se identifiquem, caso queriam fazer comentários. 

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