Trilhas estreitas, esburacadas e donas de paisagens estonteantes no alto da Serra da Mantiqueira. Soube-se mais tarde que a Loba Loura ficou a reclamar dos sacolejos. Entretanto ela própria sacolejava constantemente seus cabelos brilhantes de um lado para outro como se fosse uma dança de fêmea no cio. Assim que chegaram, a Preguiça quis entrar debaixo da queda d’água da imensa cachoeira. Esqueceu sua preguiça e caçou modo de achar o caminho mais perto e se fartar de água. Marmotta, Mari e Suricato foram juntas. E a decepção pela impossibilidade de chegar lá ficou multiplicada por quatro. Os joelhos e pernas das senhoras não conseguiram descer a ribanceira até o riacho. Então foram à mesa delicadamente preparada com os artigos do restaurante. Pães integrais com ervas, azeite e queijo parmesão, tudo fabricado por ali e adornados com flores naturais. A bicharada esqueceu os revertérios dos estômagos e beberam e comeram muiiiito.
O Lobo italiano não parava de dar explicações da família de sua esposa, a Loba, brava agora.
Avestruz, Mika e o Macaco Chefe arriscaram a descida até a maravilhosa cascata e demoraram a retornar. “A água estava a zero grau” falou o Avestruz com suas penas molhadas. Mika voltou ainda mais exuberante. Talvez a água mineral tenha refrescado seus pelos.
Agora vamos ao almoço. Trutas grelhadas, arroz, saladas e flores.
“Comer flores?” Espantou-se a Preguiça que, naqueles dias, queria outras variedades. Confessara que já não aguentava mais comer frutas e folhas. Mas aceitou saborear uma calêndula no meio da truta.
“Comer flores?” Espantou-se a Preguiça que, naqueles dias, queria outras variedades. Confessara que já não aguentava mais comer frutas e folhas. Mas aceitou saborear uma calêndula no meio da truta.
Saciados pela comida, pelas águas, pelos verdes das matas, pela música do bicho homem cheirando a marijuana e pelas histórias do italiano que ainda falava dos laços familiares, os bichos voltaram a ocupar seus lugares nos carros automotores e começaram a descida da serra.
Nova parada na cidade de Aiuroca. E lá se foram os bichos médicos conhecerem o Museu, recém criado, na casa do Dr. Júlio Arantes Sanderson de Queiróz, famoso médico que trabalhou e recebeu um colega, infelizmente ausente nesta viagem. Doutor Tamanduá, cirurgião famoso no leste das Minas Gerais. Até patenteou sua invenção: uma língua com um imã na ponta para retirada de corpos estranhos no aparelho digestivo. Muito talentoso nosso amigo Tamanduá.

E todos os bichos escutaram a história do assassinato de uma
mulher que fora degolada naquela cidade, ainda no final século XIX, contada
pelo escritor, poeta e quiçá descendente da falecida que hora recepcionou a
todos. Sendo a Loba uma estudiosa das
leis o relato do tal crime fora ainda mais floreado e cantado embora, o Avestruz
e seu amigo Macaco, preferissem encontrar o sanitário do Museu e seus
instrumentos de louça da época. E atrás deles foram a Suricato e Mari. A
Preguiça, por estas horas, já sentia o peso das pétalas da calêndula e nem
conseguia ouvir o tal secretário, escritor, poeta e descendente ainda a contar
o crime mais famoso de toda a região.
Lá fora estavam o Castor a brincar com um cão da rua e sua
amada Marmotta. Devemos salientar que o senhor Castor canadense tem um humor
sempre alegre e um jeito conciliador mas, no que se refere a compromissos com
horários marcados, fica deveras raivoso se os bichos amigos não os cumprem.
Ainda ali, naquela pequenina cidade, nascera a Sereia Global,
a jovem atriz Isis Valverde.
Então deu-se a hora de sair pois nosso anfitrião, o Sr.
Macaco, ainda programara visitar também a pequena Cruzília, a cidade dos cafés
mais saborosos do Brasil, e famosa por seus queijos tantas vezes premiados.
Coitada
da Preguiça. Nesta hora, enquanto os amigos se fartavam de queijos e cafés, ela
conseguira escapulir e fora descarregar suas dores intestinais no amplo
banheiro do estabelecimento.
Pé na estrada e voltamos para a cidade das águas, Caxambu. Ali
estava acontecendo uma exposição de cavalos Mangalarga Marchador com leilões
bilionários dos tais bichos reprodutores. Havia 600 animais disputando o modo
mais bonito de marchar. Mas, depois de subir a serra, ouvir a longa história da
mulher degolada, alguns bichos nem queriam ver cavalos. A Loba decidiu ir ver
os bichos cavalos. Até podemos imaginar o que ela estaria pensando nesta hora.

A senhora Preguiça ainda sentia como se tivesse comido todos
os peixes do rio. Sua barriga dava reviravoltas e ela se contorcia de dores. Avisou
que não sairia naquela noite pois estava muito envergonhada por tal desarranjo.
Caçou um sanitário mais apropriado na linda casa da Mari e nele ficou o resto
do dia e da noite. Obviamente que todos os amigos bichos, respeitosos como eles
só, fizeram grande esforço para não rir da amiga. “Foi a calêndula” dizia a
contorcida. Uns sugeriram água de coco, outros sugeriram soro caseiro e o doutor
carioca-italiano, sugeriu e acompanhou a amiga na compra da Saccaromyces
boulardii. Seria por que tem tanto “i”? Foi para casa e dormiu o quanto pode.
Outros foram para o hotel e, por lá, tomaram vinho e
conversaram até a madrugada.
Na manhã seguinte mais uma café “seis estrelas” como bem classificou
Suricato que acordou muito feliz naquela manhã. Ela trouxera queijos trufados
com goiabada de sua tão distante cidade. Naquela manhã o passeio tão bem
programado pela anfitriã, Mari, seria o Parque das Águas e almoço reservado no
grande Hotel Glória, uma verdadeira glória para os bichos amigos. E todos
caminharam pela “maior concentração hidromineral de águas carbogasosas do
planeta” no meio de belíssimas trilhas verdes bem no centro da cidade. São onze
fontes de águas minerais, um Gêiser e muitas surpresas no caminho como um
pequeno oratório em homenagem a Nhá Chica, famosa por sua dedicação às coisas
santas. Relíquia da cidade de Baependi, terra natal do Macaco, que aguarda sua beatificação.

O caminhar através das fontes das tais águas gasosas fora registrados
em várias fotos.
E foram caminhando e contornando o Parque até chegarem no
belíssimo restaurante onde desfrutaram pratos deliciosos. A pobre Preguiça não
teve escolha. Ainda com a barriga roncando de gazes ficou no nhoque nada saboroso.
Mika pediu uma buchada de vitelo e afirmou que estava deveras saborosa. Os
demais bichos ficaram no churrasco. Entretanto o que mais chamou a atenção da
bicharada fora a elegância e a classe tanto do espaço quanto dos garçons.
Pagamos o preço e valeu.
Terminado aquele banquete animal os amigos foram descansar.
À noite um convite
especial: jantar na casa do amigo bicho ortopedista, o Sr. Pavão, que recebeu a
todos os colegas bichos médicos com honra e muita beleza. A casa, seu orgulho
por tê-la construído naquele Bosque, mais parecia o CT do Atlético Mineiro, com
muitas áreas de esporte e muito verde ao redor. A esposa mostrava-se feliz ao
lado daquela bela espécie. Em um dado momento a nossa amiga Marmota sugerira,
brincando, que o Dr. Pavão era um “coxinha” o que o deixou desconcertado e
interrogando a razão daquela afirmação. Foi ai que todos ficamos sabendo que,
com sua cauda enorme e colorida, ele sempre fora um excelente goleiro nos
tempos da faculdade, não deixava passar bola alguma nas traves do gol. Portanto
vermelhos e coxinhas o disputavam como seu goleiro.
Já estávamos embriagados a contemplar
a noite no Bosque do Sr. Pavão quando decidimos voltar para nossos ninhos pois amanhã
terá Maria Fumaça noutras cidades, bem cedo, e o Sr. Castor não admitirá
atrasos.

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