sábado, 31 de dezembro de 2022

Ano novo / 2023

Nasci em câncer
sou filha da água
As runas e os astros
me disseram que o ano novo
virá com os movimentos dos astros
trazendo-me menos conflitos
e menos erros de comunicação
Estou quase pronta
para falar do meu querer.
Mergulhar dentro de mim
e me encontrar nova de novo.

31/12/2022

terça-feira, 27 de dezembro de 2022

Desenredo

 



Coloquei meu espírito em descanso. Há alguns dias ele vinha cheio de amarras. Como aqueles nós dos marinheiros, como os nós das crocheteiras e das tricoteiras, como nós que a vida impõe sem piedade ou os nós dos amores mal engendrados.

Eis meu eu enlaçado, amordaçado, quieto e nômade.

Minhas asas foram quebradas. Meu sorriso feneceu. Minhas palavras acabaram. Estou desenredada da vida. Raspei as sobras de um amor que não vingou. Só restou nada...

A leveza me ficou mais pesada. O vazio encheu-se de dores novas. Comandante da minha vida tornei-me grumete de um navio à deriva.

A seguir um som da minha infância chegou aos meus ouvidos parcos deles. Uma flauta doce. Mais adiante o piar de um pássaro. Acolá os gemidos dos minérios de ferro sobre os trilhos da minha Central do Brasil. Aqui o silêncio do desfazer dos nós.

Então abri meus braços, enchi meu peito de ar, gritei uma palavra e tomei rumo.

Um novo mundo acordou dentro de mim.

27/12/2022

quinta-feira, 22 de dezembro de 2022

Carta para Papai Noel / 2022

 





Funil, Mário Campos, 22 de dezembro de 2022

Bom dia Papai Noel

Espero que você esteja com boa saúde e bem preparado para as correrias de natal que se aproxima. Eu já estou escrevendo meu pedido de presente para este ano.

O Senhor bem sabe que estou ficando velha e que nem deveria mais acreditar na sua existência. Mas não só acredito quanto ainda quero um presente bem especial este ano.

O Senhor sabe também que em muitos países pobres, principalmente naquele enorme continente chamado África, muitas crianças nunca receberam seus presentes e que elas vivem, quase sempre, com muita fome de comida, fome de estudos e com muitas doenças. Aqui no Brasil também tem muitas famílias que não tem como comprar comidas para seus filhos. Nós dois sabemos do que estou falando. Muito triste isto, não é?

Acho que tem outra coisa ainda mais triste do que a falta dos presentes para aquelas e outras crianças. Estou falando daquelas crianças que não foram criadas com a magia do natal. Acho isto muito grave. Sabe Papai Noel, toda criança deve criar suas fantasias. Viajar nas aventuras imaginárias e brincar com suas fantasias faz parte de todo o mundo infantil. É muito importante para elas crescerem felizes e saudáveis.

Quando eu era criança, meus pais me contavam a história do Menino Jesus que nasceu no estábulo, aquele lugar onde os pastores recolhem o gado. Foram os animais que estavam dormindo ali que deram calor e proteção para o menino que nasceu bem junto deles. Eu ficava imaginando aquele menino e procurava no céu a tal estrela guia que conduziu os Reis Magos até o local. Ficava imaginando também os reis Gaspar, Belchior e Baltazar  que viajaram de longe para levar presentes para o pequenino Jesus Cristo. Eles levaram ouro, mirra - que é uma planta que tinha um significado importante naquelas regiões - e incenso - que é um perfume delicioso. Eu adorava sentir o cheiro do incenso dentro das igrejas.

Sabe Papai Noel, eu nem sabia que meu pai e minha mãe compravam presentes para as crianças da nossa rua que eram mais pobres que nós.

Depois que cresci e estudei bastante, aprendi que toda criança deve ter muitas fantasias e que são as magias que vão construindo o mundo interno de cada criança. Aprendi também que as crianças que crescem sem fantasias ou magias poderão ter muitas dificuldades na vida adulta.

Então, Papai Noel, este ano eu quero pedir ao Senhor que viaje bem rápido no seu trenó, ou na sua charrete, ou mesmo num carro de boi, quem sabe até numa moto bem potente, e jogue muitas fantasias para todas as crianças do planeta Terra.

E como sou ousada, também quero pedir um presente especial para o Senhor. Quero uma caixa de sabonetes coloridos e bem cheirosos. Não tem problemas se não conseguir trazê-la em tempo. Se precisar, vou busca-la do outro lado do planeta montada na minha nave super potente toda colorida e feita das peças de Lego.

Abraços para você e muita saúde.

E não esqueça de mim. Você já sabe que moro numa pequena cidade chamada Mário Campos.

Meu nome é

               Maria do Rosário Nogueira Rivelli











Fotografias: naves espaciais construídas pelo meu neto




                         


                                          


Presépios nas casa das irmãs Maria das Graças e Maria da Glória.

Obrigada pela gentileza das fotos.

terça-feira, 13 de dezembro de 2022

Crônica: Um Fetiche

                                 

                   

Eles estavam lá. Tinham diversas formas, perfumes e cores. Alguns eram redondos, do tamanho de um limão rosa, ficavam pendurados em delicadas correntes devidamente presas na parede do lado direito, acima da pia. Lembro bem desses detalhes. Para que essas paredes não sofressem a ação das águas respingadas de mãos nem tão santas elas eram pintadas com tinta óleo até acima da minha cabeça. Assim, brilhantes, elas pareciam que estavam vivas. Outros eram deixados em saboneteiras de porcelanas, pintadas a mão com temas românticos de amores platônicos. Os mais refinados vinham em luxuosas caixas de lata ou de papelão, os mais baratos entre os mais caros. Desses grã-finos não me lembro de ter lavado minhas mãos pequeninas sujas de meninices.

Na minha infância eu ficava olhando para aqueles sabonetes que minha tia colocava na casa para o padre, seu irmão, e para as visitas mais importantes. Era de admirar tantas delicadezas naquele lavabo, onde os sabonetes enchiam o pequeno espaço de perfumes raros e cores tantas. Para mim o mais perfumado tinha a cor da goiaba vermelha amadurecendo e tinha o perfume do jambo. Jamais esqueci desses.

Naqueles meus poucos anos havia vivido também sob a tutela da tia madrinha dona de todas as palavras bem ditas, embora ela quase não as usasse por temor de ofensa a Deus. Quando as palavras lhe saiam pela boca era uma beleza. Todas elas vinham sem cair. Eu tinha medo das minhas palavras e das palavras exatas da minha tia. As minhas ficavam sufocadas no meu peito. Mas os perfumes da casa que ela administrava eu podia sentir. E podia ver os coloridos dos sabonetes no lavado encrustado na grande copa da casa.

Toda vez que ia àquela casa queria lavar minhas mãos naquela pia. Nem ousava chegar perto. Se eu me aventurava aproximar dela logo percebia que meu tamanho não me permitiria tal ousadia. A tia brava demais e eu pequena demais.

Minha tia era uma bela mulher. Nunca se casou. Acho que ela casou com a responsabilidade daquela casa paroquial.

Quando apareciam as perebas nas minhas pernas, e elas sempre apareciam, minha mãe fazia um escaldado com muita água quente e folhas do pé de fumo. Ela banhava as feridas com aquelas folhas grudentas que colavam nas feridas. Eu inalava o cheiro acre daquela mistura verde escura e sonhava com os sabonetes coloridos e perfumados da minha tia.

Não lembro se na minha casa haviam sabonetes. Só lembro das bolotas de sabão preto usados na lavação das roupas e das panelas com fuligem do fogão a lenha. Talvez tivessem sabonetes para o banho, mas, certamente, eles seriam sem cores e sem perfumes. Estes só haviam nos meus olhares e nos meus sentidos de menina calada.

Na minha adolescência esses objetos fetiches ganharam novas pinturas que eram aplicadas diretamente neles. Depois de secadas as tintas eram fixadas com esmalte incolor. Eu me deliciava quando era presenteada com eles. Uma colega da escola aprendeu a técnica e colocava todo seu romantismo neles. E esses sabonetes pareciam verdadeiras obras de arte

Recentemente me vi apanhando do chão e levando a boca um pequeno jambo. Estava em pleno centro da cidade de Betim. A árvore fora plantada na rua, bem defronte à casa de uma amiga. Não resisti. Fechei meus olhos e entrei na minha infância. Então pude saborear aqueles tempos dos meus sabonetes.

A menina daqueles tempos, que ainda mora dentro de mim, trouxe consigo o apego pelos sabonetes coloridos e cheirosos.




                 

segunda-feira, 12 de dezembro de 2022

Poema: Meu senhor

    


   "Meu senhor"

   Na madrugada

   que nos aguarda

   Haverá o canto de algum pássaro

   Talvez uma chuva

   Tantos caminhos a frente

   Horas de silêncio,

   prometo.

   Palavras medidas,

   contidas,

   suaves