terça-feira, 27 de dezembro de 2022

Desenredo

 



Coloquei meu espírito em descanso. Há alguns dias ele vinha cheio de amarras. Como aqueles nós dos marinheiros, como os nós das crocheteiras e das tricoteiras, como nós que a vida impõe sem piedade ou os nós dos amores mal engendrados.

Eis meu eu enlaçado, amordaçado, quieto e nômade.

Minhas asas foram quebradas. Meu sorriso feneceu. Minhas palavras acabaram. Estou desenredada da vida. Raspei as sobras de um amor que não vingou. Só restou nada...

A leveza me ficou mais pesada. O vazio encheu-se de dores novas. Comandante da minha vida tornei-me grumete de um navio à deriva.

A seguir um som da minha infância chegou aos meus ouvidos parcos deles. Uma flauta doce. Mais adiante o piar de um pássaro. Acolá os gemidos dos minérios de ferro sobre os trilhos da minha Central do Brasil. Aqui o silêncio do desfazer dos nós.

Então abri meus braços, enchi meu peito de ar, gritei uma palavra e tomei rumo.

Um novo mundo acordou dentro de mim.

27/12/2022

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