domingo, 31 de dezembro de 2017

Carta de Amor VI

Esta é uma carta de amor a todo(a)s aquele(a)s que ainda tem, no passado, amores não vividos. E que, em 2018, continuemos nostálgicos e cheios de amor.

terça-feira, 26 de dezembro de 2017

Manchete do Jornal da Floresta:


OBSERVAÇÃO:  Eis mais uma escrita que trago para este blog. Trata-se de uma colega da UFJF, de longa data, com quem tenho tido o prazer de conviver nos encontros da bicharada conforme venho publicando.

Certamente se deliciarão com a Reportagem. 
Então, boa leitura.

domingo, 17 de dezembro de 2017

Fábula: Em meio à polêmica nacional os bichos ficam nus – Final




Se o café havia ficado sem estrelas ontem para a Preguiça, nesta manhã fora a Macaca-de-cheiro que sentiu mal dos intestinos. A pobre Mika levantou como se estivesse passado toda a noite remoendo seus interiores. Entretanto nada deixou-lhe desanimada para nosso último dia juntos naquelas terras tão altas e tão belas. 


O horário havia sido definido para a saída até São Lourenço e o Castor não perdoaria o atraso. A Loba que ficasse esperta e brilhasse os cabelos na volta porque seu marido esperava ansioso pela viagem daquele dia.

sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

Verbo amar - Miniconto





                                         
                       "Ele sabia se fazer amado. 
                        
                       Enquanto o pai caia de tonto nas valetas das calçadas 
                                         
                       o moço deitava com a professora. 
                                          
                       E o filho não salvou o pai 
                                         
                       mas aprendeu o abecedário do amor."




Observação: Este é mais um trabalho da Oficina de Escrita ministrada pelo poeta mineiro Ronald Claver.

27/11/2017

sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

Fábula: E os bichos entram na mata e nas cidades III


Trilhas estreitas, esburacadas e donas de paisagens estonteantes no alto da Serra da Mantiqueira. Soube-se mais tarde que a Loba Loura ficou a reclamar dos sacolejos. Entretanto ela própria sacolejava constantemente seus cabelos brilhantes de um lado para outro como se fosse uma dança de fêmea no cio. Assim que chegaram a Preguiça quis entrar debaixo da queda d’água da imensa cachoeira. Esqueceu sua preguiça e caçou modo de achar o caminho mais perto e se fartar de água. Marmotta, Mari e Suricato foram juntas. E a decepção pela impossibilidade de chegar lá ficou multiplicada por quatro. Os joelhos e pernas das senhoras não conseguiram descer a ribanceira até o riacho. Então foram à mesa delicadamente preparada com os artigos do restaurante. Pães integrais com ervas, azeite e queijo parmesão, tudo fabricado por ali e adornados com flores naturais. A bicharada esqueceu os revertérios dos estômagos e beberam e comeram muiiiito.

sábado, 25 de novembro de 2017

Fábula: Encontro dos bichos II




Conforme havia sido acordado na última assembleia dos bichos na terras do Sinhô Tim, em Brumadinho, aconteceu o encontro dos amigos bichos, desta vez nas terras do Macaco e sua digníssima companheira, a macaca Mari. O convite havia sido estendido a todos os bichos, colegas de formatura do ano de 1981 nas práticas da medicina, da UFJF, uma vez que este encontro era puramente festivo. Nada de discussões políticas; apenas falas e saudosismos.


segunda-feira, 20 de novembro de 2017

eu e ele, de tempos


                                               
















(*)

Às vezes,
no meio da rua,
te esperei.
Outras vezes,
atrás da janela,
te vi passar.
Tantas vezes,
debaixo dos lençóis,
te dei prazer.
Vez alguma,
por todos os lugares,
me soube amar.

20/11/2017

(*) O Beijo. Auguste Rodin, 1889


terça-feira, 14 de novembro de 2017

OS JARDINS DA BABILÔNIA ESTÃO AQUI.



 “Meus passos caminham passos antigos de antigas geografias” e encontram os jardins da minha infância retratados nos jardins que ainda hoje encontramos nas pequenas cidades do interior de Minas. Estão lá, se vestem com roupagem nova e vigor na primavera, agradecendo as primeiras chuvas que adubam e fermentam a beleza que desabrocha em flor, e são um regalo para as borboletas e os beija-flores.

Vejo Dálias, os cachos de Rosas brancas, os Lampiões, as Alamandas amarelas, as Margaridas brancas, as Marias sem vergonha, as Açucenas, as Tertúlias, os Antúrios, as Violetas, as Damas da noite, as Trepadeiras, ou será as Bougainvílleas, um nome já afrancesado para que fique mais bonito.





Prestem atenção como são diferentes esses jardins e os jardins elaborados, que existem nas grandes cidades. Se ainda não o fizeram, façam-no na sua próxima viagem, observem a beleza ali presente. Emolduram uma paisagem que vai se perdendo no tempo. Resistem, antes de serem substituídos, pelo duro cimento, ou por outro tipo de jardim, mais moderno.

São jardins onde crescem flores diversas, a se aconchegarem, dividindo o mesmo espaço, embelezando uma modesta casa, sem se preocuparem se essa flor combina com aquela que está ao seu lado, mesmo quando já tenha existido um desentendimento entre elas, como a briga do cravo com a rosa debaixo de uma sacada.

São construídos por anos, feitos nas pequenas trocas do viver: a muda de flor dada pela vizinha, ou aquela que trouxeram quando de uma visita a um parente distante. Contam uma história daquele lugar, daquela casa e de seus encontros. São jardins de muitas flores e muitas cores, feitos numa estética do afeto, de relações também construídas no tempo e devagar, onde, eles estão a me lembrar de um tempo e espaço também construídos em mim.





E assim vão sendo sustentados na beleza simples do afeto compartilhado, que encanta os olhos e não numa estética submetida à avaliação de especialistas em paisagismo ou jardinagem.

Estou com saudade dos jardins da minha infância. Não tem a beleza deslumbrante e reconhecida dos jardins de Burle Marx e nem a dos jardins suspensos da Babilônia, mas debruçam sobre mim, sem provocar dor, e sem pesar meus ombros ou meu coração. Estão lá, ocupando um espaço visitado e revisitado, a cada encontro real e concreto, numa viagem, ou em meus devaneios.

São cores e odores ainda a colorir e perfumar minha alma. É primavera.




Maria José Birro Costa*

*Maria José é minha colega na Oficina de Escritas em Belo Horizonte. Uma grande escritora.
Imagens exclusivas cedidas por Nalzira Santos, uma amiga virtual da cidade de Dores do Indaiá - MG.
Agradeço às duas a possibilidade dessa publicação.

JCR




Jamais esqueci da minha colega de faculdade. Joana da Conceição Resende. Era a pessoa mais esquisita que eu já havia visto. Estatura baixa, cabelos negros, encaracolados e grudados na cabeça, pele facial coberta de acne, óculos fundo de garrafa, gestos manuais lentos e despropositados. Nunca soube porque me aproximei dela. Ou fora ela quem se aproximou de mim? Tornamos grandes companheiras além da faculdade. De um dia para outro ela já frequentava a república onde eu morava ainda no início dos longos anos do nosso curso.

Ela ia às aulas, apenas. Ouvia os professores e voltava para casa. Sem livros ou cadernos de anotações.

Depois descubro seu fascínio pelos livros de bolso e passamos a ler até três deles por dia. Eu amava os mocinhos do faroeste e ela li todos. Ainda hoje lembro de um deles: “O Homem que só falava Por Quê”. Romances, ficção, policiais, detetives. Enfim todos. Acho que era nosso jeito de sobreviver a tudo que passávamos naquela época. Assim vivíamos em outro mundo. E cheias de fantasias.

Minha colega sempre andava sozinha ou atrás de algum grupo da nossa turma da sala. Então soube que ela não enxergava quase nada e, indo atrás, ela sentia os tatos e ouvia os sons dos nossos passos.

Joana então já era nossa amiga. Mas continuava com seu estranho jeito de ser. Era de uma cidade do interior bem próximo à cidade onde eu havia nascido. 


Depois de uns tempos começou a abusar da bebida alcoólica. Soubemos então que o pai assassinara o vizinho que vinha molestando as filhas menores com atos libidinosos da janela de sua casa, ao lado. Nunca perguntei o que realmente havia acontecido. Em respeito à sua dor. Acompanhei-a no julgamento indo para o interior com ela. Acho que ele fora absolvido em primeira instância. Mas não lembro. Lá se foram quatro décadas.

Toda a imensa turma de cem estudantes logo reconhecera o jeito estranho e a genialidade da colega. E junto com o reconhecimento viera a admiração e o respeito. “Ela nem abre um livro e tira as melhores notas”, diziam uns. “Pergunte para a Joana, ela sabe tudo isto”, diziam outros.

Até que a colega fora morar conosco embora eu continuasse achando seu jeito muito estranho. Parecia de outro planeta. Não agradava os professores aquela falta de jeito.

De um dia para outro resolvera trancar o curso. Fizera concurso para o Banco do Brasil. Aprovada fora trabalhar no sertão da Bahia, longe de escolas de medicina.

Um tempo depois ficamos sabendo que Joana conseguira transferência para Salvador, que voltara a fazer o curso e que casara com uma atriz de teatro. Tudo muito claro.

Perdi o contato com minha amiga, entretanto jamais esqueci do dia do seu aniversário e, em todos os dias 4 de dezembro, agradeço a ela a oportunidade do convívio.

Depois disto botei na minha cabeça duas coisas: sagitariano é pura intelectualidade e nobreza, e a eterna gratidão por tudo que aprendi através de JCR.

Novembro de 2017

Observação: esta escrita fora feita a partir da sugestão do "dever de casa" da Oficina de Literatura para que escrevêssemos acerca de uma pessoa do signo de sagitário.


quinta-feira, 2 de novembro de 2017

Clara


    *

Dorme
minha menina
Sonhe
os sonhos adolescentes
O amanhã
será todo seu.
Levante suavemente
Abra a janela
Deixe
que entre o sol
Permita
que brote a vida
nesta escuridão





Madrugada de 20/10/2017

*As Grandes Banhistas é uma pintura a óleo sobre tela da autoria do pintor impressionista francês Pierre-Auguste Renoir, realizada entre 1884 e 1887.

quinta-feira, 26 de outubro de 2017

Noivado




Gilda tinha os cabelos castanhos claros, compridos e lisos. Embora não fossem tão volumosos, brilhavam ao sol e se destacavam no corpo da jovem que parecia estar sempre caminhando apressadamente e com os pensamentos pesando-lhe a alma. Morava na metade daquela rua de famílias menos favorecidas na vida. Ainda na adolescência tivera que trabalhar para ajudar a mãe,viúva, e as irmãs menores.

domingo, 15 de outubro de 2017

Nua


*

Desfiz de mim
despi meu corpo
descalcei meus pés
descolori meus cabelos
voltei
para me refazer menina
olhar pela janela
procurar o amor perdido
me reencontrar nua
e desabrochar
no meio da rua

Conselheiro Lafaiete, 9 de outubro de 2017

* O nascimento de Vênus do pintor italiano Sandro Botticelli. Pintura criada entre 1485 e 1487.

domingo, 1 de outubro de 2017

Na casa dos corredores

Resultado de imagem para corredores republicas ouropreto

entrou na casa 
levada por ele.
não disse palavras
seu coração dizia tudo.
era uma casa antiga,
com paredes pintadas de branco
portais de madeira no tom daquele azul.
mais tarde, quando estivesse deitada,
veria o forro em traçados de taquaras.
conhecia bem daquilo
estava feliz para além da realidade.
confiou no moço.
na mão do moço que lhe conduzia
por corredores e escadas abaixo.
uma casa em estilo colonial.
não teve dúvidas.
outras escadas para descer
uma construção nova 
que tentava imitar aquela.
uma porta grande
bem feita 
pintada do mesmo azul.
um amplo quarto de dormir.
pediu um banho 
saiu enrolada no lençol.
suas roupas ficaram penduradas
num cabideiro.
eram roupas comuns
mas cuidadosamente 
escolhidas para aquele encontro.
ele sentou-se ao lado dela.
trocaram carícias de amor
beijaram.
ela o amava
sabia que ele também a amava
ele deitou ao seu lado e
suas mãos viajaram pelo corpo dela.
dormiram extasiados de paixão.
pela manhã acordou-a com  beijos, 
de mansinho.
muitos beijos.
avisou que iria sair mas voltaria logo.
ela esperou
e esperou mais.
então olhou para suas roupas
entendeu o que elas lhe diziam.
levantou.
lavou-se do amor 
saiu do quarto.
subiu escadas.
atravessou corredores
abaixou a cabeça
encontrou a porta de saída.
andou pelas ruas 
ladeiras.
entrou num bar
café com pão e manteiga.
vagou todo domingo
por estradas.
comeu
e dormiu em qualquer lugar.
sabia que teria que voltar 
para tão distante dali 
era o tempo das caronas.
entrou num carro qualquer
que parou ao sinal do pedido.
não voltou para casa.
nem sabia para onde ir.
não queria saber do sabido
daquele desfecho do encontro.
a moça nada entendia 
por isto nem chorou.
estava por demais cheia de amor.
nem percebeu que fora deixada
na casa.
e que se dera ao amor de uma noite.
apenas.




15/09/2017

quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Amor de Menina



                                                    (*)



Ele era o moço mais bonito que já havia visto. Tinha os cabelos loiros. Os olhos verdes, o andar livre e o olhar cativante.

E ela, que nada sabia de amor, caiu feito uma patinha nas garras sedutoras do moço bonito e mais velho que ela. Nem percebeu na armadilha em que se enfiara naqueles tempos de colégio estadual. Acreditou nas  fantasias de menina apaixonada. Levou aquele amor para dentro de si. 

Assim que o via no bar, após suas aulas, sentia o coração palpitar, as pernas estremecerem e o rosto afoguentar. 

Procurou saber quem era ele e logo soube do nome completo. Nome e sobrenome com a mesma inicial. RRR. Até isto fora mais um fator para aumentar seu amor por aquele moço tão bonito.

E já não sabia mais de si. Sabia tão só daquele jovem no bar que lhe sorria no final das aulas.

De volta para casa nem percebia os olhares de um outro jovem. Bem mais perto dela. Um jovem feio, magrelo e mulato. No seu coração só havia um lugar. E este já estava ocupado.

Entendeu que estava deveras apaixonada. Uma menina que descobria o verbo amar traduzido em efeitos no seu corpo. 

Entretanto o moço loiro noivou com uma colega. A menina nem sabia que eles estavam namorando. Sentiu-se a menina mais feia do colégio. Rejeitada e traída, pensou que cresceria nas coisas do amor.

Viveu todo o luto daquele amor perdido. E, um dia, pela janela, viu o moço feio, magrelo e mulato que, do meio da rua lhe abria um sorriso. Sorriu de volta. Aceitou conversar com ele numa outra ocasião. Ele falava de matemática, de filosofia, de literatura e tinha a palavra como sua companheira. Ficou encantada. Tornaram-se grandes amigos. Passeavam juntos pelos caminhos do bairro.  
Até que, obediente aos pais que não achava aconselhável aquela amizade, inventou uma desculpa e afastou-se do moço. 

Era hora de novos rumos nos estudos. A menina, já moça, foi embora para outra cidade. Buscava seus sonhos de uma universitária.

Logo começaria a receber cartas do amigo. Ele estava estudando em outro estado. Só poderia voltar após concluir seu curso de três anos. Ela respondia  todas as cartas já esperando, avidamente, pelas próximas. 

Apaixonou novamente. Agora pelo moço feio, magrelo e mulato. E os pais não iriam afasta-la dele. Estava decidida arriscar pela nova paixão. 

No final daquele ano se encontrariam. Ele já formado e, ela, ainda na faculdade. E, no meio, muitas cartas de amor.

A jovem costurou roupas novas. Esperou. Ele chegou e a procurou. Os pais nada falaram. Ninguém iria impedir aquele amor.

Ela linda, dos cabelos claros, dos olhos esverdeados, no corpo de vinte anos. Ele feio, magrelo, mulato, dos cabelos de pixaim. 

Ela era puro encantamento. Ele era pura sedução. Jamais ficaram juntos. No meio deles uma outra mulher. Sempre.

E a menina-moça-mulher jamais soube o que é o amor.


03/09/2017


(*) Jovem Menina Penteando seu Cabelo- 1890. Pierre Auguste Renoir.








segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Fogo na Serra de Ouro Branco









E foi bem ali que o fogo começou. 
Olhei várias vezes aquele espetáculo entre a terra e o céu
De repente já eram duas gigantescas línguas lambendo a serra
E elas se multiplicaram velozmente
Eu ali, ainda incrédula, diante das chamas.
Ora as linhas vermelhas deitavam no meio da serra
ora ficavam dependuradas como se caíssem em pingos de fogo




A noite só começava
Era quinta de feira na avenida
Muitas pessoas foram degustar as delícias da região
Eu também.
Mas as línguas de fogo eram mais gulosas
Devoravam tudo
Vegetações e animais
O cerrado morria e virava cinzas
O cheiro de fumaça invadia a cidade

Eu ainda ali. Inerte. Impotente.
Meu olhar cambiava entre o fogo e a festa
Sobrevivi aos destroços de mim.

Quando a noite já ia alta
Dei jeito e rumo de casa.
Eu e a devastação da serra
dentro de mim

Eis que ao ir embora o vejo 
Tentava atravessar a avenida
Meu carro e eu passávamos
no exato momento.
Quantos anos se passaram
desde nosso último encontro?
Não sei...
Continuei meu caminho de volta

Dois dias depois ouço o roncar de aviões,
pareciam desesperados. 
Sobrevoavam a serra.
Bombeiros, brigadistas, biólogos,
ecologistas, gente do povo,
veterinários, donas de casa
juntaram esforços para debelar os vários focos incendiários
A serra se foi
O cerrado morreu
Secaram vários veios d'água.

E perder meu amor mais uma vez
Fez-me secar também.


Resultado de imagem para imagens do incendio em ouro branco



Resultado de imagem para imagens do incendio em ouro branco


11/09/2017




quinta-feira, 7 de setembro de 2017

Conto infantil: A Baleia Encantada









Juju era o apelido dela. Um filhote da família de baleias onde todas as filhas tem o mesmo nome ou seja: Jubarte. E os filhos também são chamados de Jubartes. Mas Juju foi carinhosamente chamada assim porque era uma baleinha muito esperta. Ela nasceu no oceano Atlântico, no litoral do Brasil, bem pertinho da praia e num belo lugar onde todos iriam vê-la e protegê-la.




Ela estava crescendo muito depressa mas vivia sempre ao lado de toda sua família. Adorava brincar dando saltos fora das águas, no mar. Parecia que iria voar quando suas nadadeiras levantavam como se fossem duas asas a leva-la nas alturas do céu.






Juju já estava danada de esperta. Havia alguns dias em que ela separava da sua família e chegava bem pertinho das areias alaranjadas daquela praia tão formosa. Então ela fazia várias estripulias. Pulava. Gritava. Esguichava água por suas costas. Parecia que queria brinca com as crianças na praias. Nessas horas a mamãe Jubartona ficava toda orgulhosa e comentava com seu marido Jubartoni: " Veja como ela é tão linda e alegre!"



E toda a família Jubarte gostava muito da pequena Juju e a protegia das redes dos pescadores e dos cascos dos navios. Sempre falavam que ela não deveria chegar próximo dos locais perigosos como aqueles.




Em alguns meses do ano, de acordo com as fases da lua, mudavam-se as marés e então todas as baleias apareciam bem perto da praia. Era quando a criançada e seus pais ficavam admirando a festa das baleias. Elas não cansavam de se exibirem em seus magníficos saltos fora d'água e faziam um grande barulho, esguichando água e brincando umas com as outras.



Fora numa festa dessas que Juju afastou de sua família e conseguiu chegar bem perto da praia. E foi, ao pular por cima das ondas, dar seu grito e esguichar água para todo lado, que seus olhinhos não tão pequenos de baleia, encontraram com dois olhinhos pequeninos de verdade. Era Edgar. Um menino que também havia se desgarrado de seus pais e que havia parado para ver as travessuras de Juju tão perto dele. A partir daquela troca de olhares, Juju ficou encantada com Edgar e Edgar ficou encantado com Juju.





Durante todo os dias seguintes das suas férias Edgar passou a levantar cedo e correr para a praia. Sentava uma rocha vulcânica e esperava pela chegada da baleinha esperta. Dai a pouco ela chegava pulando, brincando e fazendo suas piruetas no ar e no mar. Era seu jeito de mostrar felicidade ao ver seu amigo. E parecia que eles se entendiam nas conversas.

Entretanto, como nem tudo que é bom dura muito tempo, chegou o final das ferias e Edgar voltou para sua casa em outro estado; muito longe dali. Mas ele fez seu pai prometer que voltariam àquela praia em todos os meses de março, quando o outono chegasse. E seu pai aceitou o pedido. 




Porém no terceiro ano depois daquele aconteceu um inesperado. Juju que nada sabia do combinado de Edgar com seu pai, continuava a vir todas as manhãs naquele mesmo local bem perto da praia. E brincava. E pulava. E gritava, Ficava por muitas horas esperando por seu amigo. Por fim foi se entristecendo e perdendo seu encanto. 




A mãe de Juju, dona Jubartona, chamava sua atenção quanto aos perigos de nadar tão perto das areias da praia. Em águas rasas as baleias podem se encalhar. Dizia a mãe: " Você está crescendo minha filha e já não deve ficar nadando em águas tão rasas. Você pode garrar nas areias e ficar encalhada."




E o que as mães falam quase sempre são verdades, foi o que aconteceu. Juju já estava muito crescida, muito pesada e acabou ficando presa nas areias alaranjadas daquela praia tão dela.



Na manhã seguinte os pescadores da região acordaram bem mais cedo pois os gritos de dor de toda a família jubarte chegava bem distante. Correram até a praia e viram Juju chorando com seu corpo quase todo fora das águas do mar. Foi um Deus nos acuda. A notícia correu logo e, a cada minuto, chegavam mais pescadores e seus familiares para juntar força e empurrar Juju de volta para as profundezas do oceano. Enquanto os homens faziam forças de Hércules as mulheres e as crianças jogavam água por todo seu corpo que já estava ficando ressecado e desidratado.



Vieram soldados da marinha com muitas cordas e até uma lancha para tentar resgatá-la.
Nunca aqueles moradores viram coisa tão dolorosa. Choraram por todo tempo.

Juju não resistiu.

Logo depois, juntaram-se novamente, pescadores, moradores, visitantes, marinheiros, estudantes e uniram forças para enterrar Juju ali bem perto da praia. Os biólogos registraram e fotografaram tudo. A seguir comunicaram a todos que, depois de alguns anos, iriam retirar seu esqueleto e colocá-lo no Museu da Biologia Marinha Brasileira para que os visitantes conhecessem a história da Juju.




Do outro lado do país nossa história não acabou. Edgar e seus pais se preparavam para mais uma viagem de férias naquele paraíso das areias alaranjadas.

Edgar correu na manhã seguinte de sua chegada para esperar por sua tão alegre amiguinha grande. Ficou esperando por muitas horas. Ninguém queria contar ao menino o que acontecera com Juju. Falaram primeiro ao pai dele.
Após saber do ocorrido, Edgar continuou sentado na mesma pedra preta de sempre. Chorou muito. Voltou para a pousada e fez um pedido a seu pai. Um pedido muito estranho.

E hoje todos que forem visitar a Praia Formosa, das areias alaranjadas, verão um menino gigante esculpido em concreto, com boné, camisa e shorts coloridos, bem no alto de um mirante. 

E lá do alto, dia e noite, o menino olha para o mar esperando a volta de Juju.






Abril/2017

Agradecimentos especiais:
. Douglas S. Soares( ilustrador/14 anos)
. Tiago Paschoalin (assessoria)
. Francisco( assessoria)
                                        






terça-feira, 29 de agosto de 2017

Adversos


Ele
 amor próprio
 selvagem
 acadêmico
 amor perfeito
 filosófico
 sexual
 terrestre

Ela
 amor de juras
 domesticada
 cotidiana
 amor proibido
 sensual
 oceânica

27/06/2017

terça-feira, 22 de agosto de 2017

Carta de amor - IV

                                 (Portrait de Gustave Geffroy-1895- Paul Cézanne)


Boa noite meu amor.

Não sei se gostaria de lhe escrever esta carta. E nem sei por onde começá-la. São tantas coisas a serem ditas e tantas a serem não ditas que me perco entre umas e outras.

Saber daquilo que te ocupa os dias e as noites me consola sua ausência permanente. Saber que te ocupas em pensar em mim não menos do que me ocupo em pensar em ti já é um sinal de amor. Entretanto a vida não se ocupou de nós. Deixou-nos à margem de nós mesmos. Separados. Deixou-nos à margem daquilo que, por ventura, teria sido uma grande história de amor, amizade e cumplicidade.

Mas sobrevivemos bem ao adverso de nossos desejos. Nossos destinos descruzaram. Já não seria tempo de procurar os obstáculos que enfrentamos por aqueles tempos. Porém nunca me seria tarde desvendar os mistérios que envolveram nosso amor. Jamais me vergarei diante do vento que tem soprado contrário aos nossos caminhos, pois o passear das suas mãos por meu corpo, a delicadeza de suas palavras soando nos meus ouvidos, a alegria de suas histórias estará sempre à flor da minha pele. Posso senti-las todas as vezes que penso em ti.

Atualmente nunca estivemos tão perto um do outro. Agora basta eu esticar meus braços e tocar você. Entretanto, agora basta eu me aproximar para sentir uma outra distância. Nunca estivemos tão próximos e tão separados.

No meio desse tempo, perdidos de nós, há várias histórias com personagens diferentes. E todos entrelaçados a nós.

Por outro lado não me eximo das escolhas feitas num tempo de desesperos quando procuramos um ao outro e nos encontramos tão sem rumos. Já havíamos nos abandonados. Nós nos abandonamos. Culpar o destino é tirar de nós a responsabilidade do desencontro.

Ainda espero, assim como nos adverte a matemática, que as paralelas e os extremos se encontrem. Um dia.

Estou tão perto de você. Olhe ao lado sem medo de me tocar.



              Assina esta carta: seu grande amor.

19/08/2017