Antes de reiniciar minhas histórias em Cuba me lembrei de um fato que presenciei ainda dentro do avião no percurso de São Paulo a Lima. Como nosso voo era noturno e o cansaço já se fazia presente, dormi logo após a decolagem em direção ao Peru. Acordei no meio da noite e olhei pela janelinha do avião, ao meu lado esquerdo. Vi algo que eu não entendia. Eram vários e enormes quadrados, um dentro do outro, iluminados com luzes fortes e outras luzes, tão fortes quanto aquelas, próximas à visão dos quadrados. Na hora lembrei-me do meu neto e queria contar para ele o que eu havia visto. Diria assim: “Eu vi o céu lá embaixo. Ele estava muito estrelado e tinha uma gigante constelação quadrada e outras menores que pareciam a via láctea. Era maravilhoso aquele céu. Mas como eu ia ver o céu de cabeça para baixo?! Achei aquilo muito esquisito”.
Eu não conseguia tirar meus olhos daquela imagem e só no depois foi que me dei conta que aquilo poderia ser a lendária e remota cidade de Cusco ou Machu Picchu que estão a mais de três mil metros acima do nível do mar. Jamais esquecerei aquela visão.
Pois bem, depois de publicar a parte 1 da minha viagem a Cuba, abri os mapas que trouxe de lá e continuei minha viagem pelos lugares por onde passei.
Nossos anfitriões brasileiros nos deram muitas sugestões de como andar pela ciudad vieja, onde comprar nossas lembrancinhas, onde poderíamos fazer nossas refeições e onde havia entradas gratuitas para museus e espaços de arte. Eles já haviam nos enviado arquivos com muitas informações sobre a região onde nos hospedaríamos e sobre tudo em torno.
- Vocês já foram à Rua O Bispo? É lá que se encontra a feira permanente para vocês fazerem suas compras.
Coloquei meu boné vermelho com a palavra LULA, para proteger meu rosto do escaldante sol do Caribe, e para lá nos dirigimos com nossa colega – multilínguas – a nos ajudar nas conversas com os cubanos. Ainda caminhando pelo Paseo de Martí (Prado) alguns expositores ou guias cubanos olhavam para meu boné, davam um sorriso e faziam o L com a mão, outros aventuravam e diziam, com sotaque espanhol, “Lula livre”.
Pois bem, depois de publicar a parte 1 da minha viagem a Cuba, abri os mapas que trouxe de lá e continuei minha viagem pelos lugares por onde passei.
Nossos anfitriões brasileiros nos deram muitas sugestões de como andar pela ciudad vieja, onde comprar nossas lembrancinhas, onde poderíamos fazer nossas refeições e onde havia entradas gratuitas para museus e espaços de arte. Eles já haviam nos enviado arquivos com muitas informações sobre a região onde nos hospedaríamos e sobre tudo em torno.
- Vocês já foram à Rua O Bispo? É lá que se encontra a feira permanente para vocês fazerem suas compras.
Coloquei meu boné vermelho com a palavra LULA, para proteger meu rosto do escaldante sol do Caribe, e para lá nos dirigimos com nossa colega – multilínguas – a nos ajudar nas conversas com os cubanos. Ainda caminhando pelo Paseo de Martí (Prado) alguns expositores ou guias cubanos olhavam para meu boné, davam um sorriso e faziam o L com a mão, outros aventuravam e diziam, com sotaque espanhol, “Lula livre”.
Encontramos a rua que, na verdade, se chama Obispo e ela estava bem pertinho de nós. Centenas, ou milhares de turistas, andando de um lado para outro numa estreita rua havanesa com dezenas de lojinhas e feiras.
Mas, logo na esquina da referida rua demos de cara com uma livraria onde entrei ávida para encontrar um livro do poeta e libertador de Cuba, José Martí, pedido do meu editor escritor, poeta e jornalista de quem tanto gosto. Ali já me dei por satisfeita, nem precisava andar mais. Mas continuamos, as quatro mulheres, pela estreita rua Obispo. Meus olhos vagavam pela arquitetura dos casarões, pelas placas indicativas de escolas, prédios do governo, restaurantes e pelos tantos turistas que disputavam os espaços.
Depois do almoço eu queria encontrar e caminhar pelo Malecón, definido assim por Leonardo Padura : “O Malecón de Havana é um parapeito de blocos de cimento e concreto aramado que corre pela margem norte da cidade, de frente para a corrente quente do golfo do México...” (1) e ele continua a descrevê-lo em várias partes de seu livro, com muita nostalgia dessa barreira física da cidade. E nós caminhamos, no final da tarde, pelo Malecón onde várias famílias com suas crianças, casais de namorados, alguns aventureiros pescadores, transitavam serenamente. Nesse instante meu sentimento foi de plenitude. Parecia que eu pertencia àquele lugar, em meio a tanta água. Mais tarde percebi que “nosso apartamento” estava bem perto do Malecón.
- Amanhã vocês irão para Viñales, uma região montanhosa com mural pré-histórico, cavernas e uma típica recepção na casa dos moradores de lá. A viagem durará em torno de 5 horas. Preparem-se.
Avisou Zeca, “nosso guia”.
Na manhã seguinte nosso café já estava sobre a bela mesa em pátina branca combinando com as roupas brancas de nossa anfitriona.
Mas, logo na esquina da referida rua demos de cara com uma livraria onde entrei ávida para encontrar um livro do poeta e libertador de Cuba, José Martí, pedido do meu editor escritor, poeta e jornalista de quem tanto gosto. Ali já me dei por satisfeita, nem precisava andar mais. Mas continuamos, as quatro mulheres, pela estreita rua Obispo. Meus olhos vagavam pela arquitetura dos casarões, pelas placas indicativas de escolas, prédios do governo, restaurantes e pelos tantos turistas que disputavam os espaços.
Depois do almoço eu queria encontrar e caminhar pelo Malecón, definido assim por Leonardo Padura : “O Malecón de Havana é um parapeito de blocos de cimento e concreto aramado que corre pela margem norte da cidade, de frente para a corrente quente do golfo do México...” (1) e ele continua a descrevê-lo em várias partes de seu livro, com muita nostalgia dessa barreira física da cidade. E nós caminhamos, no final da tarde, pelo Malecón onde várias famílias com suas crianças, casais de namorados, alguns aventureiros pescadores, transitavam serenamente. Nesse instante meu sentimento foi de plenitude. Parecia que eu pertencia àquele lugar, em meio a tanta água. Mais tarde percebi que “nosso apartamento” estava bem perto do Malecón.
- Amanhã vocês irão para Viñales, uma região montanhosa com mural pré-histórico, cavernas e uma típica recepção na casa dos moradores de lá. A viagem durará em torno de 5 horas. Preparem-se.
Avisou Zeca, “nosso guia”.
Na manhã seguinte nosso café já estava sobre a bela mesa em pátina branca combinando com as roupas brancas de nossa anfitriona.
“Barriga cheia, pé na areia.”
Tão logo as montanhas começaram a aparecer sentimos a mudança do clima. Eu não acreditava no que estava vendo, uma belíssima região montanhosa, com riachos e ranchos cubanos que me fizeram lembrar a zona rural dos meus familiares em Minas Gerais. Paramos num mirante de onde avistamos formações rochosas que eu não conhecia. Tratavá-se da região do Piñar del Rio, região mais ocidental de Ilha de Cuba. Nosso destino era Viñales, cidade onde são feitos, artesanalmente, os mais famosos charutos de Cuba, que lá eles chamam de tabaco.
Na varanda da casa estava o casal a nos esperar com grandes sorrisos, abraços calorosos e taças com frutas locais. Carlos e Mariela nos acomodaram nos quartos e, as duas novas colegas de São Paulo, foram para outra casa. Após o almoço, servido por eles, nos convidaram a ir ver onde são feitos os charutos. Minha colega de viagem tinha a encomenda da compra de charutos “Romeu e Julieta”, tão famosos quanto os outros, mas só me lembro do chamado Cohiba. Caminhamos muito entre becos e trilhas e observei que não havia cercas delimitando espaços entre as casas. Perguntei ao Carlos, que nos acompanhava, sobre a ausência de cercas e ele me disse que “aqui não há cercas porque somos uma comunidade. Todos ajudam uns aos outros...” e continuou no seu espanhol a me falar sobre a localidade.
Pregado na parede da casa deles, num quadro de vidro, li o diploma de engenheiro agrônomo de Carlos. O filho único, jovem universitário, falou do seu desejo em fazer mestrado na área de engenharia agrária numa universidade brasileira, mas reconheceu as dificuldades financeiras e aquelas refrentes aos intercâmbios entre os dois países. Além disso, já estava noivo.
(Devo confessar que, durante toda a viagem, estive ávida por tomar café. Infelizmente não havia tanto café e, só agora enquanto escrevo, é que me dou conta de que teria feito uma abstinência de cafeína – porque meu humor estava péssimo e eu sentia um cansaço inexplicável. “Desculpem-me minhas colegas de viagem!”)
À noite fomos andar por Viñales e encontramos uma cidade viva, com vários e belos restaurantes com cardápios variados e deliciosas bebidas. Ali também me esbaldei com o mojito e a cuba libre além das limonadas com hortelã e sanduiches artesanais super bem feitos.
Na manhã seguinte nosso táxi para seis turistas estava cedo na porta de casa. Ele nos levaria até as montanhas, ao mural pré-histórico, às cavernas e ao mirante. Foi por ali que fiquei perplexa diante de tanta beleza.
“El panorama de la Serra de los Órganos es extraordinário. Los mogotes del Valle de Viñales, las innumerables cavernas que atraviesan estas montanhas cársicas y las vegas donde crece el mejor tabaco del mundo”(2).
Toda a região faz parte da reserva Mundial da Biosfera e é protegida pela UNESCO.
O gigante mural com oitenta metros de altura e cento e vinte metros de comprimento, um dos maiores murais do mundo, representa a evolução da vida animal no planeta Terra.
Havia uma simples, mas arrojada estrutura, como uma praça, para receber os turistas e foi ali que minha colega comprou seus “tabacos”.
Hora de ir às cavernas e descer de barco num rio subterrâneo. Entramos de cabeças abaixadas dentro de uma caverna que parecia não ter fim, até chegarmos ao barqueiro. Só esperava que não fosse Caronte, barqueiro da mitologia grega que transportava as almas através das águas do Hades.
E saimos da caverna numa campina linda onde um simpático restaurante já nos aguardava para o almoço.
Uma “cuba libre”, porque depois de sair daquele rio nas profundezas da montanha, só um legítimo rum cubano.
Tão logo as montanhas começaram a aparecer sentimos a mudança do clima. Eu não acreditava no que estava vendo, uma belíssima região montanhosa, com riachos e ranchos cubanos que me fizeram lembrar a zona rural dos meus familiares em Minas Gerais. Paramos num mirante de onde avistamos formações rochosas que eu não conhecia. Tratavá-se da região do Piñar del Rio, região mais ocidental de Ilha de Cuba. Nosso destino era Viñales, cidade onde são feitos, artesanalmente, os mais famosos charutos de Cuba, que lá eles chamam de tabaco.
Na varanda da casa estava o casal a nos esperar com grandes sorrisos, abraços calorosos e taças com frutas locais. Carlos e Mariela nos acomodaram nos quartos e, as duas novas colegas de São Paulo, foram para outra casa. Após o almoço, servido por eles, nos convidaram a ir ver onde são feitos os charutos. Minha colega de viagem tinha a encomenda da compra de charutos “Romeu e Julieta”, tão famosos quanto os outros, mas só me lembro do chamado Cohiba. Caminhamos muito entre becos e trilhas e observei que não havia cercas delimitando espaços entre as casas. Perguntei ao Carlos, que nos acompanhava, sobre a ausência de cercas e ele me disse que “aqui não há cercas porque somos uma comunidade. Todos ajudam uns aos outros...” e continuou no seu espanhol a me falar sobre a localidade.
Pregado na parede da casa deles, num quadro de vidro, li o diploma de engenheiro agrônomo de Carlos. O filho único, jovem universitário, falou do seu desejo em fazer mestrado na área de engenharia agrária numa universidade brasileira, mas reconheceu as dificuldades financeiras e aquelas refrentes aos intercâmbios entre os dois países. Além disso, já estava noivo.
(Devo confessar que, durante toda a viagem, estive ávida por tomar café. Infelizmente não havia tanto café e, só agora enquanto escrevo, é que me dou conta de que teria feito uma abstinência de cafeína – porque meu humor estava péssimo e eu sentia um cansaço inexplicável. “Desculpem-me minhas colegas de viagem!”)
À noite fomos andar por Viñales e encontramos uma cidade viva, com vários e belos restaurantes com cardápios variados e deliciosas bebidas. Ali também me esbaldei com o mojito e a cuba libre além das limonadas com hortelã e sanduiches artesanais super bem feitos.
Na manhã seguinte nosso táxi para seis turistas estava cedo na porta de casa. Ele nos levaria até as montanhas, ao mural pré-histórico, às cavernas e ao mirante. Foi por ali que fiquei perplexa diante de tanta beleza.
“El panorama de la Serra de los Órganos es extraordinário. Los mogotes del Valle de Viñales, las innumerables cavernas que atraviesan estas montanhas cársicas y las vegas donde crece el mejor tabaco del mundo”(2).
Toda a região faz parte da reserva Mundial da Biosfera e é protegida pela UNESCO.
O gigante mural com oitenta metros de altura e cento e vinte metros de comprimento, um dos maiores murais do mundo, representa a evolução da vida animal no planeta Terra.
Havia uma simples, mas arrojada estrutura, como uma praça, para receber os turistas e foi ali que minha colega comprou seus “tabacos”.
Hora de ir às cavernas e descer de barco num rio subterrâneo. Entramos de cabeças abaixadas dentro de uma caverna que parecia não ter fim, até chegarmos ao barqueiro. Só esperava que não fosse Caronte, barqueiro da mitologia grega que transportava as almas através das águas do Hades.
E saimos da caverna numa campina linda onde um simpático restaurante já nos aguardava para o almoço.
Uma “cuba libre”, porque depois de sair daquele rio nas profundezas da montanha, só um legítimo rum cubano.
30/07/2024
(1) "Água por todos os lados" autor Leonardo padura
(2) Folheto - Mapa turístico de Piñar del Rio
Observação: Caso queiram fazer algum comentário não esqueçam de de se identificarem.
Fotografias: arquivo pessoal e da colega jovem viajadeira. a foto de abertura desta crõnica é da simpática vendedora na lojinha do mural em Viñeda e ela autorizou a postagem.
Igreja na cidade de Viñales
Placa indicativa das distâncias de Viñales
Hotel nas alturas de Viñales
Boiadeiro distraído
Formação rochosa com neblina