sábado, 22 de novembro de 2025

Crônica: Cheiro de quitandas no ar

                                        




O meio do feirado prolongado e a falta de uma rotina neste tempo da minha vida têm me deixado por muitas ocasiões mais desorientada do que, normalmente o sou. Nesta manhã não foi diferente. Decidida a não ir à academia que de certa forma me localiza no tempo e no espaço, não abri os olhos ao barulhinho deste instrumento chamado celular. Apenas estiquei o braço e risquei o dedo a manda-lo calar a bocarra.

Mas eis que o ar me trouxe o nostálgico, delicioso e inconfundível aroma dos galhos verdes do alecrim varrendo as brasas do forno de barro da casa do meu vizinho. Obá! Elas estão fazendo quitandas! Falei comigo. Levantei e fui caminhar ao longo do muro que separa nossos quintais. Queria sentir mais de perto o aroma da minha infância.

Pois bem, como não fui lá desde o início da semana para um convite ao meu vizinho, deixei de lado a vergonha que não tenho, e fui até lá. Ao chegar ali deparei com a cena que, às vezes, se apresenta. Carecia de mil fotos para mostrar o que vi ali. Senhor Joel era só felicidade e sorrisos. Na jeitosa área do fogão a lenha estavam três das cinco filhas, Adriana, Rosa e Elizângela, duas netas, duas bisnetas, a irmã mais nova, e Linda, a vizinha quitandeira de mão cheia. Era lindo de se ver. Chamei meu vizinho à parte e lhe fiz o convite. Venha almoçar conosco amanhã! A resposta foi um sim recheado de alegria. Aos noventa e seis anos, meu vizinho é um homem descomplicado. Gosta de dançar e sempre se gaba que “elas brigam e fazem fila pra dançar comigo”. Desce e sobe o nosso morrão a pé todos os dias; o que, na minha opinião, é o que tem lhe dado disposição, saúde no coração e nas pernas.

E os biscoitos! Pois fui convidada a tomar um cafezinho e comer um biscoito. Eles estão lá em cima da mesa. Uma das filhas, Adriana, minha amiga, me conduziu até a mesa. Lá estavam eles cobrindo toda a extensão de uma enorme mesa. Biscoitopolvilho, como nós mineiros falamos. Sem o “s” do plural e sem a preposição “de”. Nós emendamos as duas palavras numa só. Pois ainda ganhei dois enormes biscoitopolvilho para minhas filhas.

Numa outra mesa, próximo ao forno cheirando a alecrim queimado, várias folhas de bananeira picadas em quadrados do mesmo tamanho. Estas receberiam a massa de mais biscoitos e de outras tantas quitandas como o famoso biscoito do Padre, este feito com farinha de trigo como me explicou minha querida Suely, outra das irmãs. Para mim, a quitanda mais gostosa é a rosca doce que, agora, não posso mais saborear devido aos altos índices de glicose no meu sangue.

Os trabalhos daquelas mulheres me fizeram lembrar as fantásticas formigas operárias onde cada uma sabe sua função e a exerce com perícia. Mas aqui elas riem, falam sem parar, contam casos e botam as mãos na massa.

Meninas, obrigada pelos biscoitopolvilho, pelo cafezinho fora de hora e pela alegria contagiante de todas vocês.

Obrigada Senhor Joel!

Sexta-feira, 21 de novembro de 2025.






Fotografias: arquivo pessoal

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