domingo, 26 de outubro de 2025

Poesia - com-paixão

 


Com-paixão

De onde veio o olhar

a me procurar?

Que olhar aquele

a me encontrar?

Veio de longe

Veio suave

Veio só


Me desnudou

Me acolheu


De longe me carregou no colo

Me afagou os cabelos

Me beijou a boca

Me deixou no chão




(Funil, 26/10/2025)

Quadro: Moça na janela - Salvador Dali. 1925

quarta-feira, 22 de outubro de 2025

Poema: Sentimentos encantados.

 


Sentimentos  Encantados

 

Lá estavam eles

Foi no primeiro dia de maio

Muitos abraços

Sorrisos demais

À tarde dançamos com o vento

Que soprou segredos de então

No segundo dia vadiei pela cidade

Foi preciso um tempo só meu

Estava deveras atordoada por tantos

No terceiro dia fui  la belle notre dame de Paris

No depois voltei pra mim


Hoje: meu Deus! É ele.

Um vulcão despertou

em mim

Trazendo saudades dos olhares dantes,

sonhos que ali ficaram retidos

 

Que venha!

Sou menina outra vez

 

Para Márcia Soares (Nossa Cigana Esmeralda - Médica Antroposófica - RJ)

22/10/2025


                                                   Flores de cerejeira e mirra


Fotografias: enviadas pela cigana Esmeralda do seu canto em Itaipava (RJ) com por do sol de sua janela da sala de jantar.


quinta-feira, 9 de outubro de 2025

Crônica: Antes da chuva

                                                        


Era um domingo como tantos outros em que as famílias se reúnem para o almoço feito com carinho e muito sabor. Como tantas vezes acontece, alguém colocou fogo para aplacar a “sujeira” de folhas e galhos secos. O calor intenso do final de semana e os inclementes raios solares foram os combustíveis perfeitos para que o pequeno e improvável fogo se espalhasse pela mata próxima.

À noite já podíamos sentir os olhos ressecados e o ar com cheiro de fumaça. Vizinhos alertando para o fogo esparramando e já solicitando presença do corpo de bombeiros que, com a alta demanda por toda a região metropolitana, não respondeu aos vários pedidos de socorro.

Na segunda-feira o fogo pulava como criança, ia de um lugar a outro com a mesma agilidade e esperteza infantis. Vizinhos alarmados davam notícias, pediam ajuda para impedir a chegada do fogo até as casas. Nesta hora a ajuda de todos foi imprescindível. A união dos moradores foi abençoada.

Os poderes públicos, com a prefeita, com nossa vereadora, com a Defesa civil e o corpo de bombeiros, iam e vinham, literalmente, apagando fogo aqui e acolá. Meus olhos só viam. Mas meu coração, desesperado, emudecia. Lia e ouvia as mensagens do grupo de whatsApp que nunca fora de tanta utilidade. Queria estar junto. Reconheço minha inércia. Paralisei-me. Confesso que senti inveja de todos que lutaram contra o fogo.

E o fogo comia tudo com avidez, ele estava deveras, esfomeado. Pássaros voavam desnorteados. Tucanos vieram beber água na minha bacia. O vento da noite de segunda-feira espalhou ainda mais as línguas flamejantes. Dormir, nem pensar. O canto do fogo, como se tagarelasse, estalava nos nossos ouvidos. Toalhas no chão encharcadas de água para apaziguar a rarefação do ar.

Na terça-feira o fogo comedor chegou à serra que divide nossa Mário Campos com Brumadinho. Então chegaram as ajudas especializadas. Helicópteros e um avião amarelo faziam seus trabalhos. Mapeavam, apagavam, voavam para lá e pra cá. O fogo implacável teimava em resistir.

Num determinado momento uma moradora nos falava aflita que uma árvore bem próxima à sua casa, havia pegado fogo sem mais nem menos, "como se estivesse caindo fogo do céu".

Não tenho dúvidas do tanto que aprendemos com esta tragédia. Fogo mata. Folhas e galhos secos viram estercos se misturados a terra. Lembro, mais uma vez, do nosso filósofo e ambientalista, Airton Krenak, quando diz que fazemos parte da natureza, somos da natureza como a flora, pois somos do reino animal. Se matarmos a natureza, estamos fadados a exterminar com nossa espécie. Ou seja, deixaremos de existir.

Finalizando, proponho à prefeita municipal, Andresa Rodrigues, à câmara municipal, aqui representada pela vereadora Sammantta Bleme, e aos vários líderes da nossa região, a implantação de um grande projeto de reflorestamento em parceria com institutos e universidades federais, com as escolas do município e com a comunidade em geral.

Que tal transformamos a trágica experiência do fogo num belo projeto? Que tal o pequeno município de Mário Campos tornar-se exemplo para Minas e para o Brasil no reflorestamento de áreas desvastadas pelo fogo?

E a chuva chegou na quarta-feira.
“Abensonhada” chuva (*).



(manhã de quinta-feira, dia 09/10/2025

Observação: crônica publicada originalmente na Página "Salve o Funil" no meu perfil do facebook.

sexta-feira, 3 de outubro de 2025

Poesia: Menininha de Brás Pires

                                             

Nasceu Roszarinha

Em Brás Pires, no meio da serra

Casa feita de barro, com cheiro de mato

Um lugar cheio de esperança e afeto


Cresceu numa cidadezinha

vendo sua mãe na cozinha

ouvindo o sino da igreja tocar

e seu padre Zizinho a cantarolar


Menina curiosa, autônoma, preciosa

entre a dor, o cheiro e a flor

Aprende que a vida se faz com amor



Biografia:

Maria do Rosário Nogueira Rivelli nasceu em Brás Pires em julho de 1957, na cidade de Brás Pires, M.G. Aos seis anos mudou com a família para a cidade de Comselheiro Lafaiete, de onde guarda muitas lembranças de sua infância. Formou-se em Medicina pela Universidade Federal de Juiz de Fora -UFJF em 1981 e fez residênsia em psiquiatria no Instituto Raul Soares -FHEMIG, na capital, Belo Horizonte. Transferiu-se para Betim em 1987 onde criou seus tres filhos e, desde então, tem se dedicado à saúde mental pública e ao seu consultório. Depois de trinta anos morando em Betim retornou-se para Conselheiro Lafaiete em busca de ares familiares. Atualmente vem se dedicando ao seu blog Contos de Rivelli e às Oficinas de Escrita em Belo Horizonte, ao incessante estudo da psicanálise e a receber seu neto, Dudu, para os almoços de domingo.

Autora: Maria Eduarda ( 15 anos)

Observação: Maria Eduarda escreveu a poesia como trabalho escolar. Havia ido, com sua avó, minha prima, no lançamento do meu último livro "Em nome da mãe" - inadequado para sua idade. Na ocasião lhe presenteei com meu primeiro livro "Rosa nos tempos". A avó me relatou que ela leu o livro para um trabalho da escola, escreveu a poesia e minha biografia. 
Muito obrigada Maria Eduarda. Adorei. Sucessos sempre.


                                            Floração dos nossos ipês



                                                                         Cicas
         


                                                         Flores do limoeiro

Fotografias: gentilmente cedidas por Eliane Cândido, fotos do seu jardim defronte  sua casa.