sexta-feira, 20 de março de 2015

FELICIDADE




                                         FELICIDADE: CADÊ VOCÊ ?


  Acordo com o barulho do silêncio. É ainda muito cedo mas resolvo levantar nesta manhã de sexta feira. Quis o destino e os homens que eu não trabalhasse hoje. Eu nada havia previsto dada a expectativa do plantão.

  Tivera uma semana de muitos estudos e muito trabalho.

  Então faço meu café forte e o saboreio com queijo e pão dormido. Logo me vem a vontade de falar com um amigo distante. Envio uma mensagem na manhã silenciosa. O dia está lindo.

  Fazer o quê? Nunca consegui fazer nada. Então sento e olho em torno. Há aquela samambaia para ser mudada de lugar; aquele mensageiro do vento precisava ser hidratado, pois as peças de bambu estão esbranquiçadas e podem se quebrar. Os cachorros precisam de banho e remédios para pulgas e carrapatos. Os projetos da minha horta e do meu enorme vaso de flores estão parados. Eu queria comprar mais frangas botadeiras e tenho que ir à loja para pagar as rações. 

  Minha filha pediu que eu não esquecesse de levar limão capeta e eu quero limão galego. É a primeira produção deles, os galeguinhos, cuja muda eu havia plantado há dois anos.

  E eu continuo sentada pensando em tudo isto.

  Meu amigo responde  dizendo-se feliz pela minha mensagem. E é só o que ele consegue dizer. Sempre em seu castelo de espíritos.

  Lembrei da minha total falta de iniciativa. Eu sei fazer o que se faz necessário mas sempre me falta a palavra de uma outra pessoa. E eis que essa outra chega e já começa a dar rumo nos meus afazeres. 

  É Andreia, esposa do meu vizinho Alberto. Ela cuida de tudo para mim, até mesmo me dando as ordens para o fazer.

 - Eu não aplico as injeções! Tenho nojo de cachorros com carrapatos e pulgas!

  Disse-me ela já tendo buscado os tais medicamentos. 

  Pego as seringas descartáveis e aplico, por via subcutânea e com facilidade, em dois dos cachorros e os outros dois não caem na minha armadilha com o pão. Decidimos que o melhor seria mesmo contratar um serviço especializado para aqueles cuidados. Telefono e agendo uma busca deles para banho, vacinas e exames periódicos. O veterinário já nos é conhecido. 

 E dai por diante começamos tudo aquilo que eu queria. As coisas vão mudando de cara e sendo decididas. Pagamos as dívidas, compramos vasilhames para as rações diferenciadas para as novas moradoras da casa. E lá vamos nós na granja para aquisição das franguinhas.

 Já são onze e trinta horas quando estamos de volta.

 Decido fazer um omelete com muita cebolinha verde e queijo que eu comeria com os tais pães de ontem e limonada. Adoro pães e queijos. Minha vizinha, amiga e dona das iniciativas, convidou-me para comer sardinhas fritas e eu aceitei. Juntamos o meu almoço com o dela e nos fartamos daquela comida tão gostosa. Arroz, feijão, batatas cozidas com açafrão, omelete verde-amarelo, sardinhas fritas e muita limonada.

 - Você quer salada de couve?

  Minha fome dispensou a verdura naquela hora.

  "Barriga cheia, pé na areia."

  Agora é rumo à Via Expressa, onde outra obrigação me aguarda. No caminho porém há a compra da semana no supermercado, frango, pão com baixíssimas calorias, foi o pedido de uma filha, café pra mim (que eu esqueci), frutas, e "iogurte para eu comer com granola", fora o pedido da outra filha.

  Resolvida a questão em Contagem continuo meu caminho para Belo Horizonte de volta para casa.

  Devo dizer que eu sempre fico ouvindo notícias. Agora dei também para ouvir aulas de francês em CD. Ou prefiro ouvir só meus pensamentos e desligo o rádio. 

 Então, ao entrar no carro escuto o comentário sobre o dia de hoje quando é comemorada a Felicidade. Então lembro do tanto que já li sobre esse tal estado de humor. Um sentimento ou sei lá o quê. 

  Percebi através daquele comentário radiofônico que hoje eu estou deveras feliz.

  Após chegar no meu apartamento e encontrar muitas dificuldades para guardar o carro na garagem, tudo aquilo vai-se embora. 

 Fico ainda mais tensa com a desordem deixada pelas filhas, embora reconheça o pouco tempo disponível. Começo a arrumar tudo de uma só vez e nada faço.

 Deixemos as bagunças para elas arrumarem e voltemos à tal Felicidade. Acho que ela, essa tal Felicidade, vem e vai e só alguns de nós, em seu devido tempo, é capaz de percebê-la no exato momento de sua ocorrência. Estamos sempre atrasados.

 Quando perguntamos por ela, é porque ela já se foi. 

 Então só nos resta a saudade de sua passagem.

20/03/2015

Um comentário:

  1. Amei! Essa tal felicidade é escorregadia, mas nesses versos se faz sentir!

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