quinta-feira, 27 de abril de 2017

Carta de amor II

Meu nem tão caro amigo,

há alguns dias venho lembrando de você.

Por onde andará aquele que não criou raízes? Como estará o homem que se fazia dono de si e de seus desejos? Como estará aquele homem que sempre se manteve ocupado para não se preocupar com os seus?


No nosso encontro recentemente, ao acaso, você deixou claro que ainda me desejava como nos tempos idos. Devo dizer-lhe que isto me causou muito desconforto. Entretanto, eu que já vinha me arrumando para fazer vários caminhos de volta, repensei. Então conclui que não deixaria de rever toda a natureza exuberante que você, um dia, soube me apresentar com seu saber acerca das ciências naturais.

Concordo com nosso escritor João Guimarães Rosa ao nos dizer que “Saudade é ser depois de ter”. Entretanto devo lhe confessar que nossa história se mostrou avessa a tal afirmação. Talvez nostalgia fosse mais apropriado ao nosso caso de amor uma vez que seria a saudade daquilo que não vivemos e que não tivemos. Nunca tive você.

Lembro-me, não sem muita decepção, que a única certeza que me apresentava advinha do fato de que você sairia novamente logo após chegar à nossa casa. Você sempre escapulia de nós, mas antes me enchia de doces palavras. Depois, extasiada no corpo e na alma, só me restava a solidão.

Hoje, no adiantado das nossas vidas, busco as trilhas nos manguezais e nas areias de nossas praias. Nada encontrei de ti. Apenas o cheiro do mar e o chacoalhar das ondas que ficaram como cúmplices da paixão que não condescendeu ao amor, mas à dor.

Portanto não tenho saudades de ti.

Sem abraços e sem beijos.

                                         Rosa Maria

Santa Cruz, 24/03/2017

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