sexta-feira, 26 de setembro de 2025

Um relato - Pelas ruas de Mário Campos, M.G.

                                    

Ontem comentei em uma postagem de um amigo gaúcho sobre a importância da educação na formação da consciência crítica do nosso povo.

Hoje, com uma lista de afazeres domésticos e pessoais, parei numa esquina para abraçar uma amiga. Eu tinha acabado de deixar uma sacola com sapatos, um tênis infantil e algumas peças de roupas para o varal solidário. Deixei a sacola sobre uma mesa improvisada.

Percebi quando um casal, que estava conversando por ali, caminhou em direção ao varal.
Reviraram o conteúdo.

Ele encontrou uma colcha colorida e saiu com ela debaixo do braço.

Ela encontrou um livro que eu havia esquecido lá dentro. Pegou o livro, sentou-se na beirada do meio fio e começou a ler ali mesmo.

Ganhei meu dia. Da próxima vez deixarei sacolas com livros.

25/09/2025


domingo, 21 de setembro de 2025

Crônica - Desabafo 2 - PEC da Bandidagem - Sem anistia

                           



Nada justifica minha não ida à belíssima Praça Raul Soares, em Belo Horizonte, senão um constante boicote meu. Desde as aprovações, nas surdinas noturnas, da Câmara Federal da PEC das Blindagens/ bandidagem e da Anistia, tenho estado à flor da pele. Inimaginável o que os representantes do povo brasileiro fizeram para continuar legislando em causa própria. Defendendo o indefensável.

Numa noite nossos representantes, deputados federais, “o pior congresso federal de todos os tempos” aprovaram projetos de emendas constitucionais (PEC) que os eximem de quaisquer crimes e, noutra noite, aprovaram projetos de anistia.

Nos Estados Unidos, um destes “nossos representantes federais”, nosso Silvério dos Reis atual, trabalha diuturnamente contra o Brasil, trazendo enormes problemas nas relações diplomáticas e econômicas. Ele mente, cria “fake news”, faz terríveis ameaças e chora ao vivo, lágrimas de crocodilo.

Ontem chegou meu presente, uma camisa do Braspirense , time de futebol da minha querida terrinha natal, Brás Pires. Nas cores do Brasil, com a letra B bordada em negrito e, nas costas, meu sobrenome, RIVELLI com o número 13 abaixo. Seria com esta camisa que estaria entre os vários amigos, na contagiante alegria compartilhada, com chapéu de palha, bebendo muita água sobre o escaldante sol da capital mineira e cheia de emoções.

Pulei cedo da cama. Ainda muito indecisa à mesa do meu café da manhã. Nada justificaria eu não estar lá. Mesmo a distância que percorreria, sozinha no meu carro, até lá. Agora, assistindo a alegria da concentração em Salvador, digo a mim que não me perdoarei.

“Com fascista não se discute”, escuto um dos jornalistas dizer.

Da diretora de Faculdade de Medicina da Bahia, escuto “o basta formar médicos, é preciso muito mais do que só formar médicos” e regozijo-me com a certeza de ter sido uma profissional médica “muito mais do que só isto”.

“Eles destruíram a sede dos três poderes, vamos anistiar? Vejamos o que Trump está fazendo nos Estados Unidos cerceando os trabalhos jornalísticos", escuto do excelente cidadão José Dirceu.

Sob o pretexto da distância até a capital, sob o pretexto de ter que cuidar do meu quintal com novas mudas de embaúbas, pau-mulato e mais uma tamareira, além do meu jardim que a seca tem deixado abalado, não fui lá. Agora, fico aqui à frente da tela de meu notebook, assistindo às entrevistas de várias pessoas por todo país.

“Nós estamos vivendo momento de virada...” afirma de forma feliz a nossa grande Hidelgard Angel.

Nem a minha lesão grave lesão de pele seria um impedimento para eu estar no meio da multidão, bastaria muito filtro solar, blusas especiais e o meu novo e elegante chapéu de palha. Mas não fui lá. 

Uma amiga envia fotos dela com a familia na manisfestação e com filha grávida, no lindo barrigão de fora se lê "Palestina livre". Outra amiga avisa que está a caminho de lá com os amigos visitantes paraenses. 

Agora haja arrependimento. Em função do meu arrependimento, da minha “boa inveja” do povo na praça, decidi que não farei almoço. Estou demais emocionada para estar com a barriga ora grudada na pia, ora grudada no fogão, vou comer só pão.  Só quero curtir este dia histórico. Dia da árvore. Hoje estamos plantando árvores por todo o Brasil, árvores, fantásticas árvores que nos darão deliciosos frutos.

Manhã do dia 21 de setembro de 2025


 
Fotografias: feitas ainda agorinha por minhas filhas.


Observação: favor colocarem o nome no final do comentário caso queriam fazê-lo. Obrigada

domingo, 14 de setembro de 2025

Crônica: Desabafo



A metáfora da roseira de sua mãe, nos contada pela juíza Carmen Lúcia, foi o que me fez escrever sobre ontem, dia 11 de setembro. Sozinha diante da tela do meu notebook, acompanhei um tanto do que foi dito pelo STF. Obviamente que não suportei ouvir aquele que, como bem nos disse uma charge, “começou às 9 horas e acabou em 1964”. Diante do relato do dito cujo, pude sentir a tal vergonha alheia.

Ainda criança no fatídico dia 31 de março de 1964 não pude ir à escola. O prédio fora interditado. Outras raras lembranças daquela época me levam à carestia sofrida pelo povo brasileiro, me levam ao medo de sair às ruas, me levam à cena do meu pai “no pé do rádio” ouvindo as notícias e seu amor por JK. Mais tarde iria viver e entender o assombrado período do golpe militar enquanto estudante numa universidade pública, em Juiz de Fora. “Aquele cara era um infiltrado”, ainda escutamos colegas falarem de um jovem que aparecia entre nós.

Ontem, ansiosa com os afazeres domésticos, aniversário de uma filha no dia de hoje, entre um voto e outro, eu dividia comigo e uma taça de vinho, a alegria de ouvir e aprender tanto com nossos competentes juízes da mais alta corte do país.

Enquanto médica acompanhei, mesmo que de longe e aposentada, o sofrimento pela falta de O2 no Amazonas; chorei quando barraram a ajuda venezuelana. Senti-me ofendida quando a ciência fora negada. Odiei quando foram indicados medicamentos sabidamente ineficazes para a Covid 19. Chorei quando nossa fundação estadual de pesquisa, fabricante de medicamentos, 100% SUS, a FUNED – foi impedida pelo governador, que desconhecia a existência de tão importante Instituto de pesquisa, de iniciar a pesquisa para a fabricação da vacina para a Covid 19.

Fiquei indignada quando vi a troca de importante empresa petrolífera nacional por jóias sauditas.

Ficava indignada quando via os filhos do tal presidente do Brasil comprar mansões com dinheiro vivo levado em malas.

Escárnio é o nome disso. Eles debocharam de nós. E nós não perdoaremos.

Minha escrita é tão só um desabafo.

Obrigada STF, obrigada Polícia Federal, obrigada Procuradoria Geral da União, obrigada a todos e todas servidores que trabalharam para a efetivação da justiça.

Obrigada a nós, povo brasileiro, que sonhamos com esse dia.

Agora vou cuidar do meu jardim que, mesmo com esta seca danada, já começou a florir.


12/09/2025



Observação: 
-Caso queiram fazer algum comentário não esqueçam de de se identificarem.

Fotografia: Clarice, minha filha aniversariante e eu.

segunda-feira, 8 de setembro de 2025

Poesia: Amor da lua cheia




 

Lá onde eu moro,
a lua cheia
nasce escondida detrás da serra.

Longe de casa,
neste final de tarde,
topei com a lua
que,
bem devagarinho,
subia ao céu
Parecia a me convidar
para ver seu esplendor

Então,
revestida do meu olhar,
ela se animou
Subiu ligeira,
também
a me olhar.

Foi então que
tornei-me encantada
e cheia,
Cheia do amor que, ora,
vem nascendo dentro de mim.

06/09/2025 (Bairro Primavera, Mário Campos, M.G.)

Fotografia: gentilmente cedida por Marcia Chagas, da janela de seu apartamento no Bairro Santa Teresa, BH. Na foto vemos as torres da Igreja de Santa Teresa.

sexta-feira, 5 de setembro de 2025

Crônica infantil - Carta para Eduardo, meu neto.

                            



Bom dia Dudu,

Como estão todos vocês ai? Fiquei sabendo que você já está voltando sozinho da escola, e de bicicleta! Deve  ser uma grande aventura! Quero que me conte como é voltar para casa sozinho em cima de duas rodas..

Dudu, como você sabe, tia Clarice e eu já voltamos da nossa viagem a Porto Seguro, mas, antes de falar dos nossos passeios por lá, quero falar do que passei dentro daquele trem que voa.

Eu havia entrado preocupada dentro da barriga daquele trem que sabe voar. Na pista por onde ele caminhavs, de repente, o bicho acelerou o passo, arrebitou o nariz, bateu asas e voou. Fechei meus olhos, apertei minha barriga e quase morri de medo.

Tinha hora que parecia que ele estava pulando nas nuvens. Fechei meus olhos de novo e pensei que eu estava montada num cavalo alado galopando sobre as campinas. Nesta hora até senti os ventos batendo contra meu rosto.

Mas foi o barulhão que mais me assustou. Parecia que era um trovão disparado que a natureza esqueceu de desligar.
Outras vezes parecia que a estrada estava cheia de costeletas e ele ficava pulando amarelinha no chão. Caía e levantava e caía de novo e levantava de novo. Quase botei meus bofes pra fora nesta hora.

Dudu, vou te confessar uma coisa: eu gosto mesmo é de viajar dentro de um trem de verdade, ou em cima de um cavalo, ou mesmo dentro de uma BMW que tem até uma mesinha para eu e você tomarmos nossos lanches.

Já falei muito. Depois contarei nossos passeios sobre aquele mundão de águas.
Tô com muuuiiitas saudades de você.

Um abraço, um beijo e uma lasca de queijo

                                     da vovó Zarinha.


Funil, dia 4 de setembro de 2025

Sugestão: será que alguém quer desenhar a vovó Zarinha dentro da barriga do avião?


Fotografia: pintura em painel na parede do Museu em Caraíva, Porto Seguro. (arquivo  pessoal)