terça-feira, 19 de abril de 2016

Pelo retrovisor

   Acordei antes de despertar o meu celular. Outros pormenores me tiraram o sono gostoso do amanhecer.

  Café fresco, forte, saboroso e pão com manteiga me acompanharam neste desjejum. Sem frutas. Esqueci de comprá-las. Meus limoeiros estão carregados do galeguinho cheiroso e suculento. Mas limonada pela manhã, jamais.


   O vizinho me chama para me por a parte das feridas da Duquesa. Vejo-a deitada na areia e ela não responde ao meu chamado. Verifico que está quieta demais. Recusou o pão gostoso que lhe dei e não se mexeu. Vejo as feridas no lombo, bilateralmente, sobre a inserção das patas traseiras. Haveria bicheiras? Seria berne? Pude ver uma ferida aberta como um corte provocado por um instrumento cortante. Arame farpado, pensei eu. Então tento localizar o veterinário. Insucesso. Tentarei mais tarde.

   Vou pra meu trabalho em outra cidade. Nas rádios os noticiários das tentativas de mais um golpe contra a democracia no Brasil. Não quero falar disso. Tenho minhas ideologias políticas, ficarei com elas e lutarei por elas. Desligo o rádio. O caminho é curto mas perigoso devido as curvas, os muitos caminhões levando nossas montanhas para além mar e o volume de veículos para poucas estradas.

   De repente não vejo outros veículos senão o meu. Atravesso a linha de trem e eis que vejo à minha esquerda alguns patos no acostamento, próximos de uma linda lagoa. Um deles mais à frente. Parecia avaliar a travessia. Continuei. Quando olho pelo retrovisor vejo a cena mais bonita do dia, quiçá desta semana. Um pato à frente, caminhando garbosamente com outros cinco a lhe seguir numa bela fila indiana ou patoniana? Não consegui tirar meus olhos daquilo. Por que não parei para tirar uma foto? 

   Entretanto nenhuma foto iria captar a beleza do que vi. A tal beleza não estava apenas nos patos atravessando uma rodovia perigosa e confusa. 

   A beleza estava no meu olhar.

23/03/2016

3 comentários:

  1. Muito bom!
    A beleza está sempre na interpretação, no modo do sujeito ver o mundo.

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  2. Muito bom!
    A beleza está sempre na interpretação, no modo do sujeito ver o mundo.

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