segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Um baile de debutante


   O pai dissera que não pouparia dinheiro para aquela festa. A mãe deveria trabalhar duro para que tudo saísse no mais perfeito requinte. E ela cumpriu bem seu papel nas escolhas de todos os detalhes. O buffet completo viria da capital com toda a decoração nos tons dourados, um capricho da filha. Os vestidos, ternos e acessórios também foram escolhidos e encomendadas as confecções sob medida nas boutiques de lá. Os convites, a menina ou moça definira por letras douradas numa grafia bem clássica.

   Os convidados, em número de quinhentos, foram escolhidos por toda a família. Afinal aquele era o baile de sua única filha mulher.

   Entretanto o pai tivera dificuldades na contratação de um clube na cidade. Alegaram falta de estrutura para tamanha recepção. Restou um clube menor, localizado num bairro de classe baixa. O pai topou o desafio, sugeriu algumas reformas e adaptações. O presidente da associação, lisonjeado com a aceitação daquela sede, investiu ele próprio nas mudanças necessárias.

   Era o ano da copa do mundo de futebol no México e o Brasil seria tricampeão com a seleção canarinho. A alegria reinava por todo o país embora outras situações também dominavam a cena, essas em desespero. Mas a família da moça importava apenas com o sucesso da festa preparada com tanto carinho.

   Na cidade não se falava noutra outra coisa. Todos arriscavam detalhes dos vestidos, do buffet, das lembrancinhas, das músicas escolhidas e até quem dançaria com quem.

   Os quinze pares de amigos e amigas que a acompanharia na valsa foram ricamente vestidos pelos pais da aniversariante. A escolha do tema da festa não agradara a mãe que acabou acatando a decisão da filha. Cinderela. Afinal aquela noite seria dela. Então que se cumprisse todos os desejos incluindo sapatinhos de seda com bordados de cristais.

   Uma equipe especializada em bailes de debutantes fora contratada para que nada faltasse.

   A menina tinha um sonho. Dançar a sua valsa com seu ator de novelas preferido. A recusa do convidado deixara a mocinha inconsolável. As amigas sugeriram vários outros nomes de acordo com a preferência de cada uma delas. Alguns deles foram contactados e novas recusas. Decepção geral. Os pais sabiam o motivo de tantas recusas esfarrapadas. A cor preta da pele. Aquilo sempre fora uma constante na vida deles. Com diplomacia, elegância e muito dinheiro haviam vencido o preconceito por serem afrodescendentes.

   O pai acalentou a filha e pediu confiança na sua escolha para o par na valsa.

   Inventando uma viagem a trabalho, ele foi a São Paulo. Voltou de alma lavada. Havia resolvido a questão. Agora esperar pelo dia da grande festa. E toda a cidade só falava nisto.

   Os moradores do entorno do Clube da Lua limparam suas casas, colocaram flores nas janelas e aguardaram o cortejo festivo. Este fora o jeito deles para presentearam a menina. Tudo ia indo perfeito. Até a natureza adornou o céu de estrelas brilhando e a Terra presenteou com vaga-lumes piscando.

   E chegou a grande noite. O violino anunciou o início do som da orquestra. Estava aberto o baile. Os convidados foram chegando, se acomodando e se encantando com tudo que viam.

   Cinderela apareceu. Estava ainda mais bela em seu vestido de festa. Recebeu todos com alegria contagiante. Às vinte e duas horas fora anunciada a chegada do par para o início da valsa daqueles quinze anos.

   Pela porta principal, sobre um tapete dourado, entra um jovem, elegantemente vestido e com um belo sorriso estampado no rosto. Caminha em direção a Cinderela, estende-lhe a mão no convite a bailar. A menina, surpreendida pela presença daquele seu par, devolve o sorriso e estende-lhe a mão aceitando o convite.

   Edson Arantes do Nascimento bailou pelo Clube da Lua com aquela Cinderela.

   E Pelé, que encantou o mundo inteiro com suas jogadas espetaculares, encantou toda a cidade se apresentando como um verdadeiro pé de valsa.


19/11/2016



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