Minha querida,
Boa noite.
Não me culpe por minha ausência na noite de sua festa. Sou assim: inflexível como o aço, duro como uma rocha e, desesperadamente, só no meio de todos que me cercam.
Não aprendi a sorrir senão daquilo que foi escrito por outros. Apenas represento outrem. Enquanto fico aqui comandando trabalhos esqueço de mim e da minha total incompetência no quesito amor.
Se por um lado meu corpo não esteve ai para te abraçar, por outro minh'alma ficou todo o tempo ao teu lado. Quando você quase chorou por minha ausência, eu aqui chorei por não conseguir ir ao seu encontro. Chorei por nós. Nós que o tempo deixou marcas no corpo e na alma.
Ainda posso sentir o calor da sua pele e as palpitações do seu coração nas tardes quando você descia as ladeiras desta cidade. Eu pensava que estivesse tendo alucinações. E como você chegava tão linda dentro de sua calça jeans e de sua bata branca de algodão. Todo o meu corpo desejava você naquelas tardes. E nos amávamos por toda a madrugada. Mas na manhã seguinte te deixava só. Ia embora tal qual um autômato que não sabe o que dizer quando se vê humano.
Hoje ainda continuo assim. Talvez um pedaço de mim tenha ficado com você. E te garanto que toda você ficou em mim. E você é o melhor de mim.
Não sei se terei coragem para desfazer todo o enovelado da minha vida. E já posso te ouvir argumentando o que nos disse Guimarães Rosa, "de sofrer e de amar, a gente não se desfaz". Mas sou pedra e não consigo me fazer água. Apenas lágrimas.
Agora, escutando Mercedes de Sosa, volto aos dezessete.
Perdoe-me por deixar-me sem ti.
Abraços
Teu eterno amor
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