segunda-feira, 12 de março de 2018

Crônica: Dia de Mulheres


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A Oficina de Escrita desta semana nos deixou como dever de casa uma poesia, um conto, um poema ou qualquer outra escrita, desde que falasse da Mulher. Fiquei com tal “dever” na cabeça. Eu não sei fazer poesias, apenas me atrevo. Assim como me atreverei a escrever este texto sobre o meu dia de hoje, que antecede o 8 de Março.


Muito trabalho durante todo o dia. Vários telefonemas no meu celular novo que me deu ainda mais trabalho pois não sabia usá-lo nem para receber ou fazer ligações. A secretária da minha colega, ao lado, me ajudou a decifrá-lo.

Ainda pela manhã uma mulher, vizinha do meu chalé, telefona pedindo ajuda para um parente que vem adoentado e piorando nos últimos tempos. Quis ajuda-la e tentei fazê-lo. E meu celular novinho parou de fazer e receber ligações de novo. Deixei-o em repouso.

No final do dia deveria chegar em casa e receber os familiares do homem adoentado para mais orientações mas, assim que acabei de chegar e coar um café forte, chega outra vizinha pedindo ajuda para alívio de sua dor pois fora “sapecada” por uma “porquinho”, a violenta lagarta da espécie “lonomia” cujo veneno é muito tóxico.

-” Vamos para o hospital agora!”

Era eu e meu desespero. E, mais uma vez, alerto a minha vizinha amiga que, caso eu seja sapecada por uma danada destas, ela terá apenas alguns minutos para me levar até um PA dadas as minhas alergias por picadas de insetos e animais peçonhentos. E temo não sobreviver. Esta sou eu dramática de verdade.

Lá fui eu e minha amiga chorando de dor até o pequeno e improvisado PA da nossa cidadezinha. Esperamos até a enfermeira chamar para o acolhimento. E logo a profissional deu a prioridade conforme prevista no Protocolo de Manchester que vem sendo aplicado nas unidades de Pronto Atendimento. Fez a devida e importante notificação epidemiológica e levou-a até o médico de plantão. Eu fiquei na sala de espera no início daquela noite com uma gigante TV ligada na Rede Globo. Sem escutar, é claro.

Então pude observar o enorme cartaz ao lado da TV onde havia os nomes dos profissionais daquele plantão.

Para minha não surpresa todas eram mulheres, exceto o recepcionista e o motorista. Até então estava vago o lugar do nome do médico.

E minha amiga, será que ficará em observação? E eu ainda não conseguia fazer meu celular executar a primordial tarefa de fazer uma ligação. Apesar do calor infernal, das péssimas cenas das telenovelas, eu estava tranquila. Chegaria logo em casa e tomaria um tinto.

Entretanto a “sapecada” aparece e fala da doutora que a atendeu, com nome, com especialização dita, com carinho e competência. Orientou para não colocar nenhuma pomada ou creme sobre a pele. Mas passar qualquer gel que tiver em casa e raspar os pelos para evitar que eles entrem na pele e provoquem dor e o risco de toxicidade. Tomou uma injeção IM contra a dor e prescrição de mais analgésicos a cada seis horas.

Voltamos para nossa comunidade no pé da serra. Ela volta para casa e eu fico aqui agora, tentando dialogar com este aparelhinho de última geração. Eis que consegui. Liguei para meus filhos. Liguei para a outra vizinha e me tranquilizei pois ela seguiu as orientações e seu parente foi internado.

Agora, bem tarde da noite, é minha taça de vinho e este escrevinhador para falar das mulheres com quem convivi hoje. Médicas, secretárias, trabalhadoras domésticas, técnicas de enfermagem, donas de bar, cozinheiras. Todas nós enfeitando, decidindo, orientando, servindo e adocicando a vida deste planeta.

Parabéns para todas nós.

E, antes que a madrugada chegue, continuarei a leitura do livro sobre uma outra mulher. Essa que foi a sapeca da Domitila de Castro que humilhou e desonrou nossa primeira imperatriz do Brasil, Dona Carolina Josefa Leopoldina Francisca Fernanda de Habsburgo-Lorena.

Ah! Nós mulheres! Somos todas especiais e únicas.

07/03/2018


(*) Foto "Lonomia oblíqua"- Wikipédia


Tristeza: e, na noite de ontem, na cidade do Rio de Janeiro foi assassinada com nove tiros, quatro deles na cabeça, a vereadora MARIELLE FRANCO, 38 anos. Mulher, negra, mãe, referência na luta pelos direitos humanos, socióloga formada na PUC- Rio, tendo sido bolsista, e mestre em Administração Pública pela Universidade Federal Fluminense.
E o Brasil adormeceu muito mais pobre neste dia 14 de março, mês dedicado à mulher.
Salve Marielle Franco!

Um comentário:

  1. Marielle Franco, assassinato de uma mulher, uma mulher negra , que incomodava o poder, crime bárbaro, sem a menor vontade de apuração de responsabilidade deste lamentável e absurdo crime.

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