Ela voltou. Nem pensou na reviravolta que faria em sua vida. Simplesmente empacotou suas louças, panelas e livros. Arrumou um caminhão e mudou. Nem
ajeitou o coração. Faria o que lhe fosse necessário para acomodar os
destemperos que por ventura aparecessem.
A decisão viera depois de vários anos pensando nele. Um amor deixado num canto. Agora largou metade da sua vida na cidade distante e rumou de volta à sua rua. Filhos crescidos e desmamados. Sobrou apenas ela e suas lembranças.
A decisão viera depois de vários anos pensando nele. Um amor deixado num canto. Agora largou metade da sua vida na cidade distante e rumou de volta à sua rua. Filhos crescidos e desmamados. Sobrou apenas ela e suas lembranças.
Lá se foi a mulher madura com jeito de adolescente viver de
novo sua infância. Não sabia se estava feliz ou infeliz. Mas sentiu uma
tranquilidade escandalosa. Abriu sua casa aos vizinhos, aos parentes e aos
novos amigos.
Esperou que ele aparecesse por ali. Outros vieram. Ela nem deu bola. Continuava esperando pelo homem que amou a cada dia de sua vida.
Os meses passaram numa velocidade cruel. Ficou em roda de familiares, festas de Natal e réveillon. Logo o ano novo chegou. Então resolveu escrever uma carta como nos tempos antigos.
Foi aos Correios e deixou lá um pedaço de si. Esperou. Na semana seguinte a resposta.
Duas pequenas frases. Encantou-se com as palavras e nem percebeu que elas nada
diziam. Palavras vazias.
Chegou final de janeiro com noites mal dormidas. O calor, os
pensamentos, a desordem na casa eram as desculpas para aquilo que não conseguia
ver. Apenas seu corpo falava por ela. Passou a bordar. Passou a pintar. Até foi
para a cozinha e fez variadas gulodices. Começou a fazer longas caminhadas. Encontrou trabalho voluntário numa ONG, tarefa impensável até então. À noite
muitos cafés. Na verdade não queria dormir. Achava que perderia o resto de vida
que ainda tinha pela frente.
Mas, numa manhã, acordou mais inquieta que nos demais dias. Algo
aconteceu na sua cabeça. De repente sentiu uma forte dor no peito. Olhou em
torno e viu que tudo havia descolorido. Então certificou-se que não estava
enfartando. Eram outras as suas fortes dores. Compreendeu que seu coração sentiu a pontada de realidade que sua razão negava mostrar-lhe. Tivera um sonho naquela noite. Agora tudo ficou claro como se um raio partisse ao meio sua vida já pela metade.
-“Abaixe a bola!”
Estas foram as únicas palavras que ouviu no sonho.
Estas foram as únicas palavras que ouviu no sonho.
E, mais uma vez, Clara não sabia o que fazer para impedir que a bola caísse de vez.
03/02/2018
Nenhum comentário:
Postar um comentário