Hoje, terminada a Oficina de Escrita, saí sem esperar pelos amigos de toda semana. Entretanto, apesar do compromisso marcado, não contive o desejo de saborear a broinha de fubá e o café com leite de sempre. Encontrei uma única cadeira vazia. Arrisquei sentar-me nela mesmo sendo daquelas cadeiras de bar, mais altas, onde os pés ficam sem apoio no chão. Sinto tonteiras caso não tenha o solo como amparo para meu corpo.
Ao meu lado apenas mais uma cadeira onde pude encostar meus pés. Ali estava uma jovem vestida de preto, celular nas mãos e olhar distante. E, do outro lado, uma outra mulher de pé no balcão. Esta não tirava os olhos da primeira.
Percorri, dos olhos daquela, a direção do olhar e vi ao meu lado a jovem teclando seu celular. Estava desfalecida em lágrimas. Pude perceber muita angústia no seu rosto. Aquilo me inquietou. E a outra continuava de pé a olhar para ela.
Instintivamente perguntei se eu poderia ajudá-la. Ou se queria que eu chamasse alguém para acompanhá-la a algum lugar. Ela me olhou e agradeceu a preocupação. De repente ela me disse que havia perdido seu filho com apenas setenta e duas horas de vida. Fiquei sem palavras. Perguntei novamente se queria que eu chamasse algum familiar para levá-la para casa. "Meu marido já está vindo me buscar", disse ela.
"E como é o nome do seu filho?" Perguntei.
"Heitor", respondeu ela.
Então confessei-lhe do tanto que gosto desse nome por causa do grande herói e que tenho um sobrinho, de quem gosto muito, também com esse nome. Perguntei se ela conhecia a bela história do Heitor, personagem de Homero a quem ele chamava de "domador de cavalos". Ela balançou negativamente a cabeça. Então disse-lhe que fiquei encantada com a leitura da "Ilíada" e que Heitor foi o herói mais nobre e generoso de toda a cidade de Troia. Ele era muito amável e companheiro de sua esposa. Amava seus país e seu povo. Foi o maior e mais valente guerreiro de toda a guerra entre gregos e troianos.
"Certamente seu filho lutou pela vida com a bravura do herói que lhe deu o nome. Heitor é para sempre!", completei assim minha fala.
Ela, gentilmente, tentou esboçar um sorriso. Então pude ver que se acalmou com meu relato e entendeu a metáfora.
Perguntei-lhe seu nome. Ao ouvi-lo não pude conter um leve sorriso e brinquei dizendo que aquele nome era de uma deusa romana e que, portanto, todos estavam protegidos pelos heróis e pelos deuses.
Estava na minha hora. Não poderia ficar ali mais tempo.
No caminho minhas lágrimas caíram pelo pequeno Heitor.
Belo Horizonte
19/05/2018
Que sensibilidade e presença em expressar para acalmar uma alma em dor...
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