Num reino de faz-de-conta o povo escolheu como rei um cidadão desconhecido, mas que se dizia cidadão de bem. Ele asseverava querer mudar os rumos da história daquelas terras temendo que conquistadores invadissem o território uma vez que os últimos reis e rainhas haviam transformado o reino em uma moderna e rica nação.
Os povos estavam divididos quanto suas intenções.
Havia aqueles que, desde os tempos remotos, tiveram seus privilégios garantidos e suas riquezas que só aumentavam. Estes nada queriam mudar. Para eles que “tudo ficasse como dantes no castelo de Abrantes”.
Havia aqueles que ficavam à margem dessas riquezas e viviam das sobras daqueles.
Portanto tratava-se de um reino com grandes diferenças no tocante aos viveres de seu povo. Por isto que dentre estes últimos foi crescendo o desejo por melhores condições do viver. Não queriam mais apenas sobreviver de favores e à sombra dos ricos e poderosos.
Mas o rei escolhido não tinha inteligência, não tinha conhecimentos, nem sabedorias de vida. Ele só tinha filhos, esposas e um passado de militar atleta. Ah! Ele também adorava dormir durante reuniões importantes dentro e fora dos quarteis, pois as achava desinteressantes e sem valor.
Entretanto se os assuntos fossem sobre armas, principalmente aquelas de cano longo, ele despertava e dava opiniões. Achava que todos do reino deveriam tê-las em casa para se protegerem dos outros que também tinham armas. E foi assim que as matanças foram autorizadas no reino. Vale contar que essas armas eram tão caras que só os abastados tinham dinheiro para adquiri-las. Pois bem, mais uma vez os pobres e desvalidos seriam assassinados.
Embora mais da metade da população do reino dizia discordar de suas ações, ninguém entendia como um rei assim tão despreparado, tão claro e mau em suas intenções, odiado por todos os demais reinos, continuava reinando. Pior ainda, ninguém entendia como ainda era venerado por muitos como se fosse um messias enviado por um deus.
Deu-se que outro deus resolveu castigar os reinos da Terra e transformou um verme que só adoecia pequenos animais, em um potente verme que passou também a adoecer os humanos. Para tentar combater a doença provocada por este verme, todos os reis procuraram os grandes curandeiros e xamâs e, humildemente, pediram ajuda.
Os reinos estavam sendo devastados. Os súditos começaram a morrer em todos os reinos. Neste tempo resolveram se unir para um reino ajudar o outro em todas as formas e nos conhecimentos que cada um fosse adquirindo.
Os abraços foram proibidos pois o verme passava de pessoa a pessoa pelas respirações. E respirar foi ficando cada vez mais difícil. Os vermes entravam nos pulmões, sugavam todo o ar e deixavam as pessoas se afogarem na falta de ar.
A tragédia afetou todos os reinos. Era preciso que todas as pessoas se distanciassem umas das outras para se protegerem e protegessem aos outros.
Mas aquele rei malévolo nada respeitava e, desconsiderando os sábios curandeiros e xamâs, minimizou o verme que, descontrolado e raivoso, foi matando seus súditos, os que gostavam dele e os que não gostavam dele também.
O rei cismou que todos os doentes fossem tratados por uma erva medicinal de nome estranho embora os curandeiros alertassem acerca dos graves riscos que a tal erva poderia provocar, inclusive a morte. Mas o rei continuava esbravejando e indicando tal erva milagrosa para todos os seus súditos como se ele tivesse a sabedoria dos curandeiros e xamâs. Ele nada fêz para ajudar seu povo.
A partir de então o reino foi-se fechando em tristeza e abandono. Enquanto isto, o rei, seus familiares e amigos foram se tornando mais intolerantes, cruéis e, terrivelmente, amados por aqueles que o defendia mesmo sabendo de suas atitudes desbaratadas.
Mas eis que aparece uma cobra naja nos salões do castelo do rei e ele é picado por ela. Ninguém sabia como isto aconteceu uma vez que tal cobra altamente venenosa vivia apenas noutros reinos bem distantes.
O alvoroço tomou conta do reino. Os curandeiros foram chamados para salvar o rei. E, nas suas moralidades e benevolências, curandeiros e xamâs salvaramm o rei.
Depois deste fato, enquanto todos esperavam que o rei se humanizasse com a proximidade da morte ele, ao contrário, retorna às suas atividades ainda de forma mais cruel. Determinou que deixassem de oferecer água, alimentos e tratamentos para os povos que viviam no meio das matas do reino. “Eles devem morrer. Não prestam prá nada” cuspia o rei.
Foi nesse momento que um sábio que vivia naquelas terras do meio da floresta, sabendo do decreto e das palavras do rei, disse aos povos de todo o reino que observassem a natureza.
“Quando uma madeira vai crescendo no disforme de sua família, nada haverá de dar rumo certo a ela em direção ao sol. Ela há de vergar e viver na escuridão”.
Escutando aquele sábio, o povo percebeu que se fazia hora para que um novo rei fosse escolhido.
Então todo o reino se uniu para destituir aquele que fora o pior rei daquele imenso reino encantado chamado Brasil.
10/07/2020
Perfeito!! As suas palavras descreveram com muita perfeição o atual cenário que vivemos em nosso país. Tempos desafiadores, que vamos conseguir mudar. Compartilharei o seu texto com os meus alunos.
ResponderExcluirFiquei muito feliz com seu comentário e com o fato de você aproveitar a fábula com seus alunos. Grande abraço a você , seus filhos, aos alundos e toda a comunidade escolar. Te admiro e gosto muito de você. Abraços
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