segunda-feira, 16 de agosto de 2021

Primeira Oficina de Agosto

 


                     


Primeira oficina de agosto 2021

Abertura: Você teme o mês de agosto? Sim. Não. Por quê?

Resposta: Não temo o mês de agosto. Ao contrário, amo este mês tão cheio de mistérios e enigmas. Tudo nele vem montado nos ventos. Às vezes os ventos, apaixonados pelas brisas, nos trazem sussurros de amores.


Alongamento -1


Os Moinhos de vento sempre me encantaram. A descoberta da energia produzida por eles trouxe grandes benefícios para a humanidade. A misteriosa força dos ventos que os povos dos países baixos transformaram em sobrevivência contra as impiedosas marés do norte.

Entretanto é em Dom Quixote onde mais me inspiro nos "seus moinhos de vento". Ao enfrentá-los como seus inimigos internos, Dom Quixote, na verdade mata os horrores dilacerantes efetuados pelo amor à Dulcineia.

Sou como os ventos. Ora eles me destroem com sua fúria, ora eles me trazem vida com suas sementes.


Alongamento - 2
As cortinas de seda sempre enfeitaram as casas das madames. Eu adorava entrar naquelas casas para montar nos ventos e descobrir todos os segredos daquelas casas.


Alongamento - 3

Soltar papagaios sempre foi coisas de meninos. Meninas decentes não podiam fazer aquilo. Era prazer demais para uma menina que iria virar mulher. Então ela ficava vendo os papagaios nos ares do desbarrancado e sonhava com as mãos dos meninos bulinando as linhas do seu corpo.



Alongamento – 4


Ventos de agosto

O meu primeiro amor o vento levou. O vento levou o meu primeiro amor. Desde então viajo nos redemoinhos a procura dele. Um tal vento leste me disse que ele montou numa nuvem e foi para os Andes. Lá ele vivia brincando nas águas altas e geladas do lago Titicaca. Outro vento me segredou que, desiludido na vida, ele foi viver com os maoris numa exuberante ilha da Nova Zelândia. E hoje ele vive nas selvas com uma mulher encantadora de baleias.

Continuo procurando o meu primeiro amor. Agora menos que antes. Nos meses de agosto fico atenta. Vai que um vento forte me pegue desatenta e me leva prá lá. Não quero ver meu amor assim bem casado.

Outro dia. Ainda em agosto, tive o desgosto de saber que ele virou pai. Nasceu uma menina. Meu amor, disseram, endoideceu. A menina tinha os meus olhos e a minha pele. Acabaram me contando que ele entrou nos olhos dela. Perdeu-se de vez no olhar.

Atualmente ele vive pedindo aos deuses das matas neozelandesas que o transformem numa tempestade marítima e o devolvam para o seu primeiro amor.
Estou a esperar.


Maria do Rosário Nogueira Rivelli

15/08/2021

Observação: Sempre em gratidão com o poeta 
Ronald Claver, meu mestre das escritas.










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