sexta-feira, 10 de junho de 2022

Um tal pedreiro

 




Era apenas um menino. Por onde andavam seus sonhos ele bem o sabia. A menina da pele branquinha e dos olhos da cor de mel já havia tomado seu coração. Pensava nela enquanto misturava areia, cimento e água. Carregava o concreto com a mesma delicadeza com que a carregaria um dia. Trabalhava tanto que nem percebeu o tempo passado e a menina virado moça. Ele continuava miúdo, pobre e cheio de sonhos. Virou pedreiro. Parou os estudos. Ganhava dinheiro e guardava o que restava da ajuda em casa. A mãe precisava comprar comida e roupas para os filhos menores. O pai só Deus sabia por onde andava. Aparecia de vez em quando. Fazia mais um filho e desaparecia.

Rapaz agora continuava pensando na menina que já era mulher feita. Sabia onde morava e por onde andava. Formou o irmão abaixo dele. Deu-lhe um terno para a formatura. No convite o agradecimento ao irmão pedreiro. A mãe ainda carecia do dinheiro dele. O pai desaparecera de vez. O primeiro emprego do irmão veio logo e desonerou o mais velho que lhe fez um pedido. Queria voltar a estudar e ser engenheiro. Não lhe faltava inteligência, disciplina e sonhos. Aos trinta anos, no seu convite, agradeceu ao irmão que lhe custeou os estudos.

Seu amor que ainda ocupava os pensamentos aparecera um dia na sua casa. Fora convidada pelo irmão que lhe apresentara como namorada. Logo se casaram e ele fora o padrinho.

O menino pedreiro que se tornara engenheiro entrou para dentro de si. Enlouqueceu. Construiu uma casa sem portas e janelas e se concretou dentro dela.

Fotografia feita por Graciele Silva no fundo de sua casa. (Região do Funil - Mário Campos (M.G.)

10/06/2022

2 comentários:

  1. Uma história de amor e dor!! Emocionada ao ler esse conto lindo!!!

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  2. Parabéns, Rivelli. Excelente conto com final para refletir:
    “Ser doido ou doído?
    O sinal os diferencia
    A vida os iguala.
    Julizar Dantas”

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