sexta-feira, 10 de fevereiro de 2023

Conto: Querelas com um Pacífico

 



- “Por que seu nome é Pacífico?”

Nas minhas memórias de estudante de geografia do ginásio e do científico, você foi definido como algo cheio de terror, de monstros marinhos e de profundezas abissais. (Até me lembrei agora do National Kid, super-herói japonês que saía voando de dentro de você. Ele vinha proteger as crianças e o planeta Terra. Será que ele morava nas suas águas profundas?)

- “Por acaso você sempre foi assim, paradoxal, contraditório?”

Deveria ter outro nome. Talvez um nome que delatasse os terríveis animais marinhos que vagam por suas profundezas.

Pacífico coisa alguma!

Suas arraias assassinas espetam os homens e os matam com dores absurdas e hemorragias, cobras-dragões - essas foi meu neto quem me apresentou no seu videogame novo - seus tubarões-martelo devem martelar as presas até estraçalha-las, suas gigantescas orcas que derrubam até navios. Chega! Não quero mais saber de seus habitantes.

Ainda tem os maremotos! E as ondas gigantes! E as tsunamis engolindo cidades, vomitando seus destroços e suas populações!

- “Ah, Oceano Pacífico! Faça jus ao seu nome e aquiete-se! Por favor! Não vê que tem uma avó murchando de saudades do neto que foi morar numa de suas ilhas? Como conseguirei vencer todos esses temores de que me falam sobre você? Como voar em cima de suas águas escuras e aterrorizantes?”

- “Pois bem! Está decidido. Viajarei. E nem precisa mais mudar seu nome. O dicionário me disse que:

- Pacífico enquanto aquele que ama ou almeja a paz”


Assim também sou eu: uma mulher aguada que sempre ama e que morre de medo de contendas.

09/02/2023

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