Nasci no ano de 1957, numa
pequena cidade da Zona da Mata Mineira, Brás Pires, onde vivi meus primeiros
anos de vida, sendo a quinta filha nascida viva de uma família que teria mais
dois filhos vivos, depois de mim.
Assim como milhares de brasileiros nascidos naqueles anos cinquenta, filhos e filhas de famílias pobres, vivi no corpo e na alma privações substanciais.
Vi outras crianças morrendo de inanição e febre. Vi adultos morrendo de amarelão por parasitoses.
Vi pais chorando às escondidas pelos filhos jovens saindo de sua terra em busca de vidas melhores na tão grande São Paulo.
Vi crianças, jovens e adultos, acometidos por picadas de cobras venenosas, aranhas ou escorpiões, aguardando o "êxito letal" por falta de condições financeiras para o deslocamento até o soro salvador.
Chorei junto com os parentes cujos filhos, maridos, namorados ou mães foram exilados para Barbacena como loucos e, de lá, jamais voltaram.
Vi muita coisa triste... e chorei por todas essas coisas.
Não entendia porque tantas diferenças entre as pessoas. Umas muito ricas e outras muito pobres. Perguntava a Deus porque Ele, "Pai de Todos", tratava seus filhos de maneiras tão desiguais. Passei a brigar e desconfiar desse Pai.
Por tudo isso, desde cedo soube o que queria do meu país e me perguntava o que poderia fazer para minimizar tamanhos estragos.
Sonhava com uma sociedade com direitos iguais, com assistência à saúde para todos.
Então, acatando os conselhos do meu pai, decidi estudar. Era o caminho escolhido, embora quase impossível naqueles tempos.
Em Conselheiro Lafaiete (MG), para onde fui morar com meus pais, frequentei escolas públicas e vivi ao lado dos excluídos e oprimidos.
Já na Universidade, não suportei assistir crianças morrendo nas Santas Casas de Misericórdia ou Hospitais-Escola, separadas de seus pais. E pais não tendo dinheiro para enterrar seus filhos. Vi mulheres morrendo por infecções generalizadas após abortos realizados por "papa-anjos" ou por clínicas clandestinas.
Vi professores universitários perseguindo colegas por crenças religiosas, modos de vida e preferências sexuais
Ouvi a senha passada ao pé do ouvido na fila do restaurante universitário: “A Dita está debutando hoje. Ao meio-dia cantaremos para ela”.
Vi professores universitários perseguindo colegas por crenças religiosas, modos de vida e preferências sexuais
Ouvi a senha passada ao pé do ouvido na fila do restaurante universitário: “A Dita está debutando hoje. Ao meio-dia cantaremos para ela”.
Era o dia 31 de março de 1979, 15 anos do regime militar. O Exército já estava nas ruas. Nunca soube como cheguei em casa.
O tempo foi passando e eu cada dia entendendo menos, sobrevivendo às diferenças e atenta aos rumos do meu país.
Em 1980 trabalhei, enquanto estagiária bolsista no CHPB (Centro Hospitalar Psiquiátrico de Barbacena), e ali aprendi o que não deveria ser feito como assistência psiquiátrica aos portadores de doenças mentais.
"Os Porões da Loucura” deixaram marcas por todo o meu ser. Ali nasceu uma permanente, embora tímida, lutadora pelos direitos e tratamentos dignos às pessoas portadoras de sofrimentos mentais.
Neste mesmo ano assisti o nascimento de uma estrela que trazia em seu brilho tudo aquilo que eu sonhava
para o meu país. Fiquei encantada e abrilhantada. Mesmo que de longe.
A Constituição de 1988
não teve como não instituir o SUS com suas diretrizes de atendimento universal,
igualitário, regionalizado, hierárquico e integral. Era uma conquista da sociedade que vinha se organizando desde os longos anos sombrios da ditadura.
Em 1993 tive a honra
de participar do primeiro ano do primeiro governo de esquerda na cidade onde
ainda vivo, Betim – MG, e trabalhar na efetivação de políticas públicas e "ousar
implantar o SUS".
O Partido dos
Trabalhadores promoveu gigantescas transformações estruturais nas áreas de
habitação, segurança pública, transporte coletivo, educação e a mais completa
promoção à Saúde em sua competência
municipal. Esse governo estabeleceu um importante marco divisor na história político-administrativa de
Betim.
E Betim, ainda hoje, vem
sendo premiada por serviços implantados naquela gestão. Infelizmente, tenho assistido atualmente, o desmonte de vários destes projetos
com a administração do PSDB.
Devo dizer que não enriqueci nestes 33 anos de incansáveis trabalhos junto aos serviços públicos de saúde. As políticas salariais do estado, a cargo de governos de direita, e há 12 anos com o PSDB,
estancaram nossos salários com graves retrocessos nos Planos de Cargos,
Carreiras e Salários.
Entretanto, minha riqueza fora outra. Ganhei como cidadã brasileira, ajudando na construção de um país mais justo, humano, com possibilidades iguais e direito à assistência à Saúde conforme sonhei desde meus tempos de menina.
Certamente minha história não é
diferente daquela de milhões de brasileiras e brasileiros que votaram em Lula e em
DILMA, "sem medo de serem felizes" e com esperanças de um país mais justo e sem miséria.
Sou as várias DILMAs: do Nordeste, da Amazônia, do Centro-Oeste, do Sul, do Sudeste e das nossas Minas Gerais.
Para aqueles que ainda
não me conhecem, meu nome é Maria do Rosário Nogueira Rivelli, tenho 57 anos,
sou médica formada pela Faculdade de Medicina da UFJF, psiquiatra pelo Instituto Raul Soares -
FHEMIG e pós-graduada em Saúde Mental Pública pela Fundação Nacional de Saúde
em convênio com a Escola de Saúde Pública de Minas Gerais.
Atualmente aguardo tempo para me aposentar, com missão cumprida e alma lavada. Agora retomo meus estudos em psicanálise, onde aprendi que o sistema capitalista exclui os sujeitos de seus discursos.
Atualmente aguardo tempo para me aposentar, com missão cumprida e alma lavada. Agora retomo meus estudos em psicanálise, onde aprendi que o sistema capitalista exclui os sujeitos de seus discursos.
Para aqueles que me
conhecem, nada de novo senão minha alegria pela eleição de Pimentel (PT) para o
governo de Minas.
E para todos, a certeza de
que o povo brasileiro, assim como eu, desejamos continuar sonhando com nossa estrela chamada DILMA.
Abraços a todos.
Muito lindo de uma amiga médica.
ResponderExcluirLindo de uma amiga médica Maria Do Rosário Rivelli.
ResponderExcluirIsso é "é pra dizer que não falei das flores"?
ResponderExcluirJá havia lido, mas a oportunidade do momento não poderia ser outra.
Um abraço.
Olá sra quero lhe afirmar que Deus é misericordioso sempre com o ser humano, mas tem um grande detalhes na criacao Ele nos deu o livre arbítrio de fazer o que quiser na vida,se existe pessoas no mundo que passam necessidades com certeza a culpa não é Deus e sim por falta de conhecimento e o abuso dos governos. Respeito sua posição na política mas eu não sou a favor de nenhum partido e o PT LULA/DILMA muito menos,não rica sou trabalhadora e não faço parte da Elite. Abracos.
ResponderExcluirBelo relato histórico e de vida. Que mais pessoas como vc, reconheçam o legado do partido dos trabalhadores como mudança de paradigma de uma sociedade ainda exclusiva e segregada.
ResponderExcluirMaravilhoso relato!!! Encantada!!!
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