quarta-feira, 5 de outubro de 2016

A escrivaninha do meu pai

Meu pai nunca teve uma escrivaninha alta, se bem que teria desejado ter uma escrivaninha alta e, com certeza, iria querê-la de jacarandá. Ele era dado às palavras bonitas e aos números arábicos. Sua caligrafia era impecável e sua aritmética não tinha lugar para erros. Sabia toda a tabuada e se orgulhava das contas feitas de cabeça. Ainda se exibia nas provas dos "novesfora", coisa que eu nunca aprendi nem entendi. 

Da alta escrivaninha que meu pai não teve eu pegaria um avião e viajaria por seus atlas e seus países exóticos e desconhecidos. E é obvio que meu pai sempre estaria junto em nossas aventuras. Arranjaria nossos trajetos e se esbaldaria na cabine do piloto.

E a escrivaninha que meu pai não teve, teria várias gavetas. Numa delas ele guardaria aquele seu estojo de nogueira, dividido em três compartimentos iguais e acolchoados, e forrados com cetim verde. Ali dentro ficaria seu tesouro. A sua bela  flauta de madeira e aço inoxidável, presente da cunhada e professora de música,  dos seus tempos de adolescente. Em outra gaveta ele colocaria suas composições musicais e seus papéis relacionados ao coração.

Mas, a escrivaninha que meu pai iria mesmo gostar, teria que ter muitas outras gavetas. Seria necessário uma escrivaninha alta e grande para que ele pudesse guardar suas histórias, seus sorrisos, suas dores, suas alegrias e toda sua família que ele tanto amava.

04/10/2016

4 comentários:

  1. Olá!
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    1. Obrigada pelo convite. Já vou acessar o link e quero sim participar. Um abraço

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  2. Seu pai teve muito mais que uma alta escrivaninha.
    Teve uma grande escritora.

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  3. Que bonito, Rivelli! Parabéns!!!

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