sexta-feira, 28 de julho de 2017

Crônica: Mês de julho, meu amor

Leitores: peço-lhes licença hoje para falar da minha viagem ao interior de Minas Gerais. Convido-os a virem comigo através desta crônica. Um grande abraço a todos.
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Eu, que havia decidido não comemorar meu aniversário este ano, no início de julho, acabei improvisando um almoço com meus filhos e os vizinhos do meu sitio. Não estava pra festas.


O inferno astral pré aniversário já havia consumido com minhas noites e com todo meu interesse em apagar velinhas. Muitas velinhas. Estava deveras alheia a mim.

Os acontecimentos políticos recentes como as notícias de corrupção, os helicocas dos senadores famosos, a venda das emendas parlamentares, o desgoverno Temer, as decisões descabidas no judiciário, as reformas trabalhistas, a farsa da falência da previdência justificando uma reforma escandalosa e perversa ao trabalhador de fato levaram embora meu ânimo e meus créditos para um país de todos.

Pois bem, é meu aniversário... E logo eu que tanto amo receber meus familiares e amigos, não consegui organizar uma festa para mim. Chegou o dia. Trabalhei neste dia. E, por coincidências da vida, acabei atendendo uma mulher que aniversariava naquele mesmo dia. Acho então que somos "malungas" como se diz, em algumas nações africanas, àquelas que nascem no mesmo dia.
Ela estava, assim como eu, acabrunhada. Nos abraçamos no dia de nossos aniversários.

Enquanto eu ia saindo daqueles tempos de inferno astral, uma de minhas irmãs havia sugerido e já convocava todos para um encontro da família Nogueira Rivelli. E um grande alvoroço já tomava conta da grande família. O local escolhido fora aquela pequenina Brás Pires, cidade onde nascemos, nós os mais velhos. Logo entrei na dança e esqueci que havia esquecido do meu aniversário. Várias mensagens durante todos os dias enchiam nosso grupo do tal WhatsApp. Quem viria? Quantas pessoas já estavam confirmadas? Será que Tio Zeugênio virá de São Paulo? Quais dos filhos virão com ele? Virão de avião ou de carro? E Tio Nelsinho? Será que desta vez ele aparecerá? E Leandro com a esposa e o terceiro filho tão novinho? Tio Paulinho vem na sexta ou vai esperar o Filipe? E, certamente, minha irmã Maria das Graças, que adora listas e contar número de pessoas, já computava vinte e cinco familiares. Quantos somos hoje? Setenta e oito? Eu interrogava. E fui ficando feliz com cada confirmação. Mais ainda quando minhas filhas, meu filho e minha nora confirmaram e, obviamente, meu netinho de um ano e oito meses.

Sendo uma das primeiras a aceitar o convite ainda arrisquei a convidá-los para uma caminhada até a Fazenda do Porto. Nosso tão amado Porto. A risada foi geral no grupo. E é assim que todos brincam quando lembram de uma caminhada ecológica na fontinha onde, na infância, buscávamos água potável. Convidara todos os sobrinhos e meus filhos, crianças ainda, e lá fomos nós. Só não contava com os atoleiros ao redor das bicas d'água. E foram muitas mães a me xingarem pelos calçados, meias e bermudas cheias de barros. Mas a criançada jamais esqueceu de sua primeira e fantástica aventura numa caminhada ecológica.

Bem, o grupo organizador do encontro e todos os familiares estiveram bombando na internet já num pré encontro virtual. Ainda tímida ia conseguindo angariar adeptos para a tão fadada manhã de caminhada. E, a pedido de muitos, ela fora adiada para a manhã de sábado. Uma de nossas anfitriãs informou que seríamos recebidos, com um café da manhã, pelos primos de férias na fazenda.

Mochila nas costas, filtro solar, tênis, água e muita disposição para os seis quilômetros de curvas, morros e muita poeira, eram minhas recomendações. E quanto mais caminhantes, melhor.

Chegou o tão esperado final de semana. E justo naquele final de semana teria a banda do Skank com o vocalista, Samuel Rosa, aniversariando no mesmo dia de sua apresentação na Festa da Batata, tradicional naquela nossa cidade. A bela sobrinha neta, Sofia, e o também sobrinho neto, João Vitor, eram aniversariantes daquele mesmo dia.

Muitas emoções dominavam os corações de cada familiar que chegava das várias cidades de Minas e São Paulo. De tempo em tempo chegava um irmão ou sobrinho com seus filhos e seus jeitos. Quitandas, queijos, pães, doces, caldos, feijoada, etc e a loura gelada não faltaram durante todo nosso encontro.

Na manhã de sábado uma turma me acompanhou, cedo, na caminhada e outra ficou dormindo. Cada passo dado naqueles caminhos era a revivescência de outros tempos. A seca levou vários veios d'água que escorriam pelos barrancos e atravessavam em rasos riachos na direção do Rio Xopotó que margeava todo nosso trajeto. A mata fora devastada. Às vezes meus olhos marejavam daquelas águas ausentes. Entretanto a companhia da irmã, chefe do encontro e dona de constantes gargalhadas, do irmão bonitão e da esposa chique de São Paulo, foram a recompensa. Assim como fora nosso presente a gameleira bicentenária na várzea da fazenda que parecia desabrochar com nossa chegada pois estava deslumbrante na sua imensa copa verdejante.

As três primas Marias, assim como eu e minhas irmãs, nos esperavam com uma deliciosa mesa de fazenda cheia de broas de coalhada, biscoitos, roscas de mandioca, queijos frescos, sucos naturais e um saboroso café. O tio, como sempre calado e ressabiado, também quis participar daquele desjejum tão festivo. Houve até sessão de fotos.Dai a pouco, os dorminhocos e preguiçosos chegavam em seus carros. ficara combinado que eles nos dariam caronas para a volta. Meus joelhos, "bichados" não suportariam a volta a pé. Despedimos e voltamos para a hora marcada para nosso tão esperado encontro familiar.

Até agora ainda sinto os reflexos daquele momento. Minha danada pressão subindo, meu coração disparando.
Ao entrar na bela casa escolhida para o almoço eis que toda a família reunida canta os "Parabéns pra você". Todo o espaço estava decorado, todos os familiares olhando e sorrindo para mim. Eram meus sessenta anos.
Com direito a balões, bolo,doces, vela, canecas personalizadas e marca livros como lembranças. As filhas da minha irmã risonha e mandona juntamente com minhas filhas e todos os familiares organizaram minha festa de aniversário. Naquela hora segurei firme minhas lágrimas. Já agora elas rolam dos meus olhos e ofuscam meu olhar. Aprendi a caminhar, aprendi a nadar, amo os livros literários, contudo não aprendi a brincar ou dar gargalhadas. Os deveres vieram muito antes dos prazeres e me tomaram de mim. Quem sabe agora, aos sessenta anos, eu comece a brincar. E quem quiser aproveitar meus sorrisos que venham comigo. Várias outras caminhadas ecológicas estarão nos meus futuros projetos.

Finalizando agradeço a cada um dos sessenta e dois familiares presentes, dos treze amigos que estiveram comigo, das cozinheiras que tão bem temperaram minha festa e de todos que cantaram os parabéns para mim e que me abraçaram no nosso "grande encontro".
Muito obrigada.

4 comentários:

  1. Lindo texto, tia. Quisera eu estar presente pra fazer parte dessa festa. Um forte e carinhoso abraço da sua sobrinha (fisicamente) ausente.

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    1. Faltaram as duas afilhadas sobrinhas que tanto amo e admiro. Entretanto estiveram comigo sempre.

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  2. Adorei o seu conto, também faço aniversário em julho e vivi este inferno astral.

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    1. Você está anônimo aqui. Gostaria de se identificar? Obrigada pela leitura e pelo comentário e feliz aniversário p nós. Um abraço

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