terça-feira, 14 de novembro de 2017

OS JARDINS DA BABILÔNIA ESTÃO AQUI.



 “Meus passos caminham passos antigos de antigas geografias” e encontram os jardins da minha infância retratados nos jardins que ainda hoje encontramos nas pequenas cidades do interior de Minas. Estão lá, se vestem com roupagem nova e vigor na primavera, agradecendo as primeiras chuvas que adubam e fermentam a beleza que desabrocha em flor, e são um regalo para as borboletas e os beija-flores.

Vejo Dálias, os cachos de Rosas brancas, os Lampiões, as Alamandas amarelas, as Margaridas brancas, as Marias sem vergonha, as Açucenas, as Tertúlias, os Antúrios, as Violetas, as Damas da noite, as Trepadeiras, ou será as Bougainvílleas, um nome já afrancesado para que fique mais bonito.





Prestem atenção como são diferentes esses jardins e os jardins elaborados, que existem nas grandes cidades. Se ainda não o fizeram, façam-no na sua próxima viagem, observem a beleza ali presente. Emolduram uma paisagem que vai se perdendo no tempo. Resistem, antes de serem substituídos, pelo duro cimento, ou por outro tipo de jardim, mais moderno.

São jardins onde crescem flores diversas, a se aconchegarem, dividindo o mesmo espaço, embelezando uma modesta casa, sem se preocuparem se essa flor combina com aquela que está ao seu lado, mesmo quando já tenha existido um desentendimento entre elas, como a briga do cravo com a rosa debaixo de uma sacada.

São construídos por anos, feitos nas pequenas trocas do viver: a muda de flor dada pela vizinha, ou aquela que trouxeram quando de uma visita a um parente distante. Contam uma história daquele lugar, daquela casa e de seus encontros. São jardins de muitas flores e muitas cores, feitos numa estética do afeto, de relações também construídas no tempo e devagar, onde, eles estão a me lembrar de um tempo e espaço também construídos em mim.





E assim vão sendo sustentados na beleza simples do afeto compartilhado, que encanta os olhos e não numa estética submetida à avaliação de especialistas em paisagismo ou jardinagem.

Estou com saudade dos jardins da minha infância. Não tem a beleza deslumbrante e reconhecida dos jardins de Burle Marx e nem a dos jardins suspensos da Babilônia, mas debruçam sobre mim, sem provocar dor, e sem pesar meus ombros ou meu coração. Estão lá, ocupando um espaço visitado e revisitado, a cada encontro real e concreto, numa viagem, ou em meus devaneios.

São cores e odores ainda a colorir e perfumar minha alma. É primavera.




Maria José Birro Costa*

*Maria José é minha colega na Oficina de Escritas em Belo Horizonte. Uma grande escritora.
Imagens exclusivas cedidas por Nalzira Santos, uma amiga virtual da cidade de Dores do Indaiá - MG.
Agradeço às duas a possibilidade dessa publicação.

3 comentários:

  1. Lindo e doce esse texto... me fez lembrar o jardim da casa da minha avó paterna... suas rosas sempre chamavam minha atenção. Parabens!

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  2. Lindo o texto! Parabéns Maria José, muito sentimento na alma. Relembrei minha infância também, o jardin da casa da fazenda onde nasce. Obrigada

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  3. Que bacana!!! Também adoro jardins desse estilo, ou seja, sem estilo nenhum...

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