domingo, 28 de janeiro de 2018

Crônica: Da Oxalis hedysaroides rubra

    


-Já te pedi uma vez, mas você não deu importância. Você conhece o nome vulgar da Oxalis hedysaroides rubra? Esta planta tem um significado muito importante para mim.

Esta foi a pergunta feita ao colega de turma que hoje vive noutra cidade e que vem se tornando um grande conhecedor da flora brasileira. Além de cultivar várias plantas em seu imenso jardim.

Nos tempos de faculdade, Tiãozinho era um esmirrado jovem, sem belezas atrativas, dono de uma ansiedade que brotava de todos os seus músculos, pingando em gotas na pele mas, paradoxalmente, tinha o maior e mais suave sorriso de toda a gigantesca turma. Era um colega com entrada fácil nos vários grupos de afins, sem distinção de nomes, sexo, religião ou opção política. Era simplesmente o “Tiãozinho”.

O perguntador do nome da flor era diferente. Esbanjava glamour, cabelos sempre bem penteados e aparados, óculos dentro da moda, de pouca conversa e de muito pouco humor. Certamente seu jeito ácido de lidar com todos era uma defesa contra sua ansiedade que não brotava em gotas, mas em palavras.

-Se você vir aqui levará uma muda da sua flor.

Fernando logo respondeu que daria um jeito de ir e que traria tal planta.

Entre um e outro, além das distancias geográficas, há o tempo de quase quatro décadas.

A plantinha cujas folhas “rubras” lembram trevos e com pequeninas flores amarelas tem sido a ponte entre dois colegas dos distantes tempos de faculdade.





Tiãozinho especializou-se em pneumologia, casou-se ainda durante o curso de medicina, fez história enquanto um grande médico em sua cidade e aprendeu a gostar de flores. Talvez porque elas respirassem beleza e harmonia.

Fernando sabe-se que trabalhou em várias cidades do Brasil, inclusive em Ouro Preto. Atualmente reside na capital mineira. C
asou, teve filhas, separou e poetizou pela vida.

-"A mais comum no Brasil é esta. E ela tem flores brancas e as folhas não tem formato de trevo."

Assim respondeu nosso botânico- médico- pneumologista sem deixar de enviar também a foto da tal plantinha brasileira.


-"Lamento te informar, mas tô falando daquela que tem as flores amarelas e folhas arroxeadas e em forma de trevo."

De novo o questionador do nome e da muda. Contou ao colega acerca da importância afetiva que a planta tinha para ele. A mãe, por não saber o nome da referida planta, a chamava de Felicidade.

-"Eu tenho a de flores brancas."

Era uma terceira pessoa que acompanhava a conversa floral, obviamente pelo ZapZap, e resolveu dar um pitaco. Ângela, entretanto, já havia sido citada pelo plantador de flores, que queria saber por onde ela andava naquela hora.

-"Tô aqui acompanhando este tratado de botânica."

Trata-se de um grupo menor que se formou a partir de outro grupo bem maior com propósito de programar e organizar pequenas viagens. Aqui estão poucos colegas e, Ângela, sempre fora muito querida por todos. Especializada inicialmente em Saúde Pública teve grande importância na implantação do SUS no Vale do Jequitinhonha. Depois foi aliciada pela psiquiatria e pela vida acadêmica. Hoje mestre em Saúde Mental Pública, escritora e poeta.

-"Um dia escrevi um poeminha sobre esta planta. Esqueci na minha mesa. Minha filha, ainda criança, pegou e leu".

Fernando contou a respeito dessa filha, hoje poeta, escritora e tradutora de livros de língua inglesa. Atualmente morando na Inglaterra.

-"Eu achei que essa flor era da cor salmão".

Francisco Vicente também estava por ali. Alma gêmea do amigo e colega Vicente Francisco, dois desarranjados e excelentes médicos da cabeça e do coração. Amigos das viagens e das alegrias. Amantes de boa música e escritores de causos do cotidiano.

Por fim todos já estavam convidados para conhecer o sítio de Tiãozinho.

Fernando, o caustico e poeta, Ângela, a psiquiatra, mestra e escritora, Francisco Vicente e Vicente Francisco, os irmãos gêmeos, Soledade a colega pediatra metade canadense e eu, colega bisbilhoteira e, ora, escrevinhadora desta crônica, jamais deixaremos de ir ao encontro dessa Avenca Roxa e trazer uma muda desta tal Felicidade.



21/09/2017


4 comentários:

  1. Gostaria de conhecer também, a planta chamada felicidade ,ela encantou meus olhos

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  2. Quem sabe se você fechar os olhos e se imaginar rodeada por estas singelas plantinhas coloridas. Assim, nesta noite da natividade você se vê iluminada. Abraços

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  3. Amei a crônica! Parabéns! Me senti parte deste grupo de amantes da natureza em nisso cotidiano

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    1. Obrigada Cibele por seu comentário tão carinhoso e continuemos viajando pelos espaços possíveis neste momento adverso. Abraços

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