terça-feira, 7 de agosto de 2018

“Rosa nos Tempos” - Ruas e Relatos da Rivelli


A crônica abaixo foi escrita por um grande colega e lida durante a Oficina de Escrita ministrada pelo poeta mineiro,Ronald Claver, da qual venho participando há dois anos.
"Tião" como o chamamos, me deu a honra de sua presença no lançamento do meu livro no Hospital Galba Veloso - FHEMIG - Belo Horizonte - onde trabalhei como psiquiatra plantonista na "Urgência" até minha aposentadoria em 2016.


ROSA NOS TEMPOS

Maio nos traz os ventos de agosto da nossa colega Rivelli em seu delicioso livro “Rosa nos Tempos” e nos faz viajar pelas ruas da sua infância, seus laços familiares, suas memórias de encanto. Bando de crianças, familiares, vizinhos, personagens característicos do vilarejo saem de suas páginas e passam a povoar a mente do leitor. 
Como Proust em busca do tempo perdido, ela passeia por esse território levada pelo vento no fundo do quintal, balanço das folhas das árvores, a horta, os canteiros, os muros que dividiam as casas, as flores. A rosa naqueles tempos, a roda viva, as ruas, os rios da memória.
      
A capa mostra uma rua de casas antigas, emendadas, cheias de janelas e portas, próximas das calçadas, muitas gente na rua, chão batido. Foto amarelecida, vinda da rosa dos tempos. Uma procissão de pessoas simples em seus trajes domingueiros. Uma festa religiosa para a qual convergiam todas as atenções, Minas e sua tradição. Era quando as pessoas largavam sua dura lida com a terra, a dureza do dia a dia e iam comemorar junto à família, aos vizinhos e às possibilidades que o amor oferecia. Justificando até a odisseia com a amiga no final do livro, entre caronas e ataque de abelhas, o olhar zangão da mulher do motorista, a autora já universitária em Juiz de Fora. Com a bênção de Deus, de Nossa Senhora do Rosário, a aura do tio padre, a proteção da tia e de todos os santos invocados nesse livro encantador.
     
Em linguagem simples e agradável, Rivelli vai desfiando as fotos, as lembranças junto à poeira vermelha da rua cantada no livro, das ruas da sua Brás Pires, das novas ruas no rio da sua vida. Fala da família com carinho de quem foi pobre e feliz, com os cuidados delicados do pai e da diligência constante da mãe, enfrentando dificuldades, doenças e escorpiões no caminho dos tempos.
     
Apresenta personagens únicos e que ficam na nossa imaginação já delineados. Como não excitar a curiosidade diante do Caxotim, que mesmo já adulto, não ousa confessar à irmã a origem do seu apelido? Impagável o atirador das estrelas, o louco depois de sugar os seios deliciosos da mulher do soldado, os vizinhos e suas excentricidades, o menino doente. Estava ali o gérmen da futura psiquiatra, curiosa e solidária com o asilo no fim da rua, a vizinha de manias e falas, a jovem filha de louca e sua gravidez, os cães Rex e Sultão em suas lutas e majestades.
      
Um livro carregado de humanidade. Talvez carente de melhor revisão na sua escrita, mas isso torna suas histórias mais próximas, como um causo a ser compartilhado. Como memórias sempre reescritas, espontâneas em sua simplicidade.
    
Em agosto, os meninos soltavam pipas ao vento, a menina tentava e, quando não conseguia, divertia-se também com seus recados no ar, bilhetinhos amorosos, fantasias. Agora, espalha a poeira divertida e amorosa de uma infância feliz, cheia de quintais e compaixão.  Nas páginas do livro, uma procissão de personagens e histórias. De lembranças. Essa rosa nos tempos de antes, do meio e do agora.
                                            
                                         Sebastião Aimone Braga
                                            Maio / 2018                         

                                             sebastiaoaimone@gmail.com

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